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Aumento de roubos pode estar ligado à crise e escalada de drogas

Crimes isolados praticados por quem quer apenas adquirir objetos de desejo também engrossam as estatísticas

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Por Redação
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Não existe uma causa única para explicar o fenômeno do avanço de roubos no Estado de São Paulo. E os motivos principais apontados para o aumento desse crime variam conforme o interlocutor. Douglas, de 36 anos, por exemplo, se internou no Centro de Recuperação Resolução, no Embu, depois de ser internado no Hospital Campo Limpo por overdose de cocaína. Também foi viciado em crack e roubava para consumir mais drogas. Ele atribui o crescimento nos roubos à expansão do tráfico de drogas no Estado. Para comprar drogas, os viciados aplicam as chamadas "multas" - nome dado aos pequenos roubos praticados normalmente sob o efeito de entorpecente. "Vemos hoje as drogas chegarem até mesmo à zona rural", diz Marcelo Vitor de Oliveira, diretor da Resolução (4782- 2633), centro evangélico, que agora vai atuar em Bauru, no interior paulista. A ex-secretária de Defesa Social de Diadema, Regina Mikki, que atualmente coordena a Conferência Nacional de Segurança Pública, também concorda que a expansão do tráfico de drogas é um fator importante para se compreender o crescimento dos roubos. "Ainda existem objetos como celulares, iPods, que podem ser vendidos facilmente, além de ter aumentado o total de carros em circulação. Da mesma forma que conseguimos sucesso em derrubar os homicídios, precisamos agora pensar as políticas públicas que devem ser aplicadas para diminuir os roubos." A professora Jucileide Mauger, diretora há 17 anos da Escola Municipal Oliveira Viana, no Jardim Ângela, zona sul, tem percebido que os roubos relatados por alguns alunos do colégio estão cada vez mais articulados, com planejamento e divisão de tarefas entre os participantes. Ela notou também que mais pessoas que não levam uma vida no crime estão praticando roubos isolados para investir em uma moto, num lotação ou até na compra de uma casa. "São casos em que o roubo é mais um bico do que uma profissão. Ele só quer fazer ?a boa?", explica Jucileide, que se preocupa com a crise moral da sociedade e aposta na educação como o único antídoto possível. "Um dos clichês que eu mais escuto de alguns jovens é que se o roubo é generalizado em Brasília por que eles não podem roubar por aqui?" CRISE Se numa sociedade confusa o roubo chega a ser visto como alternativa de renda, a atividade tende a crescer quando há desaceleração das atividades econômicas - em resumo, uma crise financeira, como a atual. É o que tem constatado o coordenador de Análise e Planejamento da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, Tulio Kahn. Cruzando o total de roubos no Estado com as oscilações econômicas, Kahn nota crescimento mais acentuado dos crimes contra o patrimônio nas épocas em que a população passa por dificuldades financeiras - não apenas em São Paulo, mas também em Minas e no Rio. "O problema é que, se os roubos crescem de elevador nos momentos de crise, tendem a descer de escada nas fases de recuperação. O que significa que esses crescimentos tendem a manter as taxas em patamares mais elevados", diz. O psicanalista Jorge Forbes cita Freud para reforçar a relação de causa e efeito. "Freud já dizia que a tendência é se rebelar e perder o respeito com uma sociedade incapaz de garantir sobrevivência e emprego."

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