Bairro carente reclama menos

Balanço da Ouvidoria-Geral do Município mostra maior insatisfação em áreas com melhor infra-estrutura

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Por Felipe Grandin e Ana Carolina Moreno
Atualização:

Os paulistanos que mais exercem seu direito de cobrar ações da Prefeitura são justamente os que já recebem os melhores serviços do poder público. Essa é a conclusão do relatório da Ouvidoria Geral do Município, que relacionou as reclamações recebidas entre março e junho deste ano, com o nível de acesso aos direitos humanos em cada região. O resultado mostra que, onde há melhor infra-estrutura, educação e nível socioeconômico, os moradores reclamam quase três vezes mais do que em bairros com condição de vida precária. "Fizemos o cruzamento de dados para confirmar o que observávamos empiricamente", explica a ouvidora do órgão, Maria Inês Fornazaro. Um exemplo comparativo é o das subprefeituras de Pinheiros, na zona oeste, e de Guaianases, no extremo leste. Com cerca de 250 mil habitantes, Pinheiros, onde a garantia de direitos humanos é alta, registrou 81 reclamações na Ouvidoria no segundo trimestre, a maioria sobre jardinagem. Em Guaianases moram 270 mil pessoas, mas só 8 relatórios de insatisfação chegaram ao órgão. A garantia de direitos humanos lá é precária. "Jogam uma favela por dia aqui no meio do mato, sem luz, sem água, sem asfalto", diz a doméstica e estudante de direito Marli Medeiros, presidente da Associação de Moradores Nova Jerusalém, em Fazenda do Carmo, entre Guaianases e Itaquera. A líder comunitária crê que nos bairros pobres não há costume de cobrar o governo. "Na favela, o Estado é o traficante, a cultura é não se meter com ninguém para não ter problema." Já em áreas nobres, os moradores não hesitam em reclamar, apesar de o problema mais grave ser a poda malfeita das árvores. "Eles só deixam o tronco", diz Célia Marcondes, presidente da Sociedade dos Amigos e Moradores do Bairro Cerqueira César (Samorcc). Segundo ela, a maioria defende seus direitos diretamente com a Prefeitura. Quem vive em Parada de Taipas enfrenta problema mais grave, a falta d?água. "É o maior sacrifício. Tem de pegar com balde no cano da Sabesp", reclama o vigia Rogério da Silva, de 26 anos, que mora em uma rua sem asfalto e sem luz. Ele nunca reclamou com a Prefeitura e nem sabe como falar com a Ouvidoria. O Sistema Interurbano de Monitoramento dos Direitos Humanos foi lançado em 2006, custou quase R$ 70 mil e levou seis meses para ficar pronto. Até hoje só foi usado pela Ouvidoria. Segundo o presidente da Comissão Municipal de Direitos Humanos, José Gregori, ele foi criado para o governo tomar decisões mais eficazes no combate à desigualdade social.

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