PUBLICIDADE

Blocos paulistanos adotam estratégias para conter multidão e manter ‘essência’

Para não crescer, agremiações mudam de bairro, chegam a esconder local de partida e desfilar mais cedo

Foto do author Priscila Mengue
Por Priscila Mengue
Atualização:

A multidão que lota grandes avenidas no entorno de trios elétricos, como foi o caso da Avenida Tiradentes nesta segunda-feira, 4, já se tornou imagem corriqueira no carnaval de São Paulo. Enquanto os megablocos despontam e outros querem crescer cada vez mais, há quem adote estratégias para evitar um aumento do público e manter a “essência”.

PUBLICIDADE

“A gente quer manter a tradição do carnaval da Barra Funda, um dos berços do carnaval paulistano”, explica a artista Paula Flecha Dourada, de 42 anos, fundadora do Agora Vai, da zona oeste da capital. Com as cores roxa e amarela, o bloco desfila com marchinhas autorais, hoje raridade na folia paulistana, e completa 15 anos em 2019.

O cortejo, que sai na terça-feira, 5, deve atrair de 5 mil a 8 mil participantes. “Tinha pouco carnaval de rua na cidade (quando começou). Entre o oitavo e o 11.º desfile, ficou bem inflado. Como agora tem bastante opção, voltou a uma estabilidade”, diz Paula.

Me Lembra que Eu Vou. Nem mudança do desfile, antes previsto para o Largo da Batata, afastou o público do bloco, que já teve de deixar a Vila Madalena Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Da Vila Madalena, na zona oeste, o Chega Mais até se questionou o porquê de não ter crescido tanto, mas agora abraça a ideia. “O nosso público é formado por pessoas que talvez não gostem de blocos muito cheios. Os foliões são mais velhos, vão com os filhos”, diz o administrador Eduardo Perdigão, de 38 anos, um dos fundadores.

Em 2018, o bloco atraiu cerca de 1,5 mil pessoas e Perdigão garante que “todo mundo cantava todas as músicas”, focadas em sucessos dos anos 80. O próximo (e sexto) desfile ocorre no pós-carnaval, no domingo, 10. “Ele representa um carnaval confortável, em que todo mundo vai ter espaço, se divertir sem grandes confusões”, diz. “Atrai quem gosta desse tipo de música, mas que não necessariamente gosta de carnaval.”

Originalmente da Vila Madalena, o Me Lembra que Eu Vou deixou o bairro em 2017, quando estreou na Avenida Faria Lima, em Pinheiros. “Vários têm saído, porque não cabem mais lá”, diz José Cury, um dos fundadores e integrante do Fórum Aberto dos Blocos de Carnaval SP.

"Sair da Vila Madalena foi um ato de respeito ao bairro, pois o número de foliões que procuravam nossos desfiles ficou insuportável para as ruas pequenas do bairro", conta. Curiosamente, o Me Lembra que Eu Vou já teve de mudar de novo de endereço, e neste ano, uma vez que a violência fez o entorno do Largo da Batata ser vetado pela Prefeitura para os desfiles.

Publicidade

Outro grupo que já considera que cresceu o suficiente é a Confraria do Pasmado. “Acho que todo bloco – que não começa motivado em ser um megabloco – passa por esse dilema. Quando a gente começou, praticamente não tinha carnaval, a última preocupação era ficar grande demais”, lembra o cineasta Eduardo Piagge, de 35 anos, um dos pioneiros.

Estações de metrô na região central de São Paulo ficaram abarrotadas Foto: Gabriela Bilo/Estadão

Ele conta que a agremiação chegou a apostar no crescimento até 2017. “A gente foi indo, no acerto e no erro. Em um momento, começou a crescer muito porque a gente queria, aí ficou até chato organizar”, conta. “É feito por um grupo de amigos, nunca teve um modelo comercial. Por muito tempo a gente fez tudo. Quando ficou muito grande, parou de ser divertido, era muita logística.”

O Pasmado tem dois desfiles, um deles voltado ao público infantil. Uma das estratégias para não crescer é começar cedo, ainda pela manhã, assim como não investir tanto em divulgação. Outra é a localização: quando cresceu, saiu da Vila Madalena para a Faria Lima e, há dois anos, mudou para a Rua dos Pinheiros para evitar multidões. 

Bloco quer desfilar sem trio elétrico

PUBLICIDADE

Estreante em 2018, o Filhos de Gil atraiu cerca de 10 mil pessoas no ano passado. Desta vez, a ideia é não crescer, mas melhorar a qualidade ao trazer um equipamento de som sofisticado (para levar música com qualidade para todos). Além disso, menor, pode atender à ideia de sair sem trio elétrico, tocando no chão.

“Minha concepção de carnaval de rua é nos bairros, tendo relação com moradores e pequenos comerciantes, de trazer essa vivência diferente do bairro. No megabloco, é difícil fazer isso”, conta o músico Pedro Keiner, de 30 anos, um dos fundadores.

Já o Bloco Pilantragi decidiu divulgar o endereço do cortejo pouco antes do desfile que fez no pré-carnaval, no dia 24. “Fazemos carnaval o ano todo”, justificou a agremiação nas redes sociais. O Vai Quem Qué, por sua vez, trocou Pinheiros pelo Butantã e a Vila Anglo, também na zona oeste, com quatro desfiles.

Publicidade

“A região de Pinheiros se tornou ao mesmo tempo uma área dos super eventos – dos grandes blocos e das marcas financiadoras – e também um lugar de conflito de interesses. Nós nos sentimos mais à vontade em locais em que a vizinhança acolhe o bloco”, justificou nas redes sociais.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.