Summit Mobilidade: Bicicleta se consolida com a pandemia

Modal ganha espaço como a opção para deslocamentos e prestação de serviços

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Por Heraldo Vaz
Atualização:

A pandemia fortaleceu a mobilidade ativa, por meio da bicicleta, acelerando algo que vinha crescendo nos últimos anos em todo o planeta. Para a diretora executiva do Instituto de Políticas de Transporte & Desenvolvimento (ITDP) Brasil, Clarisse Cunha Linke, ficou claro – “não tanto no Brasil, mas globalmente” – que a bicicleta foi colocada como solução efetiva para a mobilidade pessoal em tempos de pandemia.

Esse movimento, segundo ela, já havia sido percebido na última década como fundamental para uma nova agenda urbana, centrada em cidades com baixo carbono, mobilidade a pé e por bicicleta. Praticada em áreas abertas, evitando aglomerações, essa modalidade fez com que cidades europeias tirassem do papel projetos já existentes, ampliando as malhas cicloviárias e programas de bicicletas compartilhadas.

Além de ser instrumento de trabalho, bike também melhora saúde, segundo a OMS Foto: Daniel Teixeira/Estadão

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Clarisse contou que, em Berlim, as lojas de bicicletas foram consideradas entre os serviços essenciais, ficando abertas desde o começo da pandemia. “Em Londres, serviram para garantir a circulação dos trabalhadores da área de saúde”, acrescentou.

Das janelas das casas, de quem estava em home office, deu para ver “a explosão de delivery, usando as bicicletas nas grandes cidades brasileiras”, comentou a diretora, apoiando o anúncio feito pela própria Organização Mundial de Saúde (OMS) de que a bicicleta era solução para melhorar a saúde da população, além de ser uma forma barata de deslocamento. Para o poder público, é de fácil implementação e baixo custo.

Urbanismo

A arquitetura atual, aliás, tem ajudado a promover a mobilidade ativa, disse o diretor geral da Perkins &Will, Fernando Vidal, citando o Plano Diretor de São Paulo. A lei incentiva o uso misto, comercial e residencial, no mesmo empreendimento e fachadas ativas no térreo, oferecendo serviços, promovendo a relação da edificação com o entorno.

Além de se adaptar aos impactos da pandemia, os empreendimentos imobiliários abraçaram as novas necessidades de mobilidade urbana, como o home office. Com a expansão do trabalho remoto, a tendência, segundo ele, é a existência de um modelo híbrido, com atividades profissionais desenvolvidas no escritório e em casa.

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Vidal, no entanto, acredita que haverá a retomada da utilização de lajes comerciais e dos espaços de escritórios, por serem importantes para a geração de cultura empresarial. Ele argumentou que os projetos para edifícios corporativos já avançaram mais que os residenciais nas questões de mobilidade e interação com o seu entorno. “Hoje, se não tiver um belo bicicletário e um vestiário, já não é considerado um empreendimento triple A”, disse, referindo-se a mais elevada classificação para os imóveis comerciais de mais alto padrão.

Queda

Para Francisco Pierrini, diretor-presidente da ViaQuatro e ViaMobilidade, concessionárias responsáveis pela operação e manutenção das linhas 4-Amarela e 5-Lilás de metrô, a pandemia transformou a mobilidade urbana. Nada será como antes, segundo ele, em função da expansão do trabalho remoto e do aumento do sistema de compras via internet. Pierrini disse que houve redução sensível no transporte de passageiros no metrô de São Paulo, principalmente na primeira onda da covid 19. “A queda chegou a 80%.”

O aumento da mobilidade ativa por meio da bicicleta é bem visto por ele, que destaca a importância desse modal ativo ter uma boa integração com o metrô para facilitar a vida das pessoas. “Temos mais de 1.100 vagas disponíveis para bicicletas em nossas linhas”, afirmou.

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Clarisse considera as questões de segurança como um “aspecto definidor” para esse meio de locomoção. “A discussão sobre mobilidade tem de vir com a segurança pública e viária”. Nesse sentido, o primeiro ponto a ser tratado, segundo ela, é a velocidade das cidades, que em todo o mundo tem baixado, tendo como exemplos grandes cidades europeias, americanas e asiáticas.

Colisão

“Numa colisão a 60 ou 70 km/hora, a probabilidade de morte do pedestre ou do ciclista é praticamente certa”, avaliou. “A 25 ou 30 por hora, o risco diminui muito.” Ela elogia a redução da velocidade em bairros de São Paulo e vias arteriais. “É uma revisão de como a cidade está desenhada, priorizando há décadas o carro, literalmente, como motor da sociedade, garantindo um espaço excessivo para essa máquina.”

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Na sua opinião, a rua é o ativo mais importante que se tem na cidade, “o ativo mais rico”. Para ela, não faz sentido que a rua seja dedicada prioritariamente à circulação do carro particular, que é responsável pela minoria das viagens. “A grande maioria é feita por transporte público e a pé nas cidades brasileiras.”