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Blocos abandonam circuito mais tradicional de Salvador

Preferência tem sido pelo Dodô (Barra-Ondina), em detrimento do Osmar (Campo Grande)

Por Tiago Décimo
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Aos poucos, cenários quase lendários da folia baiana, como a Praça Castro Alves e a Avenida 7 de Setembro, que integram o Circuito Osmar (Campo Grande), o mais tradicional de Salvador, começam a perder espaço. Este ano, o mais emblemático sinal da mudança foi a decisão do bloco Camaleão - o mais disputado e caro (cada abadá chega a custar mais de R$ 1 mil, na mão de cambistas) -, puxado pela banda Chiclete com Banana, de descer a Cidade Alta para desfilar, ontem, no Circuito Dodô (Barra-Ondina), pela primeira vez em seus 30 anos. O vocalista do Chiclete, Bel Marques, descarta a mudança definitiva de circuito, mas não nega que haja planos para isso. "Já temos dois blocos no Barra-Ondina (Nana Banana e Voa-Voa) e estamos testando a aceitação do Camaleão por lá." O passo do Camaleão reforça uma tendência sentida desde o fim dos anos 1990. A primeira grande banda de axé music a deixar o Campo Grande para se dedicar exclusivamente ao Circuito Dodô foi o Asa de Águia, há uma década. "A decisão era empresarial: com a mudança, a gente estava deixando de ser contratado de um bloco para ter um bloco próprio", lembra o vocalista, Durval Lelys. "Com o tempo, vimos que a mudança trouxe muitos outros benefícios. O circuito da orla é menor (tem quatro quilômetros, contra os quase oito do Campo Grande), mais freqüentado durante a noite e tem mais glamour, com os artistas nos camarotes e toda a mídia envolvida." Segundo Durvalino, como o cantor é chamado entre os baianos, o Circuito Dodô faz com que o carnaval seja menos desgastante. Este ano, o cantor Netinho, também veterano de carnavais baianos, não se apresenta no Campo Grande. "Não é mais possível fazer um desfile tranqüilo na Cidade Alta. Ficou tão apertado que qualquer pequeno incidente, como uma discussão, pode virar uma tragédia." Entre outros que deixaram o Campo Grande estão Gilberto Gil e Daniela Mercury. Entre os motivos estão os camarotes que comandam, os mais cheios de artistas, políticos e personalidades do carnaval baiano. A mudança é tanta que o antes tranqüilo Circuito Dodô começa a sentir os efeitos da superpopulação. O governador do Estado, Jaques Wagner, diz que estudos sobre novos espaços estão sendo feitos. Enquanto os estudos seguem, há consenso de que o carnaval de Salvador tende a ficar estrangulado nos atuais circuitos. IVETE DESTRÓI PIRATAS Mas muitos artistas e foliões rechaçam a possibilidade de abandonar o Campo Grande. Ontem, alguns dos protagonistas da festança baiana fizeram as suas primeiras apresentações do ano no Circuito Osmar. O destaque foi Ivete Sangalo, que, a bordo do bloco Coruja, protestou contra a pirataria de discos ao despejar centenas de CDs piratas na avenida e pedir que o bloco passasse por cima, destruindo-os. A ação fez parte da campanha Pirata, Tô Fora. Só Uso Original, do Sindicato Nacional dos Analistas-Tributários da Receita Federal do Brasil (Sindireceita). Depois, a gravadora Universal deu à cantora a placa comemorativa de 600 mil DVDs vendidos - maior marca do mundo no ano passado - e 3 milhões de downloads de toques de celular acumulados em 2007. "Só alcancei essas marcas porque meus fãs me respeitam e compram meus CDs e DVDs nas lojas", disparou Ivete.

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