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Barco que afundou com cerca de 70 a bordo no Pará estava irregular

Pelo menos dez pessoas morreram no naufrágio no Rio Xingu e outras 40 estão desaparecidas

Por Carlos Mendes
Atualização:
A embarcação Capitão Ribeirão afundou na noite deterça Foto: AFP PHOTO / Ulisses Goncalves de Sousa

O barco que afundou com mais de 70 pessoas na madrugada desta quarta-feira, 23, no Rio Xingu - entre os municípios de Porto de Moz e Senador José Porfírio, no sudoeste do Pará - não estava legalizado para fazer o transporte passageiros

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A embarcação "Capitão Ribeiro" não tinha registro fornecido pela Agência Estadual de Regulação e Controle de Serviços Públicos (Arcon). O naufrágio deixou pelo menos 10 mortos e cerca de 40 desaparecidos. Quinze pessoas foram resgatadas com vida, segundo a Secretaria de Estado de Comunicação do Pará - testemunhas chegaram a relatar 25 sobreviventes.

A identidade das vítimas não foi divulgada, mas, segundo a Secretaria de Estado de Comunicação do Pará, foram seis mulheres, dois homens e duas crianças. 

O barco saiu Santarém e seu destino final era Vitória do Xingu, mas havia paradas nos município de Monte Alegre, Prainha, Porto de Moz e Senador José Porfírio. O trecho do Xingu onde ocorreu o naufrágio é conhecido por fortes correntezas e tem profundidade de até 30 metros.

Segundo comunicado da Arcon, a embarcação pertence à empresa Almeida e Ribeiro Navegação Ltda e realizava “transporte clandestino de usuários”. Embora tivesse sido notificada pela fiscalização da Arcon no dia 5 de junho deste ano para que providenciasse a regularização, nenhum diretor da empresa compareceu ao órgão público. Ou seja, ela continuava irregular, mas navegando normalmente pelos rios da região.

O naufrágio. O DJ e animador de festas em Altamira, Bruno Costa, de 32 anos, um dos sobreviventes e filho da ex-vereadora de Vitória do Xingu, Mercedes Costa, contou que o barco começou a naufragar por volta das 21h30 e 25 pessoas conseguiram se salvar, nadando até a margem do rio, no meio da escuridão. Segundo ele, elas ficaram cerca de seis horas nadando sem saber onde estavam e só conseguiram chegar à margem às 3 da madrugada.

“Graças a Deus, estou muito bem, mas tive momentos terríveis em minha vida, nesta madrugada. Era por volta de 21h30, quando começou uma tempestade muito forte. De repente, o barco começou a estalar e a afundar”, relatou Costa. Segundo ele, a lona amarrada em uma parte da embarcação para que a água da chuva não molhasse as pessoas impediu muita gente de sair do barco, provocando pânico entre os passageiros.

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Costa ainda conseguiu pegar uma criança de dois anos, embora estivesse sem colete salva-vidas, quando outro passageiro, na agonia de escapar, projetou-se sobre ele, rasgando suas roupas. “Aquele cara rasgou toda a minha camisa e eu fui para o fundo com a criança nesse momento, mas ao voltar à superfície vi várias pessoas perto de mim, gritando. Peguei um colete e me mantive na superfície, conseguindo também salvar a criança, mas outras pessoas não tiveram a mesma sorte. Agradeço a Deus por estar vivo”, disse o jovem.

Resgate. O barco “Capitão Ribeiro” foi içado do fundo do rio no começo da tarde desta quarta e o trabalho se concentra na entrada dos mergulhadores para fazer uma varredura na tentativa de localizar pessoas presas dentro de compartimentos da embarcação. Além disso, lanchas e barcos procuram sobreviventes às margens do rio. As buscas devem ser retomadas na manhã desta quinta-feira, 24.

A polícia abriu inquérito e começou a ouvir os sobreviventes. “Os bombeiros só foram comunicados do naufrágio sete horas depois do acidente", segundo informou ao Estado o subcomandante-geral da corporação, coronel Augusto Lima.

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Em nota, a Marinha do Brasil disse que enviou o navio-patrulha “Bocaina” e a Lancha Balizadora de Mar Aberto “Marco Zero” ao local para realizar buscas e coletar informações preliminares. "Um inquérito administrativo foi instaurado para apurar causas, circunstâncias e responsabilidades do acidente", diz o órgão. A Marinha diz, ainda, que a embarcação que naufragou está inscrita na Capitania Fluvial de Santarém e se solidariza com as famílias das vítimas.

Segurança. Para o engenheiro naval Pedro Lameira, a segurança da maioria dos 60 mil barcos que navegam pelos rios amazônicos é problemática porque essas embarcações possuem “precárias condições para suportar um rápido alagamento” durante um acidente. Além disso, segundo ele, o excesso de carga e passageiros “compromete a estabilidade dos barcos”.

Local do naufrágio 

 

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