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Assassinato de libanês pode ser acerto de contas

Por Agencia Estado
Atualização:

O assassinato do empresário libanês Mike Nassar e de sua mulher, Marie-Noelle, em São Paulo, na semana passada, parece estar relacionado com um acerto de contas de tipo mafioso que, entretanto, pode ter ramificações políticas no Oriente Médio, segundo fontes judiciárias e policiais de Beirute. Durante sua vida aventureira - e à imagem de seu protetor e amigo, Elie Hobeika, ex-chefe da milícia cristã das Forças Libanesas, assassinado há menos de dois meses num atentado à bomba - Mikhael Youssef Nassar multiplicou seus "bons negócios? com parceiros das mais diversas filiações, juntando uma fortuna considerável. Nassar era sobrinho do general Antoine Lahad, chefe do Exército do Sul do Líbano, uma milícia de fronteira equipada e treinada por Israel, e provavelmente teria usado esse laço de parentesco, em meados da década de 1980, para conseguir entrar no seio do núcleo dirigente das Forças Libanesas, comandadas na época por outro aliado privilegiado de Israel, Elie Hobeika. Durante a "era israelense", Nassar (provavelmente em parceria com Hobeika, que foi seu padrinho de casamento) entregou-se a operações de contrabando de mercadorias e ao tráfico de armas. Nassar lançou-se também em importantes investimentos imobiliários, tornando-se dono de alguns quilômetros de praias em Naqura, uma área limítrofe com Israel, onde estava localizado o quartel-general das Forças da ONU. Relacionado com esta área, foi discutido no Líbano um gigantesco projeto turístico, financiado por capitais americanos e israelenses, que previa a construção de um cassino e um complexo hoteleiro. Depois que foi instalada no Líbano a chamada "pax syriana" e todas as milícias foram intimadas a se dissolverem e se desfazerem de seus arsenais, Nassar encarregou-se de vender na Iugoslávia, no início dos anos 90, os armamentos das Forças Libanesas, e dizem que então surgiu um desacordo por ocasião da partilha dos lucros. Na mesma época, Nassar - que havia garantido para si uma participação de US$ 24 milhões na sociedade Solidere, criada pelo primeiro-ministro libanês Rafic Hariri para a reconstrução do centro de Beirute - foi envolvido numa operação de contrabando de cigarros na Romênia, mas valeu-se de suas boas relações para negociar a libertação de seu irmão Elias. Afinal, quem matou Mike Nassar e por quê? Como no caso de Hobeika, a lista de suspeitos parece ser tão longa que a resposta sem dúvida não será dada nos próximos dias.

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