PORTO ALEGRE - Durante uma operação que desbaratou uma violenta quadrilha de tráfico de drogas que operava na região metropolitana de Porto Alegre, a Polícia Civil gaúcha se deparou com algo inusitado. Para enfrentar e eliminar desafetos, os criminosos inventaram o "Caveirão da Morte". Trata-se de um veículo Honda Civic modificado internamente para encarar qualquer tiroteio e ainda conduzir corpos.
A descoberta se deu durante escutas telefônicas dentro da Operação Clivium, que já prendeu 110 pessoas envolvidas com tráfico de drogas e homicídios. A quadrilha tinha base em Gravataí, na grande Porto Alegre, mas operava também em outras quatro cidades da região há cerca de 15 anos.
O "caveirão" foi feito reforçado artesanalmente. Grossas chapas de aço foram soldadas no interior do veículo, protegendo o motorista, o carona e os passageiros no banco de trás. O porta-malas também era blindado, mas por um outro motivo. Foram encontrados resquícios de sangue no local. Segundo os policiais, desafetos eram mortos e transportados no compartimento. Para uma melhor limpeza, foram feitos três furos na lataria que escoavam o sangue, conforme informou a polícia.
De acordo com depoimento dos criminosos, o carro escolhido era automático para permitir que o motorista também atirasse durante as ações. Amostras de DNA foram retiradas do local e foi possível identificar que ao menos duas pessoas foram mortas ali: Luis Antônio Oliveira Alves, o Godzila, e Paulo Diego da Silva Barbosa, o Boquinha, ambos assassinados este ano, deixaram rastros no porta-malas.
Investigação. A polícia acredita, entretanto, que outras três dezenas de corpos foram transportados pelo "caveirão". Isso porque o veículo era utilizado por um dos matadores da quadrilha. Os líderes da quadrilha são os irmãos Vinicius Otto, João Paulo Otto e Eduardo Otto, presos por crimes tráfico, sequestro, uso de armamento restrito e homicídio. Em junho deste ano, o bando sofreu um importante golpe. Vinte e três pessoas foram presas no bairro Morada do Vale 2, em Gravataí, berço dos criminosos.
Ao todo, foram cumpridos 107 mandados de prisão temporária e 86 de busca e apreensão. Na ocasião, 619 agentes, com apoio do helicóptero da Polícia Civil, participaram da ação, tida como a maior operação policial do RS na última década. Foram apreendidas drogas, armas, dinheiro, e recolhidos carros blindados e de luxo, motocicletas e um caminhão cegonha.