Armadilhas nos parquinhos públicos

Nove dos dez playgrounds de parques estaduais e municipais visitados pela reportagem oferecem risco às crianças

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Por Daniel Gonzales
Atualização:

Brincar nos parquinhos instalados em parques públicos da capital não é totalmente seguro para as crianças. Malconservados, sujos e com pisos inadequados, os brinquedos requerem vigilância redobrada dos pais ou responsáveis para não virarem armadilhas. Ciente dessa situação, a Secretaria Municipal de Verde e Meio Ambiente prepara uma grande licitação para a troca de mais de 16 tipos de brinquedos nos 33 parques municipais, o que deve levar de seis a oito meses. Valores ainda dependem da finalização do edital. A reportagem visitou dez parques - Água Branca, Piqueri, Carmo, Aclimação, Ibirapuera, Trote e Linear de Sapopemba, municipais, e Villa Lobos, Horto Florestal e Independência, estaduais. Nove apresentam vários tipos de problemas. A única exceção foi o Parque do Trote, na Vila Guilherme, zona norte, não porque os brinquedos estivessem adequados: o local simplesmente não tem parte dos equipamentos, que ficavam perto da entrada. Os antigos, doados, estavam tão estragados que tiveram de ser retirados. Já no Parque do Ibirapuera, o mais visitado da cidade, onde circulam 130 mil pessoas nos fins de semana, duas gangorras estão sem os assentos e com pregos enferrujados expostos. Em outra, um "jeitinho": a gangorra também está com a madeira exposta e rachada, mas os pregos foram martelados. Parte dos balanços, quebrados, estava interditada com uma fita plástica, que foi levada pela chuva na semana passada. Assim, os brinquedos, tortos e enferrujados, podem ser usados por qualquer um. No Parque Estadual Fernando Costa (Água Branca), em Perdizes, que pertence à Secretaria Estadual de Agricultura e sedia vários órgãos estaduais, os brinquedos "nadam" em uma piscina de terra dura e pedras. Estão enferrujados, soltando lascas de madeira e quebrados em meio à sujeira. Embaixo do balanço, onde deveria haver areia ou grama, só barro - um convite para acidentes. Já no Parque do Piqueri, no Tatuapé, zona leste, os brinquedos estão tão antigos e abandonados que alguns têm teias de aranha. São apenas alguns (maus) exemplos. "A grande maioria dos acidentes em parques é relacionada a quedas", diz Ingrid Stammer, coordenadora de projetos da ONG Criança Segura. As quedas, diz a coordenadora, representam 55% das hospitalizações de crianças de até 14 anos. Por ano, segundo o Ministério da Saúde, ocorrem no País 6 mil mortes e 140 mil internações, nessa faixa etária. Nos playgrounds, os principais perigos são brinquedos com mais de 1,5 metro de altura - "onde a chance de acidentes é quatro vezes maior", segundo Ingrid - ou em solo inadequado. No Parque Villa Lobos (zona sul), que é estadual, por exemplo, os brinquedos são novos, mas parte deles está sob piso de concreto. O solo, em hipótese alguma, pode ser duro. "Deve ser grama, areia fofa, terra não compactada ou emborrachado, para absorver os impactos", afirma Fabio Namiki, coordenador da Comissão de Estudos de Segurança em Brinquedos da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Outra falha grave, segundo ele, é a ausência de barreiras de segurança em torno dos balanços. Previstas nas normas, servem para impedir que crianças passem perto desses brinquedos e sejam atingidas. Nenhum dos parques, porém, tem o equipamento.

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