As balas durante a maior e mais violenta perseguição a ladrões de banco do Estado de São Paulo neste ano deixaram mortos, feridos e carros destruídos. Os criminosos levaram pânico por 15 quilômetros de ruas em bairros de Guarulhos e zona norte de São Paulo, por onde passaram em fuga . Roubaram pelo menos uma dezena de carros e fizeram vítimas de seqüestro. Um policial militar e um rapaz morreram. Outros nove PMs ficaram feridos. Muitos veículos particulares e da polícia acabaram alvejados. A fuga começou por volta das 14 horas, após assalto a uma agência bancária no centro de Guarulhos, na Avenida Capitão Gabriel. Os seis integrantes da quadrilha, com armas de grosso calibre, usaram um Gol branco e um Siena cinza para iniciar a fuga. O primeiro tiroteio, sem feridos, ocorreu a 1 quilômetro dali, na Praça IV Centenário. Nesse ponto, os bandidos começaram a se separar - a maior parte seguiu na direção da Rodovia Fernão Dias. Partiram em alta velocidade pela Avenida Guarulhos, via com carros estacionados dos dois lados e muito movimento de pedestres. O primeiro grupo abandonou o Siena e roubou uma Parati branca. O outro trocou o Gol por uma EcoSport. Na perseguição à EcoSport, houve nova troca de tiros. Poucos quarteirões depois, na Rua Noêmia Delafina, um dos homens que estava a pé, descrito como uma pessoa jovem, de cabelos compridos, roubou a moto de Cássio Ferreira. "Ele se aproximou de mim, disse que estava saindo de um assalto. Subiu na moto, pôs meu capacete e falou ainda que iria deixar a moto num posto", contou. Na seqüência, as balas perdidas fizeram a primeira morte: Leandro Rodrigues Marques (mais informações na página C8), na Avenida Castello Branco, esquina com a Rua Constâncio Colalilo. Na mesma esquina, o Gol de Antonio Tadeu Massuia foi alvejado por cinco tiros. Por sorte, nenhum acertou o motorista. "O carro (com os bandidos) fez a curva aqui e acho que eles pensaram que era da polícia e sentaram bala", afirmou Massuia. No mesmo local, os bandidos que estavam na EcoSport também trocaram de carro. Roubaram um Astra do aposentado Carlos Rodrigues. Morador no bairro da Penha, na capital, ele havia ido até o posto da Receita Federal em Guarulhos. Na saída, foi dominado pelos assaltantes. "Desceram da EcoSport e me pararam. Não sei se atiraram ou quebraram o vidro com tiro. Estavam fortemente armados", disse. Um quilômetro adiante, na altura do 2.040 da Avenida Castello Branco, os bandidos cruzaram com uma ronda escolar da PM. A viatura ficou crivada de balas. Nenhuma acertou os policiais. Pouco antes de chegar a São Paulo, dois policiais foram baleados. Depois, seguiram por quase cinco quilômetros até chegar à Fernão Dias, de onde entraram para o Jaçanã, na zona norte. EM SÃO PAULO Na capital, dois bandidos seguiram pela Rua Manoel Gaya, a bordo de um Honda Fit, segundo testemunhas. Houve uma seqüência de roubo de carros e seqüestros. Eles abordaram o comerciante André de Souza, de 25 anos, em sua Ranger prata e, com o carro, levaram a primeira refém: a colega de trabalho de André, Nívia Fernanda Araújo, de 34 anos. "Foram muito violentos. Estavam com pressa porque atrás vinham pelo menos cinco viaturas da PM. Quando vi os policiais, liguei para o seguro bloquear o carro", contou Souza. Com o carro bloqueado na Rua Mário Pernambuco, 500 metros à frente, recomeçou a saraivada de balas. "Parecia um bangue-bangue: helicóptero, viatura, policial e bandido atirando para todo lado", afirmou o vendedor Kléber Lourenço, que teve seu Gol prata atingido por três disparos. Quanto a Ranger de Souza, o comerciante contou 19 tiros. Ainda dentro do carro, segundo ele, um dos bandidos foi ferido na perna. Então os criminosos, sempre trocando tiros com os policiais - e contra o helicóptero Águia -, correram pela Rua Mário Pernambuco e, após darem várias coronhadas na cabeça, liberaram Nívia. "Estavam nervosos, porque o carro foi bloqueado", comenta Souza. Rapidamente, ainda sob balas, abordaram o diretor de imagens Anderson da Silva Barbosa, de 22 anos, que trafegava com seu Celta prata pela Coronel Sezefredo Fagundes. "Um deles gritou ao sair do carro, enquanto o outro atirava com um fuzil nos policiais", lembra. Os ladrões seguiram por vielas estreitas até a Rua Engenheiro Sampaio Ferraz. Barbosa também ligou para o seguro e o carro foi bloqueado. No caminho até a rua, o Celta levou 14 tiros, 12 deles no pára-brisa. Os bandidos correram cerca de 50 metros e levaram um Peugeot 206, segundo moradores. HORROR Nem polícia nem outros moradores souberam dizer se esse foi o último carro roubado pela dupla, até chegarem ao número 154 da Antônio Perrotti, quando se criou um caso de morte e cárcere privado (mais informações na página C5). Sabe-se que, por todos os momentos, os bandidos trocaram tiros com os policiais. "Um deles corria atirando contra o helicóptero e nas viaturas, enquanto outro com um malote na mão tateava os portões até encontrar um aberto", conta a dona de casa Neusa Pereira dos Santos, de 48 anos, moradora de um sobrado próximo, na rua. "Aqui foi tanto tiro, era tanto barulho, que eu e minhas duas filhas corremos para baixo da cama. Parecia filme de horror." COLABORARAM RENATO MACHADO e MARCELO GODOY FRASES André de Souza Comerciante "Foram muito violentos. Estavam com pressa porque atrás vinham viaturas da PM. Quando vi, liguei para o seguro bloquear o carro." Neusa Pereira dos Santos Dona de casa "Aqui na rua, foi tanto tiro, era tanto barulho, que eu e minhas duas filhas corremos para baixo da cama."