Ataques continuam, boatos assustam paulistanos

O suposto acordo entre o Estado e o líder máximo do PCC, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, não interrompeu a onda de ataques

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Por Agencia Estado
Atualização:

O suposto acordo entre o Estado e o líder máximo do Primeiro Comando da Capital (PCC), Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, não interrompeu a onda de ataques deflagrada na última sexta-feira, 12. No início da noite de quarta-feira, 17, a população voltou a ficar em pânico com os boatos de que a facção criminosa que atua dentro e fora dos presídios retomaria os ataques em todo o Estado. Cinco ônibus foram queimados e um batalhão da Polícia Militar foi atacado, enquanto os boatos se espalharam. Foi o que bastou para causar medo novamente na população. O Aeroporto Internacional de Guarulhos teve a segurança reforçada pela Aeronáutica e universidades suspenderam aulas. A Viação Consórcio 7 de Ônibus, que atua na zona sul de São Paulo, recolheu os veículos para evitar mais perdas. Perueiros aproveitaram-se do momento e pagaram um bandido para queimar ônibus na zona norte. Por trás desse novo pânico, houve muita desinformação. O principal boato dizia que "haviam matado a mãe do Marcola", o líder do PCC. O boato também assumiu outras formas como "mataram o irmão do Marcola ou assassinaram a cunhada do Marcola". O boato dizia que, por causa disso, a facção criminosa ia retomar os ataques. "A tendência da situação é de estabilidade", disse o delegado-geral Marco Antônio Desgualdo, que tentava acalmar a população às 18 horas. Ataques Cinco ônibus foram incendiados - quatro na zona sul e um na zona norte. Este último, ocorrido no Jardim Japão, sem relações com o PCC. Uma lotação também foi incendiada. A polícia prendeu o assaltante Rodrigo Melo Farias, de 20 anos. Ele ateou fogo em um veículo da empresa Sambaíba, que fazia a linha Parque Edu Chaves-Vila Madalena. Farias contou que havia recebido de perueiros R$ 3 mil para incendiar 3 ônibus. Na zona sul, outros quatro coletivos da linha 675 K (Jardim Nakamura-Metrô Santa Cruz) foram incendiados. O comércio da localidade fechou e poucos moradores caminhavam nas ruas. Uma informação divulgada pelo Corpo de Bombeiros de que um ônibus havia sido queimado na zona leste, na Avenida São Miguel, na região da Vila Marieta não foi confirmada. Segundo policiais militares, os autores do atentado, supostamente ligados ao PCC, atearam fogo nos ônibus usando gasolina e fugiram para o interior de uma favela. Pelo menos 10 equipes da PM percorreram as ruas da Riviera e do Jardim Angela, bairro vizinho, em busca dos suspeitos. Em algumas ruas desertas os policiais desciam dos carros e faziam incursões empunhando armas, mas ninguém foi preso. Na Avenida M?Boi Mirim, que dá acesso aos bairros do extremo sul da capital, muitos pedestres tiveram de caminhar. Estudantes que saiam dos colégios viam nos pontos os ônibus sendo recolhidos para a garagem. Os poucos que passavam estavam lotados. Em Osasco, na Grande São Paulo, houve um ataque à sede da 1ª Companhia do 42º Batalhão da PM, mas nenhum policial ficou ferido. Dez homens armados tentaram invadir o batalhão e um deles foi morto. Medo O medo fez instituições de ensino dispensarem seus alunos. "O bedel entrou na sala e disse que o prédio estava sendo evacuado", comentou a estudante de Publicidade da Faculdade Cásper Líbero Soraia Tetamanti, de 20 anos. Segundo ela, quando os alunos desceram para a Avenida Paulista, onde fica a instituição, as grades da faculdade começavam a ser fechadas. Na Universidade Mackenzie, as aulas foram também interrompidas às 22 horas. Não houve um pedido oficial da direção. "Os alunos, por iniciativa própria, começaram a ir embora e os professores concordaram. A noite toda foi cheia de boatos", disse a estudante de Desenho Industrial Camila Muffo, de 27 anos. A Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) também não dispensou os alunos, mas metade dos estudantes já havia deixado o prédio em Perdizes, na zona oeste, às 21h30. "Minha professora disse que a reitoria não tinha liberado, então ficamos até o fim", disse a aluna do curso de História Larissa Anne, de 18 anos. A Universidade Anhembi Morumbi também liberou os alunos, temendo novos ataques. Números Segundo o último balanço divulgado pela Secretaria de Segurança Pública, 93 supostos suspeitos, incluindo parentes de presos, foram mortos deste sexta-feira. Na tarde de terça-feira, 16, esse número era de 71. Houve 28 atentados entre as 18 horas de ontem e às 18 horas desta quarta - na conta não entram as novas depredações de ônibus. Foram pelo menos 286 ataques desde Sexta-feira. Nesse quadro de terror, as mortes cometidas pela polícia começam a causar pânico entre a população dos bairros mais pobres, na capital e no interior. Apenas nas últimas 48 horas, foram 54 casos. Houve também 52 atentados a casas de policiais. Desde o começo dos ataques, morreram 147 pessoas, entre elas 41 agentes da lei. (Ellen Fernandes, José Luiz Dacauaziliqua, Bruno Tavares, Carina Flosi, Mariana Pinto, Marcelo Godoy, Alexandre Rodrigues, Renata Cafardo e Fabiano Rampazzo)

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