Bingos que romperam lacres são `emparedados´ em SP

Das 53 liminares cassadas para funcionamento de bingos, 45 são no Estado

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Por Agencia Estado
Atualização:

A subprefeitura de Pinheiros "emparedou", na manhã desta sexta-feira, 20, bingos que romperam os lacres e interdições e voltaram a funcionar irregularmente. Enquanto isso, a subprefeitura da Lapa deve interditar os Bingos Imperador, Clélia, Cerro Corá e Ceasa, que já haviam sido fechados em ações anteriores, mas funcionavam normalmente, pois tinham uma liminar federal. Por conta da Operação Hurricane (furacão, em inglês), que tenta desmontar a máfia do jogo ilegal no País, 53 liminares que autorizavam o funcionamento de bingos, sendo 45 em São Paulo, foram derrubadas. A decisão foi tomada na quinta-feira, 19, pela presidente do tribunal, Diva Malerbi, que acatou recurso da Advocacia Geral da União (AGU). Em um de seus despachos, ela argumenta que o funcionamento de casas de jogo representa ?grave lesão à ordem pública?, já que os bingos têm sido ?associados ao crime organizado e à prática de outros crimes?. Mais de 500 ações contra bingos estão em tramitação no Tribunal Regional Federal da 3ª Região, responsável por São Paulo e Mato Grosso do Sul. Segundo informações da subprefeitura de Pinheiros, o primeiro estabelecimento visitado nesta sexta foi o Bingo Vilas, na Rua Fernão Dias, próximo ao Largo de Pinheiros. O Bingo Black Point, na Rua João Cachoeira, 477, no Itaim-Bibi, também foi fechado. Os estabelecimentos já haviam sido interditados por não possuírem liminar da Justiça. De acordo ainda com a assessoria da subprefeitura, dos 15 bingos existentes na área de atuação da subprefeitura de Pinheiros, oito possuem liminar e continuam funcionando. Caça-níqueis Nesta sexta, a Polícia Civil de Belo Horizonte prendeu 25 pessoas durante operação contra o jogo ilegal no Estado, segundo informações da GloboNews. Setenta máquinas caça-níqueis foram apreendidas e a polícia abriu uma ocorrência para cada local onde houve busca e apreensão. Bloqueio de contas O Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou o bloqueio de contas dos 25 detidos na Operação Hurricane e de seus familiares. O Estado apurou que pessoas ligadas à máfia do jogo já fizeram três tentativas de sacar R$ 4 milhões em agências bancárias do País. A PF divulgou que já sabe que ao menos um dos presos possui conta bancária no exterior, e há a suspeita de que outros quatro envolvidos no esquema sejam beneficiários de recursos depositados em paraíso fiscal. A operação teve início na última sexta-feira, 13, quando 25 pessoas foram presas nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e no Distrito Federal, com o objetivo de desarticular uma organização criminosa que atuava na exploração do jogo ilegal e cometia crimes contra a administração pública. Foram cumpridos 70 mandados de busca e apreensão e 25 mandados de prisão contra chefes de grupos ligados a jogos ilegais, empresários, advogados, policiais civis e federais, magistrados e um membro do Ministério Público Federal, Paulo Medina. As investigações sigilosas duraram um ano, ordenadas pelo ministro César Peluzzo, do STF. Na operação, a PF apreendeu 30 carros de luxo, uma moto e uma grande quantidade de dinheiro - foi necessário um carro-forte para o transporte até uma agência da Caixa Econômica Federal. Informações cruzadas entre o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e a PF mostram que a máfia do jogo, que comprava sentenças judiciais favoráveis para manter as casas de bingo em funcionamento no País, movimentava altas somas de dinheiro desde 2001, pelo menos. Nos últimos seis anos, o Coaf produziu sete relatórios especiais sobre movimentações atípicas, envolvendo 80 pessoas, que movimentaram R$ 230 milhões. Dessas 80 listadas, 17 estão presas na PF de Brasília. Cerco ao Congresso O ministro da Justiça, Tarso Genro, disse na quinta-feira que não se surpreenderia com o suposto envolvimento de parlamentares no esquema de venda de sentenças judiciais para beneficiar a máfia do jogo. Nas investigações da Polícia Federal, os deputados Marina Magessi (PPS-RJ) e Simão Sessim (PP-RJ) foram citados como supostos beneficiários de doações de bingos. Ambos negam. Suspeita-se que Marina tenha recebido no ano passado doação de campanha por caixa 2 do grupo do bicheiro Aílton Guimarães, o Capitão Guimarães. No inquérito, a PF sustenta que há ?indícios e provas? da existência de ?pagamento rotineiro? de propinas a parlamentares para que eles fizessem lobby para liberar a exploração do jogo. Súmula Vinculante O STF declarou que deve editar uma súmula vinculante (resumo de decisões) para fixar que as instâncias inferiores da Justiça não podem autorizar o funcionamento de bingos e exploração de máquinas de caça-níquel. A idéia de editar uma súmula já estava em andamento antes da divulgação da Operação Hurricane. Mas, diante dos últimos fatos apurados na investigação, com suspeitas de envolvimento de magistrados de várias instâncias com a venda de liminares favoráveis a empresários do setor de jogos, ministros do STF afirmam que a edição da súmula se tornou essencial. (Colaborou Paulo R. Zulino.) Texto ampliado às 11h48 para acréscimo de informações.

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