As cores do carnaval brasileiro na Floresta Amazônica

Tradição começou em comunidades pesqueiras no interior paraenses; festa tem influência do teatro

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Por Raimundo Paccó
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CAMETÁ (PA) -Bem longe das conhecidas festas do Rio, Salvador, Recife e São Paulo, um carnaval diferente faz a sua história na folia brasileira. Em Cametá, no interior paraense, centenas de participantes navegam as águas do rio Tocantins, na região amazônica, com fantasias e máscaras coloridas. 

'Carnaval das águas'começou há 87 anos. Foto: Raimundo Paccó/EFE

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Nesse sábado, 22, as cores invadiram a pequena cidade de Cametá, que tem pouco mais de 100 mil habitantes. O chamado "Carnaval das Águas" começou há 87 anos nas comunidades pesqueiras de Cametá, onde cerca de vinte pessoas atravessam os rios a bordo de pequenos barcos de madeira. 

Lá, as cores quentes e vibrantes das fantasias se misturam com o marrom das águas e o verde intenso da floresta que protege os rios. O local conta com diversos tipos de animais, incluindo botos cor-de-rosa, um dos grandes símbolos da Amazônia.

Festa faz parte do cotidiano das pessoas que vivem em comunidades ribeirinhas. Foto: Raimundo Paccó/EFE

"Viemos de Belém e é a primeira vez que estamos aqui. É impressionante ver a riqueza cultural e ver a comunidade fazendo tudo à mão. É uma dedicação de um ano inteiro. É um trabalho muito elaborado, manual", disse a fotógrafa de moda Raquel Sanches, de 24 anos. Para ela, as festas de carnaval de Cametá se diferem das outras por sua "performance", que "tem influências de teatro, cenografia e de vários segmentos misturados com muito carinho num carnaval muito bonito e autêntico ".Blocos urbanos são concorrência para folia tradicional

O "Carnaval das Águas", com quase um século de tradição, perde cada vez mais seguidores diante da presença dos pequenos 'blocos', famosos em metrópoles como São Paulo, Rio, Salvador e Recife, e que tem se multiplicado por todo o País, até mesmo na Amazônia remota.

As cores invadiram a pequena cidade de Cametá. Foto: Raimundo Paccó/EFE

O músico e compositor Mestre Vital, um dos septuagenários e líderes do "Carnaval das Águas", espera que a festa conviva com a modernidade dos 'blocos', impulsionados pelos mais jovens e que eles possam manter uma tradição que se consagrou como uma das riquezas culturais e do artesanato da Amazônia. De acordo com Mestre Vital, as festas carnavalescas de Cametá deveriam ter mais apoio do governo local, para preservar esse legado de comunidades pesqueiras da Amazônia e juntando-se às muitas vozes da região que pedem mais atenção aos problemas socioambientais do chamado 'pulmão' do planeta.

O 'Carnaval das Águas', com quase um século de tradição. Foto: Raimundo Paccó/EFE

"É muito interessante culturalmente, mas principalmente por causa da história de como (o 'Carnaval das Águas') faz parte do cotidiano das pessoas que vivem em comunidades ribeirinhas e acho que é muito forte a relação que eles têm com essa tradição", disse a publicitária Rafa Cardoso. Segundo ele, "existe uma preocupação muito grande em não deixar essa cultura morrer e não deixar essa tradição se perder"

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