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Bando armado transforma cidade goiana em faroeste

Por Agencia Estado
Atualização:

Eram 9h40 quando a pacata Posse, no interior de Goiás, virou faroeste. Cerca de 20 homens encapuzados e fortemente armados invadiram a cidade em quatro caminhonetes Ranger e S-10 de cabine dupla, atirando contra as pessoas que andavam pela rua. O pânico tomou conta da cidade, e os moradores corriam desesperados, tentando fugir das balas. Na porta da agência do Banco do Brasil e na do Itaú, a quadrilha dominava quem passava pelo local e proibia a aproximação de qualquer pessoa. Enquanto isso, parte do grupo assaltava os bancos, que ficam um de frente um para o outro. Surda, a aposentada Edinéia Valente, de 70 anos, não notou os disparos e os gritos de advertência. Levou dois tiros no peito quando tentava entrar na agência do Banco do Brasil. "Ela ia pegar a aposentadoria dela", disse o empresário Luís Carlos Vaz, que assistiu à cena esgueirando-se entre os carros a um quarteirão de distância. Edinéia era tia do prefeito de Posse, Stanley Valente (PSDB). Cinco policiais militares que tentaram se aproximar do cerco foram baleados e estão internados no hospital local. O major Victor Hugo, comandante da 2ª Companhia Independente da Polícia Militar, levou um tiro na perna quando descia de seu carro. Ele perdeu muito sangue, mas está fora de perigo. No início da noite, os feridos foram transferidos de helicóptero para o Hospital de Base, em Brasília. Um deles foi atingido na cabeça e seua estado era grave. Ao mesmo tempo em que ocorria o primeiro ataque, em outro ponto da cidade parte da quadrilha assaltava outra agência bancária, a do Bradesco, e uma agência lotérica, com as mesmas características de violência. "Eles atiravam o tempo todo, as ruas ficaram cheias de cartuchos", disse Vaz. "Devem ter disparado uns mil tiros", calculou o promotor Mendonça. Alguns dos bandidos usavam fardas e coletes da PM. Localizada 506 quilômetros a nordeste de Goiânia, próximo à fronteira de Goiás com a Bahia, Minas Gerais e Tocantins, a cidade de Posse nunca tinha assistido a uma ação tão violenta. "Parecia guerra civil", descreveu o promotor da cidade, Jalles Guedes Coelho Mendonça. "Eles atiravam em todo mundo." O promotor estava no fórum da cidade, reunido com o juiz local, Marcio Nery, e o major Victor Hugo, quando eles ouviram os primeiros tiros. "Isso aqui virou um faroeste, foi uma ação de bárbaros", contou. "As pessoas corriam gritando pelas ruas, tentando se proteger." O padre Moacir, que passava pela rua, quase foi baleado e teve de sair correndo para se proteger. Dois tiros de fuzil AR-15 atingiram a parede do fórum. A fachada da delegacia da cidade foi metralhada. Mendonça e o juiz se refugiaram no fórum. "Fiquei trancado com o juiz por uma hora, esperando a barbárie acabar", contou Mendonça. "A cidade ficou na mão dos bandidos durante todo esse tempo. Pedimos ajuda a Goiânia e cidades vizinhas, mas não veio um avião ou helicóptero para nos ajudar." Segundo o promotor, apenas oito homens da Polícia Militar estavam de serviço na manhã desta sexta. "Eram oito PMs armados de revólveres 38 contra 20 homens armados de fuzis AR-15, escopetas e metralhadoras." Depois de assaltar os três bancos da cidade e a lotérica, o grupo colocou reféns nas carrocerias e fugiu. Na arrancada, quatro reféns caíram dos veículos. Segundo a Polícia Militar, os assaltantes fugiram em direção à Bahia pela BR-020 e no caminho deixaram outros quatro reféns na estrada: a professora Fernanda Alvino, Maria Eleide dos Santos Oliveira, Luís Carlos de Jesus e um policial não identificado. Já próximo à fronteira com a Bahia, o bando abandonou as caminhonetes e fugiu pelo matagal. As polícias de Goiás e da Bahia decidiram realizar uma ação conjunta de urgência. PMs dos dois Estados montaram várias barreiras nas estradas da região. A Secretaria de Segurança Pública de Goiás enviou de Goiânia dois aviões com policiais do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), especializada em perseguições. Também foi deslocada para a região uma UTI móvel para atender os policiais feridos. A polícia informou que os bandidos foram minuciosos a ponto de metralhar a torre de comunicação na tentativa de isolar a cidade. O secretário de Segurança Pública e Justiça de Goiás, Jônathas Silva, informou que há barreiras nas fronteiras limítrofes de Goiás, Minas e Bahia. A polícia baiana mobilizou um helicóptero para as buscas. O secretário garantiu que todos os reféns foram libertados no trevo de Posse. O montante do dinheiro roubado não foi divulgado. "Já sabemos que, após o ocorrido em Posse, o bando já assaltou outra agência bancária, no município de Formosa", disse. Jônathas acredita que a quadrilha não é de Goiás, e o serviço de inteligência da polícia apura se o bando é o mesmo que realizou assaltos semelhantes nos Estados do Pará e de Minas Gerais, há alguns meses. O promotor Mendonça se diz "perplexo" com o assalto e reclama da falta de segurança na região nordeste de Goiás. "São pouquíssimos policiais militares para uma área muito extensa", avalia. "Pelo caráter estratégico dessa região, na divisa com três Estados, ela merecia até um posto da Polícia Federal."

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