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Atraso para servir o almoço salvou a vida de outras crianças em Saudades, SC

Professora conta que no momento do crime as 30 crianças estariam reunidas no refeitório e que tragédia poderia ser bem maior

Por Luis Lopes
Atualização:

CHAPECÓ (SC) - Era apenas mais um dia de rotina na creche Pró-Infância Aquarela, em Saudades, cidade no oeste de Santa Catarina. Às 10h, as 30 crianças já deveriam estar todas reunidas no refeitório para o almoço. Mas ontem, excepcionalmente, houve um atraso. Quem relata é uma professora que estava dentro da creche no momento do crime, mas que não quis ser identificada.

"Estava na sala dos professores realizando atividades extraclasse, o almoço atrasou não sei por que. Eu ouvi minha colega Keli (professora) dizer que atenderia uma pessoa no portão. Em seguida, ouvi gritos, larguei minha caixa de atividades e fui ver o que estava acontecendo. Ele já estava esfaqueando ela. Nesse momento eu gritei bem alto para avisar que tinha um homem armado dentro da escola, voltei pra sala, fechei a porta, peguei meu celular e avisei a secretaria de Educação: 'Mandem a polícia, tem um homem matando as pessoas aqui!'", conta.

A creche Pró-Infância Aquarela possui sete salas de aula e atende a cinco turmas do berçário com crianças de até dois anos. Foto: Prefeitura de Saudades

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No momento do ataque, havia cerca de 20 funcionárias e professoras na creche. O aviso foi decisivo para que outras crianças fossem protegidas.

"Depois, eu sai pelo corredor e vi que a Mirla (agente educadora morta durante os ataques) já estava deitada no chão. Pulei uma janela e consegui entrar na minha sala. Todas nós (professoras) ficamos segurando as portas para ele não conseguir entrar. Daí ele começou a bater nas janelas e (tentou) forçar para entrar nas salas."

Do outro lado da rua, um homem que trabalhava em uma metalúrgica e o vizinho, numa loja de motos ao lado do prédio da creche, ouviram os gritos: "Tem um homem matando as crianças". O primeiro pegou uma barra de ferro do chão e correu em direção à creche para conter o agressor e impedi-lo de cometer suicídio, enquanto o outro, diante dos pedidos de ajuda, pegou uma das crianças feridas e a levou ao hospital.

Segundo a professora toda a ação durou cerca de 10 minutos.

“Quando pude sair, o vi deitado no chão com muito sangue. A minha colega Keli tentou salvar as crianças, ele conseguiu entrar naquela sala porque a Mirla havia saído para preparar o almoço delas e a porta estava aberta. A Keli tentou avisar, mas não deu tempo. Isso parece um filme de terror que ainda não acabou”, lamenta a professora.

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No total, a creche possui sete salas de aula, sendo quatro na parte da frente, e atende a cinco turmas do berçário com crianças de até dois anos. Apenas uma professora conseguiu retirar as crianças da sala enquanto o jovem praticava os crimes.

"Ninguém está preparado para isso. Ninguém imagina isso em uma cidade onde o máximo que você tem é algum roubo uma vez ou outra e geralmente praticado por alguém que não é daqui. Eu sou mãe, eu tenho três filhos, os pais confiam as crianças à gente. Eu não me imagino voltando lá. Se ele tivesse chegado um pouco depois teria pego todas as crianças juntas no refeitório e a tragédia poderia ser bem maior!" 

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