Bangu 1 é o "escritório central do crime organizado"

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Por Agencia Estado
Atualização:

O ?escritório central do crime organizado?. Assim integrantes do Ministério Público (MP) definem a penitenciária Bangu 1, considerada de segurança máxima, onde está preso o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. Em vinte horas de conversas gravadas pelo MP e pela Polícia Federal (PF) durante 15 dias, o criminoso demonstra total controle sobre a compra e a venda de drogas e de armas em favelas. Em uma das ligações, Marcos Marinho dos Santos, o Chapolim, braço direito de Beira-Mar, negocia a aquisição de armamentos de última geração, como o míssel Stinger, usado por exércitos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Segundo o MP, os fornecedores poderiam ser os mesmos que vendem armamentos para a Al-Qaeda, rede terrorista internacional liderada por Osama Bin Laden. Além de Beira-Mar, estão em Bangu 1, Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê, e Celso Luís Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém. Diante dessas informações e da suspeita de conivência por parte de agentes penitenciários e da direção da unidade, expressa pelos promotores Jorge Magno Reis Vidal e Valeria Videira Costa, a juíza Sônia Maria Garcia Gomes Pinto, da 1.ª Vara Criminal de Bangu, determinou o afastamento provisório do diretor de Bangu 1, Durval Pereira de Melo, e de todos os servidores da unidade. A juíza determinou também a prisão preventiva do advogado de Beira-Mar, Hélio Rodrigues Macedo. Na manhã de hoje, com o apoio de 100 homens do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM, os dois promotores realizaram uma revista de cinco horas no presídio. O secretário de Justiça, Paulo Saboya, esteve no local, mas sua entrada foi barrada pelos promotores. Dentro do cofre da Sala de Custódia do presídio, que fica ao lado do gabinete do diretor, os promotores apreenderam cinco telefones celulares, mais de vinte carregadores de celulares, R$ 1.100,00 em dinheiro, 16 munições calibre 38 e estoques (facas improvisadas), além de papéis e cartas. Da sala do diretor foram levadas 16 fitas de vídeo, documentos e dois aparelho de fax, que seriam usados por Beira-Mar para contatos com um fornecedor de drogas em outro país. Na Galeria A, que não é a de Beira-Mar, o Bope apreendeu dois celulares, escondidos dentro da tubulação de vasos sanitários e protegidos por preservativos. Também na galeria, havia dois pacotes de maconha do tamanho de bolas de tênis, escondidos em uma quentinha com alimentos. ?São vários esquipamentos, que podem formar uma central telefônica. Há aparelhos que desconheço, só um técnico pode me dizer o que é. Pela quantidade, certamente há conivência. Não tem como entrar esse material todo em um presídio de segurança máxima?, disse o delegado Irineu Barroso, titular da 34.ª DP (Bangu), onde a apreensão foi registrada. Barroso tem uma reunião marcada para amanhã com o MP e anunciou que convocará a direção de Bangu 1 para prestar depoimento. As gravações telefônicas envolvem diversos traficantes presos em Bangu 1, condenados de outros estados e advogados, que funcionariam como elo entre os chefões e suas quadrilhas. Os telefones eram utilizados, em média, 20 horas por dia, às vezes em sistema de de conferência, por meio de uma conexão em Belo Horizonte. Armas de grosso calibre, munição, granadas e entorpecentes eram negociados. Na conferência, Beira-Mar conversa com com um preso de São Paulo, identificado como Leomar, e reclama dos poucos celulares disponíveis dentro dos presídios paulistas. Os traficante presos determinam também punições para outros criminosos e acertam estratégias para a manutenção do controle de suas áreas de atuação. As ligações deixam claro que a quadrilha dispõe de dois aviões. Em um dos trechos, o traficante Marcos Marinho dos Santos, o Chapolim, debocha do Poder Judiciário: ?A Justiça é cega... Não enxerga nada mesmo?.

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