Arselino Tatto é eleito presidente da Câmara Municipal de SP

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Por Agencia Estado
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Em uma sessão tumultuada, em que não faltaram ameaças de agressão física, bate-boca e insultos entre colegas, o vereador Arselino Tatto (PT) foi eleito hoje o novo presidente da Câmara Municipal. Candidato oficial do Palácio das Indústrias, Tatto, que é processado pelo Ministério Público Estadual e está com os bens bloqueados pela Justiça, teve 29 votos, apenas um a mais do necessário para eleger-se. O candidato derrotado, Antonio Carlos Rodrigues (PL), teve 25 votos e já anunciou que vai para a oposição. Também foi eleita a nova Mesa Diretora, que vai tomar posse no dia 1.º de janeiro. A composição será a seguinte: Jooji Hato (PMDB) será o primeiro-vice-presidente; Claúdio Fonseca (PC do B), o segundo-vice-presidente; Celso Cardoso (PFL) será o primeiro-secretário; e Myryam Athiê (PMDB) assumirá a segunda secretaria. Os dois suplentes eleitos são Eliseu Gabriel (PDT) e Edivaldo Estima (sem partido). A composição da Mesa reflete a ampla articulação política feita pelo grupo de Tatto para conquistar a presidência já que, até a semana passada, Rodrigues era considerado o candidato favorito. Os vereadores Eliseu Gabriel e Edivaldo Estima foram considerados "traidores" pelo grupo de Rodrigues, pois mudaram seu voto há poucos dias e praticamente consolidaram a derrota da chapa de oposição. A vereadora e deputada estadual eleita Havanir Nimtz (Prona), que também votaria em Rodrigues, não compareceu à eleição. Segundo os colegas, ela teria sido ameaçada pelo grupo vitorioso de perder seu mandato por causa das denúncias contra ela que estão sendo investigadas por uma comissão de sindicância na Câmara. A sessão começou às 10 horas e foi tensa do começo ao fim. Os principais alvos eram Estima, Gabriel e Humberto Martins (PDT), acusados de traição. Um tumulto ocorreu logo após Gabriel ter declarado seu voto a Tatto. Roberto Trípoli (PSDB) ameaçou agredir o pedetista e a confusão só não foi generalizada porque vários vereadores apartaram a briga. "Será que seu filho vai ser traidor como você, Estima?", perguntou Wadih Mutran (PPB), referindo-se a Fernando Estima (PL), primeiro suplente a uma vaga na Câmara dos Deputados. "Você vai se encontrar comigo", ameaçou Toninho Paiva (PL), dirigindo-se a Estima. O vereador procurou justificar seu voto afirmando que tinha assinado duas listas, a de Tatto e Rodrigues, para decidir seu voto. Perguntado se ganhou algum cargo para votar com o governo, Estima foi irônico: "Se me derem algum ministério eu aceito." Ameaças Diante do clima, Gabriel rompeu o silêncio e afirmou que foi agredido pelos colegas na quinta-feira, quando um grupo de vereadores ligados a Rodrigues invadiu seu gabinete de forma violenta. "Fui ameaçado de morte pelo Rodrigues, que disse que eu não ia viver se não votasse nele", acusou. Ele também afirmou que, na ocasião, sofreu várias agressões físicas dos colegas. "Na sexta-feira eu registrei um boletim de ocorrência no 1.º Distrito Policial e vou processá-los na Justiça", afirmou Gabriel, dizendo ter recebido chutes, socos e xingamentos de Rodrigues e do grupo. Os acusados negam as agressões. "Eu o desafio a fazer um exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal", disse Mutran. Durante o processo, também não faltaram denúncias de distribuição de cargos para conquista de votos para Tatto. Mutran afirmou que Tatto lhe ofereceu dois cargos na subprefeitura da Vila Maria, seu reduto eleitoral. Na semana passada, Salim Curiati Júnior (PPB) já tinha afirmado que o líder do governo na Câmara, José Mentor (PT), o tinha procurado oferecendo postos na Secretaria Municipal dos Transportes e vagas na nova Mesa. Tatto e Mentor negaram as acusações e afirmaram que não houve interferência do Executivo em todo o processo eleitoral. Também não faltaram momentos pitorescos em meio à tensão. Na hora de declarar seu voto, Carlos Giannazi (suspenso pelo PT) pediu silêncio e afirmou: "Quero chamar a atenção de todos para o trabalho escravo dos motoristas de frotas de táxi." O vereador apóia o projeto do Executivo que extingue as frotas e está para ser votado. Todos deram risada em um dos raros momentos de descontração. Votações A partir de amanhã, os aliados da prefeita Marta Suplicy (PT) começam o trabalho de tentar recompor a base governista. Por causa do resultado de hoje, o Executivo pode ter dificuldades para aprovação de projetos importantes