Bairro de São Vicente vive sem luz e transporte

Em Paratinga, moradores há anos esperam a chegada da energia

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Por Rejane Lima
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Aos 15 anos, a estudante Ana Paula Soares Barbosa tem longos apliques castanhos com mechas cor-de-rosa no cabelo. "São de náilon", diz, explicando que optou pelo novo visual após seu cabelo estragar de tanto passar a chapinha. Vaidosa, a menina caminhava pelo menos dois quilômetros até a casa de uma amiga para alisar as madeixas, porque onde ela mora é impossível ligar a chapinha. Lá não há tomadas. Ela vive em Paratinga, bairro de São Vicente onde não há luz, rede de esgoto ou transporte público. O Estado esteve no mesmo local há seis anos, e a situação não se alterou em nada. Em 2005, a CPFL Piratininga chegou a cobrar prestações dos moradores para a instalação de postes que levariam luz até a casa deles, mas o dinheiro foi devolvido. Área de preservação permanente, Paratinga fica a 400 metros do Parque Estadual da Serra do Mar, numa macrorregião com cerca de 10 mil metros quadrados, onde há mata nativa, estradinhas de terra e cachoeiras. Fica no limite de São Vicente, Praia Grande, Cubatão e São Bernardo do Campo. O acesso é pela Rodovia Padre Manuel da Nóbrega. O lugar tem fama de perigoso e de ser usado para desova de cadáveres. O bairro urbanizado mais próximo é a Vila Ema, a três quilômetros. Não se sabe ao certo quantas pessoas vivem na região, entre invasores e sitiantes regularizados que pagam impostos para o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). De acordo com a Prefeitura de São Vicente, são 150 habitantes, sendo 88 crianças matriculadas na rede pública. Já de acordo com uma associação de moradores, em 2004, quando foi realizada a última contagem, eram 3.200 famílias, incluindo o bairro vizinho de Acaraú. Trilhos cortam a área, o que explica o Paratinga - nome de uma antiga estação. Ao lado da parada funciona hoje um centro de reparos da América Latina Logística (ALL) de composições que atendem o Porto de Santos. Ana Paula, por sinal, vive em uma casa simples e úmida, de alvenaria, com sala, dois quartos e cozinha construída para os funcionários da antiga Ferrovia Paulista SA. OUTRO LADO De acordo com a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, o processo para a instalação da rede elétrica na Paratinga foi protocolado no Departamento Estadual de Proteção de Recursos Naturais (DEPRN) em julho de 2003. Além do corte de oito árvores, o pedido envolvia o desmatamento de uma área com vegetação nativa, com cerca de três hectares e mais 8.500 metros de área de preservação permanente. Segundo a secretaria, a própria CPFL propôs como compensação o plantio de 6.500 mudas, conseguindo a autorização em fevereiro de 2005. Mas não havendo solicitação de revalidação, o pedido expirou um ano depois. A CPFL informou que planeja instalar a rede elétrica, mas aguarda parecer do Ministério Público do Estado.

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