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Até os EUA, dos carrões, se rendem às duas rodas

Em Washington, gasolina cara impulsionou programa de bicicletas compartilhadas; NY tem proteção a ciclista

Por Patrícia Campos Mello
Atualização:

No país onde o automóvel é parte essencial da psique nacional, a alta da gasolina e a preocupação com o aquecimento global estão levando muita gente a se render aos encantos da bicicleta. Em agosto, estréia em Washington o primeiro programa de compartilhamento de bicicletas dos Estados Unidos. Batizado de SmartBike, o programa permite pegar uma bicicleta em um ponto da cidade e largar em um outro, em uma das dez estações espalhadas pelo centro. Para isso, basta se inscrever pela internet e pagar uma taxa anual de US$ 40. "Quando começamos a trabalhar com o governo de DC no programa SmartBike, o principal objetivo era criar um meio de transporte alternativo para reduzir o tráfego no centro", diz Martina Schmidt, presidente da SmartBike nos EUA. "Mas os preços da gasolina subiram tanto que estão levando mais pessoas a optar por bicicletas e transportes públicos." O programa é uma parceria entre o governo de Columbia, onde fica Washington, e a empresa de publicidade Clear Channel Outdoor, que opera programas semelhantes na Espanha, França, Suécia e Noruega. O SmartBike é parte do contrato que a ClearChanel, empresa de propaganda em outdoors, mantém com a cidade para vender anúncios em pontos de ônibus. A próxima cidade a ter SmartBikes deve ser São Francisco, na Califórnia, onde estão em curso estudos de viabilidade. Em Barcelona, são 250 mil aluguéis de bicicletas mensais. Em Washington, o programa começa com 120 bicicletas e deve chegar a 1 mil em um ano. Quem perde a bicicleta ou é roubado paga uma multa de US$ 200. Para evitar roubos, só é possível destravar a bicicleta das estações com o uso de um cartão. A idéia é estimular as pessoas a usarem a bicicleta para distâncias menores, como da estação do metrô até o escritório, por exemplo. Cada pessoa só pode ficar três horas por vez com a bicicleta. Segundo o departamento de transporte da cidade, o programa "vai ajudar a reduzir congestionamentos e poluição". Nova York também está em busca de empresas para ter um programa de compartilhamento de bicicletas na cidade. O Departamento de Transportes acaba de abrir uma concorrência, cujo prazo acaba no dia 15 de agosto. O uso de bicicleta aumentou 75% desde 2000 e hoje 130 mil nova-iorquinos pedalam até o trabalho. A meta da cidade é dobrar o uso de bicicletas até 2015 e triplicar até 2020. Hoje em dia, Nova York tem 482 quilômetros de ciclovias - mas o número deve chegar a 804 km até o fim de 2009. O problema é que muitos motoristas não respeitam as ciclovias, delimitadas por linhas brancas desenhadas no chão. Existe uma multa de US$ 115 para veículos que obstruem ciclovias e até um site, nyc.mybikelane.com, onde pessoas postam fotos de motoristas que invadem o espaço dos ciclistas. Mas a maioria respeita as regras e pouca gente é punida. A cidade criou um projeto experimental de sete quarteirões na Nona Avenida para proteger os ciclistas. Divisores de concreto e uma fileira de carros estacionados separam a ciclovia do tráfego. E semáforos indicam quando os ciclistas têm a preferência para passar. A prefeitura deve implementar mais uma ciclovia desse estilo na Oitava Avenida. Além disso, o departamento de transportes está distribuindo capacetes grátis e instalando racks para estacionar as bicicletas. Outras cidades têm mais tradição no uso da bicicleta. Portland, na costa oeste, é chamada de "capital da bicicleta". A cidade, que começou a construir sua rede de ciclovias em 1970, tem o maior índice dos Estados Unidos de pessoas que vão para o trabalho de bicicleta - 3,5% da população. Há uma cultura de respeito aos ciclistas e racks de bicicletas espalhados pela cidade.

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