Beira-Mar comanda chacina de dentro de Bangu 1

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Por Agencia Estado
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O traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, planejou, comandou e acompanhou pelo telefone celular uma chacina de dentro do presídio de segurança Bangu 1, segundo o Ministério Público Estadual. Pelo menos duas pessoas morreram e outra ficou ferida na armadilha preparada pelo traficante. Beira-Mar decidiu se vingar de seus comparsas porque eles mataram três integrantes da quadrilha, sem a sua autorização. O momento da chacina foi gravado por policiais federais, numa escuta telefônica autorizada judicialmente a pedido do MP, 40 dias depois da vistoria que promotores públicos fizeram em Bangu, e provocou a exoneração do diretor da unidade e o afastamento de todos os agentes. A PF estava monitorando as ligações de Beira-Mar no dia 27 de julho. Naquela data, ele foi informado que "Bone" foi morto. O traficante reage inconformado com a terceira morte sem sua autorização. Com um comparsa, ele decide então se vingar daqueles que desafiaram sua autoridade. São conversas gravadas entre as 19h18 e as 23h45. Beira-Mar marca uma reunião para aquela noite, com a desculpa de colocar as coisas "em pratos limpos". Durante o encontro, Beira-Mar ordena que todos entreguem as "peças" (armas). Assim que eles são desarmados, inicia-se a chacina. São mais de 30 tiros disparados em menos de 20 segundos. Morreram Antônio Alexandre Vieira Nunes, o Playboy, e Ednei Thomaz Santos. Adailton Cardoso Lima ficou ferido, mas sobreviveu. O traficante chamado de Velho teria fugido. Os promotores não conseguiram identificar quem seria Daio, outro alvo de Beira-Mar. Os policiais federais acompanharam todo o planejamento, ordem para execução e a própria chacina. O promotor Rogério Ferreira informou que a Polícia Militar chegou a ser avisada, mas em nenhum momento das conversas os traficantes haviam citado em que favela o crime seria cometido. Com base na gravação, os promotores Rogério Ferreira, Rosana Petró, Valéria Videira Costa e Jorge Magno Vidal denunciaram o traficante por duplo homicídio qualificado. Eles pediram ainda a prisão preventiva do criminoso. A medida tem como intuito dificultar qualquer benefício que Beira-Mar venha a requerer. "Ele tem mais de 400 anos para cumprir, mas só vai ficar 30. Mesmo agora ele vai permanecer no mesmo local em que está, e certamente fazendo uso, se não do objeto que serviu para a identificação do crime, mas de outros que chegarão até ele", afirmou Muiñoz. "É a falência do sistema penitenciário". Insegurança Promotores e juízes envolvidos na investigação tiveram a segurança reduzida desde que Benedita da Silva assumiu o governo do Estado. Um dos promotorses contou que, além de diminuir o número de homens que dão proteção ao grupo, os armamentos também se tornaram mais leves. "A proteção não é a ideal, mas estamos tomando nossas providências", afirmou o procurador-geral do Estado, José Muiños Piñeiro Filho. Os promotores também revelaram gravações de outras duas conversas. Numa delas, Pato Rouco liga para um certo Naldo, preso em Bangu 1, e pede 10 convites para um baile funk que seria realizado no presídio. Ele diz que conseguiu autorização do juizado de menores para levar adolescentes para se apresentarem no baile. E cita o nome de um suposto diretor da Penitenciária Muniz Sodré, que teria gostado das meninas. Em outro telefonema, uma mulher informa ao criminoso Jaime Cacavo, também preso em Bangu 1, qual o esquema armado com um agente penitenciário para burlar as revistas nas celas. A seguir, leia trechos da gravação: Traficante: Alô. Beira-Mar - Oi, fala. Traficante - Tem um maluco que não tirou a peça (armas) da cintura, não. Beira-Mar - Quem não tirou? Traficante - Foi o Adão. (passa para outro traficante) Beira-Mar - Moleque já tirou as peças, já? Adão - Moleque tá. Tá todo mundo tranqüilo, escutando o senhor. Beira-Mar - Eu sei. Mas os moleques já tirou as peças , eles? Adão - Tá, tá tudo aqui. Tá todo mundo junto. Beira-Mar - Eu sei, mano. Só vou te dar um toque. Os moleques já tiraram as peças, já botaram no chão. Adão - A minha não tirou não, porque o senhor sabe da minha pureza, eu não vou ficar tirando, não. Beira-Mar - Vai lá, irmão, vai pegar as peças todinhas você. Se liga só nessa, bota na tua mão (várias vozes). Deixa eu falar com o Luizão. Beira-mar - Pega essas peças todinhas aí bota na tua mão e bota na mão dos moleques que você acha que tão no braço aí. Luizão - Calma aí, calma aí. Ó essas peças aí. Tá mandando entregar os bagulho. Pronto patrão. Beira-Mar - Entrega na mão do ... (ininteligível) que ele é meu parente. Entrega tudo na mão dele. Luizão - Ele tá apanhando tudo, ele. (conversa entre os traficantes da reunião) BM - Mandei entregar. Cerca de 30 tiros são disparados em 20 segundos Beira-mar pergunta "Qual foi?" várias vezes. Vozes do local: - Tô baleado - c..., mané! - Que é isso? Minutos depois Beira-Mar liga para uma moradora da favela e pergunta sobre o que tinha acontecido. A mulher conta que o clima estava tenso e que tinha gente baleada.

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