Autor do disparo que matou adolescente ainda é desconhecido

Ainda não se sabe se a bala de fuzil que matou o estudante na operação do Exército em favelas do Rio foi disparada pelos soldados, pela PM ou por traficantes

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Por Agencia Estado
Atualização:

Ainda não se sabe se a bala de fuzil que matou Eduardo dos Santos, um estudante de 16 anos, na operação do Exército em favelas do Rio, nesta segunda-feira, foi disparada pelos soldados, pela PM, que dava apoio à ocupação, ou por traficantes de drogas, que reagiam à investida. Os bandidos não se deixam intimidar pela presença das Forças Armadas: no domingo, lançaram uma bomba de fabricação artesanal contra um grupo de militares. Ninguém se feriu. Mil e duzentos soldados estão vasculhando doze favelas, todas da zona norte, para encontrar a pistola e os dez fuzis roubados há quatro dias do Estabelecimento Central de Transportes (ECT). Segundo o Comando Militar do Leste (CML), 20 militares de Brasília e Goiânia já chegaram para organizar a vinda de outros 800 homens, que reforçarão as buscas. Na tarde desta segunda, foi anunciada uma força-tarefa do Exército e da Secretaria de Segurança Pública, calcada na integração de unidades operacionais e de suas áreas de inteligência. Participam do esquema de apoio 270 policiais. O adolescente Eduardo foi baleado de manhã, no Morro do Pinto, perto do Morro da Providência - de onde o tiro partiu. Ele estudava e morava em São Gonçalo (Grande Rio), com a avó e um tio, e estava na casa de um outro tio, na Providência, para o carnaval. "Ele veio assistir ao desfile das campeãs de cima do viaduto; torcia pela Estácio de Sá", lamentou o tio que o criava, Robson dos Santos. "Aposto que ele corria, com medo do tiroteio." Eduardo foi ferido no mesmo momento em que criminosos que dominam o tráfico da Providência disparavam contra a PM e os militares do Exército. A bala entrou pelas costas e saiu pelo peito do garoto, que havia ido ao Morro do Pinto para se inscrever num curso de fotografia oferecido pela prefeitura. Comparação de calibre A polícia informou que peritos irão comparar o calibre da bala que atingiu Eduardo com o das armas dos policiais que estavam no morro. Depois de se reunir com o secretário Marcelo Itagiba, o comandante do CML, general-de-Exército Domingos Curado, fez questão de ressaltar que a ação não tem "caráter intervencionista" e será encerrada quando o armamento for recuperado. Itagiba ressaltou que existem, entre os soldados, equipes que participaram da missão brasileira no Haiti. Lá, elas atuaram em comunidade carentes, o que lhes dá mais preparo para o trabalho nas favelas. O ataque a bomba ocorreu na noite de domingo, num dos acessos à Providência. Os soldados pediram reforço da PM. Hoje de manhã, por volta das 9 horas, foram ouvidos mais disparos dos bandidos. O Exército subiu o morro com um veículo blindado. Ninguém foi preso. O CML ainda não divulgou balanço da ocupação. Os militares estão nas favelas munidos de mandados de busca e apreensão. O ex-cabo do Exército suspeito do roubo das armas, Evanilson Silva, que trabalhou no ECT, já foi encontrado e negou participação no crime. A população das comunidades reclama do tratamento dispensado pelos soldados. "Nós entendemos que eles têm de procurar as armas, mas, assim como a polícia, eles têm que aprender a nos respeitar", disse uma dona de casa. "Para mim, polícia e Exército é tudo a mesma coisa. Eles acham que homem e criança da favela é bandido e mulher é vagabunda", reclamou outra moradora. (Colaborou Bruno Lousada).

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