Bairro ao lado da pista vai sumir

Prefeitura e Infraero alegam ?risco de acidente?; decisão surpreende Defensoria, 1 ano após União negar retirada

PUBLICIDADE

Por Diego Zanchetta e Bruno Tavares
Atualização:

Vizinho do cemitério de aviões da falida Vasp, em Cumbica, o floricultor Manuel Craveiros, de 52 anos, não acredita mais "nesse papo de desapropriação". "Moro aqui há mais de 15 anos e sempre ouvi que teríamos de sair", diz, em meio ao campo de flores copo-de-leite que cultiva a 70 metros da cabeceira de uma das pistas. Craveiros vive no Jardim Portugal, loteamento que será riscado do mapa em 2009. A desapropriação, decidida por "medida de segurança operacional", atingirá 572 famílias. Até o ano passado, antes da desistência do governo de construir a terceira pista em Cumbica, o projeto previa a remoção de 20 mil pessoas que vivem às margens do Rio Baquirivu-Guaçu. O valor das indenizações no Jardim Portugal será definido por meio de um estudo socioeconômico encomendado pela Infraero. A Defensoria Pública do Estado ficou surpresa ao ser alertada pela reportagem sobre a desapropriação do Jardim Portugal. "Fui informado de que não haveria remoções.Para mim é novidade", afirma o coordenador do Núcleo de Habitação da Defensoria, Carlos Loureiro, que está em férias. "Quando voltar ao trabalho, vou analisar as providências a serem tomadas, até porque os moradores chegaram ao bairro antes do aeroporto." O comerciante Adauto Felipe da Silva, de 42 anos, também não acredita na remoção. Ele está há 14 anos na região e o barulho ensurdecedor das turbinas dos aviões quase o dia todo não é problema. "Estamos acostumados. Se for para sair daqui, que paguem o preço de uma casa boa, igual à minha", afirma Silva, que mora com a mulher e os dois filhos. "Antes, eu morava de aluguel. Não quero nunca sair da casa própria." Urbanizado com rede elétrica, de telefonia e coleta de lixo, o bairro tem hoje 78,41% dos imóveis regularizados. "O local está muito próximo da pista de taxiamento", argumenta Roberto Moreno, coordenador de Assuntos Aeroportuários da Prefeitura de Guarulhos. "A remoção estava prevista mesmo após a desistência da terceira pista. E a maior parte dos moradores já manifestou desejo de sair da área, por causa do ruído das aeronaves", acrescentou. Elton Soares, coordenador do Movimento de Luta por Moradias de Guarulhos e principal líder da oposição à terceira pista em Cumbica, diz que a Infraero tem de dar opções às famílias. Levantamento inicial mostrou que 68% dos moradores não têm renda fixa e 18% vivem com até dois salários mínimos. "Os interesses econômicos da Infraero não podem prevalecer sobre o direito à moradia da população carente de bairros vizinhos do aeroporto, eles precisam ser indenizados", adverte Soares.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.