Bandidos ateiam fogo em jornal e culpam PCC

Para editor-chefe, ato foi um crime político

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Por Agencia Estado
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"Foram longos dez minutos de horror", foi desta maneira que o editor-chefe do jornal Imprensa Livre, Igor Veltman, descreveu o atentado que sofreu, juntou com outros cinco funcionários, na madrugada desta quinta-feira, em São Sebastião, Litoral Norte Paulista. O prédio do diário, que circula pelas as cidades do Litoral Paulista, foi invadido por três homens por volta das 3h40 da manhã. Armados e encapuzados eles chegaram à gráfica, onde obrigaram quatro trabalhadores a se deitarem no chão. Deram coronhadas e fizeram ameaças. Depois foram até a sala de diagramação e renderam outro funcionário. Da redação, o editor-chefe percebeu a ação e saiu correndo. "Tentei fugir por um corredor, mas a porta estava trancada, aí fiquei no escuro, assistindo tudo". Com gasolina os bandidos atearam fogo nos exemplares que estavam prontos e ainda destruíram alguns equipamentos como uma guilhotina e impressoras. Antes de fugirem a pé, ainda estouraram uma bomba caseira no local. Na saída, apontaram a arma para o fotógrafo Reginaldo Pupo e para o repórter César Rodrigues, mas não atiraram. Existe a hipótese de que uma das armas usadas no crime seja de brinquedo. As chamas tomaram conta das máquinas e só foram controladas com a chegada do Corpo de Bombeiros. "Os técnicos estão avaliando os prejuízos, mas se tivermos que trocar os equipamentos teremos que gastar pelo menos 250 mil reais". Apesar dos danos, o jornal não deixou de rodar. "Levamos para imprimir em São José dos Campos", contou Veltman, ainda abalado com o ataque. Apesar da semelhança com os atentados promovidos nos últimos dias com facções criminosas, a polícia civil não acredita que o fato tenha ligação com o crime organizado. "Esta hipótese está descartada", informou na tarde desta quinta-feira o diretor do Deinter 1, delegado Waldomiro Bueno Filho. As investigações seguiram hoje, mas formalmente os funcionários começam a ser ouvidos na sexta-feira e na próxima semana. "Temos suspeitos e pelas investigações é uma disputa local", informou o delegado José Lamartine Fagundes, que conduz a apuração do crime. Para o editor-chefe, está claro que se trata de crime político. "Acreditamos em oportunismo. Usaram o momento e o nome do PCC para impedir o jornal de circular. A imparcialidade incomoda muito". Na edição desta quinta-feira, a matéria de capa era a decisão da Justiça de obrigar a prefeitura a responder cerca de trinta requerimentos da Câmara, sob pena de multa diária de R$2.500. "Comemoramos a decisão judicial que devolve aos vereadores o direito de fiscalizar, de atuar. Quanto ao atentado ao jornal, em nenhum lugar do País houve ataque, só em São Sebastião. É lamentável, claro que não é o PCC, são pessoas tentando calar o jornal", comentou o presidente da Câmara, Wagner Teixeira (PV). O jornal circula diariamente há 16 anos e há algum tempo se diz perseguido pelo prefeito da cidade, Juan Ponz Garcia. Por meio da assessoria de imprensa, a prefeitura nega as acusações de perseguição não comentou o atentado ao jornal. No hospital Duas horas antes do atentado ao jornal, por volta das duas da manhã, na Santa Casa da cidade, quatro homens armados entraram no hospital e atiraram contra um paciente, que morreu na hora. Houve pânico geral. Hilton Campos Alvarenga, de 22 anos, que tinha envolvimento com roubos, foi assassinado e outro paciente, também com passagem policial, foi ferido na perna. Os bandidos fugiram antes que a polícia chegasse. "Os dois casos, até agora, não estão relacionados. Foi acerto de contas o que aconteceu na Santa Casa", comentou o delegado Lamartine. Os dois fatos geraram, mais uma vez, um clima de pânico na cidade. A câmara municipal e duas escolas municipais fecharam as portas ontem antes do almoço por questão de segurança. "Recebemos ligações dizendo que a Câmara seria o próximo alvo dessas pessoas que estão usando o nome do PCC para agir na cidade", contou o vereador Teixeira. Novos ataques Em São José dos Campos, na noite de quarta-feira, policiais do Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos) conseguiram deter uma quadrilha de integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) que promoveria um atentado contra o fórum da cidade e a prefeitura. O plano foi descoberto por meio do serviço de inteligência da polícia civil por volta das 15 horas. Os policiais não fizeram alarde e trataram de agir rapidamente. Foram até o bairro onde os suspeitos moravam, no Jardim Imperial, e em uma casa encontraram quatro homens que usavam coletes da polícia civil e militar, gorros, armas e supostas dinamites. Houve troca de tiros e na perseguição policial, o líder do PCC em São José dos Campos, Franzcalors de Lima Inácio - que tinha uma extensa ficha de mais de seis metros de crimes cometidos - e o comparsa dele, Hélio André dos Santos, foram mortos. Com o grupo ainda foi encontrado um mapa do fórum da cidade, onde os bandidos agiriam. Nenhum policial ficou ferido. Em Guaratinguetá um ônibus foi incendiado no início da madrugada. Por volta da meia-noite e meia dois homens pararam o veículo e ordenaram que oito passageiros, motorista e cobrador, descessem. Também com gasolina e fósforo, destruíram totalmente o ônibus circular e fugiram dando tiros para o alto. Até agora não há suspeitos.

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