até o fim do ano, como o orçamento de 2003, as alterações no Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), a taxa do lixo e as alterações nas alíquotas do Imposto sobre Serviços (ISS). "Eles vão encontrar umas pedrinhas no caminho para aprovar esses projetos", anunciou Rodrigues. Uma das estratégias é tentar retardar o andamento dos projetos nas comissões permanentes, apertando ainda mais o calendário, já que as novas propostas tributárias têm de ser votadas até o dia 31. Mentor afirma que vai começar a conversar com todas as bancadas para evitar obstrução da pauta. "Vamos conversar com todo o grupo de Rodrigues, que sempre nos ajudou muito na provação de projetos", disse Mentor. Uma das hipóteses é acelerar a votação dos projetos prioritários até o fim do ano. Os demais ficariam para serem analisados em janeiro, o que pode comprometer o recesso parlamentar. Família A eleição de Tatto consolida o poder de sua família no governo municipal e a ascensão do grupo no próprio PT. O irmão de Arselino, o secretário municipal Jilmar Tatto, acumula duas importantes secretarias municipais, a dos Transportes e de Implementação das Subprefeituras. O outro irmão, Enio Tatto, foi eleito deputado estadual pelo PT na próxima legislatura. Com uma trajetória política baseada na região da Capela do Socorro, na zona sul, a ascensão dos Tatto começou na administração da ex-prefeita Luiza Erundina (PSB, então no PT), quando eles tinham forte interferência política na Administração Regional da Capela do Socorro. Desde então, o grupo tem tido grande ascensão política e exercem grande poder de influência sobre o Executivo. O crescimento político dos Tatto, segundo apurou o Estado, tem preocupado o próprio núcleo do poder ligado ao Secretário do Governo Municipal, Rui Falcão, que, inclusive, não estaria se dedicando de forma plena para eleger o petista presidente da Câmara. A informação é negada pelo líder do governo na Câmara, José Mentor (PT), um dos principais articuladores da candidatura governista. Entretanto, a eleição de Tatto era um compromisso da prefeita Marta Suplicy (PT) com o vereador firmado no ano passado. Na ocasião, o atual presidente da Casa, José Eduardo Cardozo (PT), foi reeleito após interferência da alta cúpula do PT no assunto. Na ocasião, Marta teria se comprometido com Arselino, que também queria ser candidato à presidência pelo partido, que iria trabalhar para que este ano o cargo fosse dele. Havanir A vereadora e deputada estadual eleita, Havanir Nimtz (Prona), pode sofrer uma comissão processaste na Câmara Municipal e perder o seu mandato de vereadora. A comissão de sindicância que apura as denúncias contra a vereadora concluiu que "há fortes indícios de irregularidade" e vai propor a continuação das investigações. Com isso, abre-se o caminho para abertura de uma comissão que pode cassar o mandato de Havanir. As informações foram reveladas pelo relator da comissão de sindicância, vereador Milton Leite (PMDB), que já concluiu o relatório sobre o processo. Havanir é acusada de vender vagas na legenda do Prona nas últimas eleições. O relatório ainda tem de ser aprovado pelos membros da comissão. Segundo Leite, o texto conclui que os indícios são fortes e vai propor que as denúncias sejam investigadas de forma mais profunda. "Nosso trabalho foi baseado apenas em depoimentos", disse Leite, que vai distribuir cópias do relatório para os colegas. Ele citou vários fatos considerados graves. Entre eles, o depoimento da vereadora no qual admite que cheques das cartilhas do Prona vendidas na época da eleição podem ter ido parar em sua conta pessoal. Caso o relatório seja aprovado, os vereadores podem decidir pela abertura de uma comissão processaste, que teria poder para propor a cassação do mandato da vereadora. O conteúdo do relatório foi divulgado por Leite hoje, durante a eleição para a nova Mesa Diretora da Câmara Municipal. Havanir, que tinha se comprometido a votar na chapa da oposição, não apareceu na Câmara. Segundo seus colegas, ela teria sido ameaçada pelos vereadores do PT. Na versão apresentada pelos integrantes de oposição ao vereador Arselino Tatto (PT), que ganhou a eleição, Havanir teria sido ameaçada por vereadores do PT de lutarem pela cassação do seu mandato, caso votasse em Antonio Carlos Rodrigues (PL). Os petistas negam qualquer tipo de interferência no processo. Havanir tem evitado falar com a imprensa nas últimas semanas. Ontem, ela não foi localizada pela reportagem do Estado.

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