Bispo dá sermão em senadores

D. Manuel, de Limoeiro, recusou comenda em protesto por aumento aprovado pelo Congresso

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Por Rosa Costa
Atualização:

Na primeira entrega da Comenda de Direitos Humanos D. Hélder Câmara, oferecida pelo Senado a personalidades de destaque na área, os parlamentares viram o bispo emérito de Limoeiro (CE), d. Manuel Edmilson da Cruz, não só recusar a homenagem como ouviram sermões pelo reajuste dos próprios salários em 61,8%, aprovado na semana passada.O religioso comparou o aumento a "um atentado, uma afronta ao povo brasileiro, ao cidadão, ao contribuinte e a todos aqueles que contribuem com o trabalho, a dignidade e o suor do rosto". E da tribuna d. Manuel anunciou aos senadores: "Só me resta uma atitude: recusar a comenda, porque senão estaria procedendo contra os direitos humanos e este momento perderia todo o sentido histórico", afirmou. Para d. Manuel, a comenda não representa a pessoa do "cearense maior que foi d. Hélder Câmara", e sim "desfigura-a".O bispo não parou por aí. Fez um jogo de palavras para criticar a atitude de deputados e senadores. "Quem assim procedeu não é parlamentar, é para lamentar."A entrega da comenda coincidiu com a publicação no Diário Oficial da União do decreto legislativo que também reajusta os salários do presidente da República, vice-presidente e ministros de Estado.Vazio. A premiação seria concedida a quatro personalidades, mas, além da recusa do bispo de Limoeiro, dois outros homenageados - o ex-bispo de São Felix do Araguaia, em Mato Grosso, d. Pedro Casaldáliga, e o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ) - não compareceram à solenidade e enviaram representantes em seu lugar. Num plenário esvaziado, os defensores públicos Wagner Giron de La Torre e Antonio Roberto Cardoso foram os únicos homenageados presentes.O senador José Nery (PSOL-PA) disse entender o "gesto, o grito" de d. Manuel, mas avaliou que isso não invalida a iniciativa do Senado de conceder um prêmio a pessoas que defendem os direitos humanos.

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