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BNDES ´está disposto´a estudar caso do Instituto Coração

Hospital de SP passa por crise financeira e acumula uma dívida de R$ 250 milhões

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Demian Fiocca, disse nesta segunda-feira, 13, que a instituição "está disposta" a estudar um empréstimo para o Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas de São Paulo, que passa por uma crise financeira. Segundo ele, o Incor tem dificuldades "no conjunto da sua estrutura financeira" e o BNDES tem uma linha de crédito para instituições sem fins lucrativos na área de saúde. "Na medida em que puder contribuição com uma solução por meio dessas linhas, estamos dispostos", disse Fiocca em entrevista após palestra na 40ª Assembléia Anual da Federação Latino-Americana de Bancos (Felaban). No domingo, 12, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, determinou que o Ministério da Fazenda encontre, no prazo de 48 horas, uma solução para o problema financeiro do Incor. A decisão foi anunciada após reunião a portas fechadas entre Lula, a cúpula do Incor e os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e da Saúde, Agenor Álvares, e o presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PC do B-SP). Eles se reuniram na Base Aérea de São Paulo, antes da viagem de Lula para a Venezuela. A ordem foi dada como um puxão de orelha nos ministros. Logo depois que a diretoria do hospital apresentou um plano de reestruturação da Fundação Zerbini, mantenedora do Incor que hoje acumula uma dívida de R$ 250 milhões, Mantega relutou, afirmando que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) era sujeito a regras e qualquer novo empréstimo teria de ser bem avaliado - a diretoria do Incor tenta conseguir um empréstimo ao BNDES de R$ 120 milhões para tomar medidas urgentes no Incor, como honrar salários dos funcionários e pagar fornecedores, mas está com dificuldade para conseguir um agente financeiro (fiador). Lula, então, disse que o Incor não poderia ser tratado como uma empresa qualquer e que eles (os ministros e Rebelo) teriam de achar uma solução urgente nas próximas 48 horas. O Incor, afirmou Lula, é um hospital que cuida de pessoas carentes com excelência. ?Vamos achar uma solução dentro do prazo junto com o governo de São Paulo?, afirmou Mantega, depois da reunião. O presidente Lula também não gostou da chance de o Incor aumentar o número de atendimentos a pacientes privados. A possibilidade, como afirmou ao Estado o diretor-geral do Incor, Jorge Kalil Filho, na semana passada, foi apresentada como forma de aumentar a arrecadação. Hoje, 20% dos pacientes são de planos particulares - legalmente, o hospital poderia aumentar para 40%. A idéia de Jorge Kalil, porém, é aumentar para 25%, caso nenhuma providência seja tomada. Crise O cardiologista Adib Jatene, membro do Conselho Deliberativo do Incor, vai participar da elaboração de uma solução financeira. Nesta segunda, ele vai a Brasília encontrar técnicos do Ministério da Saúde para achar maneiras de liberar dinheiro ao Incor. Em entrevista ao Estado publicada no sábado, Kalil afirmou que se a Fundação Zerbini não for acudida imediatamente, o hospital pode parar. O último sinal vermelho foi o atraso salarial dos funcionários, na quarta. Pela primeira vez na história da instituição, os 3 mil funcionários não receberam a complementação salarial de cerca de 60% paga pela fundação - o restante vem do governo do Estado. O dinheiro foi depositado no dia seguinte, mas o pagamento de encargos trabalhistas foi deixado em aberto. A dívida da Zerbini é antiga. De acordo com o promotor Airton Grazioli, da Promotoria de Fundações, órgão ligado ao Ministério Público, o tamanho da dívida já seria suficiente para a fundação precisar de intervenção. Isso só não teria ocorrido pelo tipo de atividade da Zerbini, que envolve pacientes do SUS. A decadência financeira da Zerbini começou no fim da década de 90, com a construção do Incor 2, onde hoje funciona a maioria dos atendimentos de alta complexidade do hospital. Até esse momento, o superávit era de US$ 50 milhões. O segundo rombo foi a construção do Incor Brasília, em 2004, do qual o Incor São Paulo está em processo de separação jurídica. A saúde financeira do Incor foi também sendo minada aos poucos com o repasse do SUS aos procedimentos de alta complexidade, que hoje fica em torno de 20% em relação aos gastos do hospital. A cada ano no Incor são feitas 5 mil cirurgias, 290 mil consultas, 13 mil internações e 2,5 milhões de exames.

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