Atravessar ruas com segurança em SP: o desafio diário dos pedestres

Paulistanos reclamam que carros têm prioridade no trânsito da cidade; idosos são os mais prejudicados

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Por Humberto Maia Junior
Atualização:

"Em suas marcas, preparar, já!" A frase é das provas de 100 metros rasos de atletismo, mas poderia ser utilizada em alguns semáforos de São Paulo. Em vários pontos da cidade, o tempo é curto para o pedestre atravessar a rua - não mais do que dez segundos, incluindo os momentos em que a luz vermelha fica piscando, quando não é recomendável começar a travessia. Sofrem principalmente idosos e portadores de deficiência. Mas não é incomum ver jovens saudáveis darem uma corridinha para evitar os veículos, que mal esperam o sinal verde para avançar. Se o tempo é curto para atravessar, a espera pelo sinal verde - para o pedestre - é muito longa. Pode chegar a três minutos. O Estado percorreu vários pontos de travessia de pedestres. O título "Missão Impossível" foi para as faixas da Avenida Paulista. Somente correndo muito alguém consegue ir do lado dos Jardins para o do centro de uma vez só. Na faixa antes da Rua Augusta, sentido Paraíso, o pedestre tem 15 segundos para atravessar a avenida. A maioria não consegue e tem de parar na calçada central. Lá, terá de esperar o sinal fechar novamente. Nessa fase, levará 2 minutos e 40 segundos. Com a espera para atravessar o primeiro trecho, o tempo total pode chegar a cinco minutos. Para o vice-presidente da Associação Brasileira de Pedestres, Horácio Augusto Figueira, que também é consultor de trânsito, o pouco tempo dado aos pedestres em detrimento dos veículos é reflexo da cultura de se valorizar o automóvel. "O semáforo é feito para controlar o fluxo de veículos", destaca. "Eles medem o tráfego, calculam o tempo para o trânsito fluir e acomodam o pedestre no tempo que sobra." DIFICULDADE A idade - 57 anos - e os cabelos pretos podem enganar, mas, para Ivanir Martins da Silveira, atravessar a rua não é algo simples. Nem quando o sinal está verde. Com problemas de circulação nas pernas, seu andar é lento - lento demais para os semáforos de São Paulo. Na semana passada, ela quase foi atropelada por um carro. "Tive de pular para a calçada. Foi Deus que me salvou", conta. Para Adélia Farah, de 92 anos e movimentos lentos, a tarefa é ainda mais complicada. "Eu demoro o tempo que for para atravessar. Os carros que me esperem."

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