Bispos divergem sobre como tratar a candidata

O de Guarulhos sugere Serra dizendo 'de dois males, o menor'. O de Jales fala em 'calúnias' e a CNBB fica na doutrina

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Por José Maria Mayrink
Atualização:

"De dois males, o menor", adverte o bispo de Guarulhos, d. Luiz Gonzaga Bergonzini, ao aconselhar os fiéis de sua diocese, de 1,3 milhão de habitantes, a não apoiar candidato ou candidata que aprove o aborto. Na véspera das eleições, o bispo recomendou aos católicos que não votassem em Dilma Rousseff para presidente nem em qualquer outro candidato do PT, porque o partido inclui a legalização do aborto em seu programa. D. Luiz Gonzaga lembra que a Igreja condena qualquer tipo de aborto, com exceção apenas do aborto espontâneo - o que levaria os eleitores a reprovar também a posição do presidenciável José Serra (PSDB), que diz ser contra o aborto, mas admite a manutenção dos casos previstos no Código Penal, cujo texto admite o aborto terapêutico e o aborto no caso de estupro. "Se temos de escolher um presidente, vamos optar por quem representa risco menor", disse d. Luiz Gonzaga, sem citar o nome de Serra, mas reiterando o veto a Dilma. "Como a candidata Dilma já mudou de posição duas ou três vezes, não posso confiar na palavra dela", acrescentou.Na segunda-feira, Dilma declarou ser contra o aborto e a favor da defesa da vida em todas as suas dimensões. Esse discurso não convence o bispo de Guarulhos. Ele anunciou que provavelmente publicará nova advertência aos eleitores, antes da realização do segundo turno, para insistir no veto a Dilma. "Injusta". Para o bispo de Jales, d. Luiz Demétrio Valentini, a acusação que se faz a Dilma é injusta e caluniosa. "Quem disse que Dilma é favorável ao aborto, se não os seus acusadores que atribuem a ela essa posição para condená-la?", avisa d. Demétrio. Em artigo publicado antes das eleições, sem citar nomes, o bispo aconselhou o eleitor a "sacudir o clima de acusações e calúnias perversas e fantasiosas". Na avaliação do bispo, "Serra seria também abortista", porque normatizou a lei que aprova os casos de aborto previstos no Código Penal.A presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) mantém sua orientação, anunciada dia 16 de setembro, na qual recomendou aos eleitores que procurassem escolher "pessoas comprometidas com o respeito incondicional à vida, à família, à liberdade religiosa e à dignidade humana". A entidade avisou que não pretende voltar mais ao tema. "Tradicionalmente, a CNBB não cita nomes, nem contra nem a favor, mas se limita a lembrar os princípios éticos da doutrina católica", disse o padre Luiz Antônio Bento, da Comissão Pastoral Episcopal para a Vida e a Família, que luta contra a legalização do aborto.Padre Bento concorda com a fórmula "entre dois males, o menor", do bispo de Guarulhos, mas acha difícil tomar uma decisão na hora de votar. "Temos de examinar qual das duas opções responde melhor à expectativa", observou. "Todo tipo de aborto é condenável, também o que visa proteger a mãe e o que impede o nascimento de uma criança fruto de estupro", acrescentou.

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