Bombeiros acusados de desviar donativos para em Alagoas são presos

O secretário estadual de Defesa Social, José Paulo Rubim, e o comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Neitônio Freitas, lamentaram o ocorrido e disseram que se trata de 'casos isolados'

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Por Redação
Atualização:

MACEIÓ - Três oficiais do Corpo de Bombeiros de Alagoas foram presos no início da tarde desta sexta-feira, 23, suspeitos de desvio de donativos para os desabrigados das enchentes no Estado. Foram presos o coronel Josivaldo Feliciano de Almeida, o tenente Ederaldo dos Santos Gomes e o capitão Renivaldo de Lima. As prisões foram decretadas pelo juiz Geraldo Amorim, da 9ª Vara Criminal, a pedido da delegada Ana Luiza Nogueira. Os presos foram recolhidos no quartel do Corpo de Bombeiros, no bairro do Trapiche da Barra.

 

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A própria delegada Ana Luiza foi prender os oficiais no QG do Corpo de Bombeiros. Ela estava acompanhada do sub-secretário estadual de Defesa Social, delegado federal Washington Luís. Os militares presos foram levados à sede da Divisão Especial de Investigações e Capturas (Deic), na Ladeira dos Martírios, no bairro do Farol, onde foram ouvidos. O advogado de um dos oficiais disse que sem cliente é inocente.

 

A delegada não quis dar entrevista, disse que só falaria após ouvir os presos e concluir os primeiros levantamentos sobre o caso. Os três oficiais passariam por exame de corpo de delito, no Instituto Médico Legal de Maceió. Eles teriam desviado um caminhão de sandálias, meias e material esportivo, que tinham sido doados pela Receita Federal. O material estava estocado num depósito, na Avenida Rotary, no bairro do Farol. O depósito pertence à secretaria estadual de Educação e Esporte, mas estava cedido ao Corpo de Bombeiros, para guardar donativos, que seriam distribuídos às vítimas das chuvas.

 

O advogado de um dos oficiais preso disse que seu cliente negou ter desviado donativos. Segundo Marques Fernandes, seu cliente teve a prisão preventiva decretada porque teria sido encontrado com donativos, "mas o material estaria dentro da viatura para ser levado a um dos locais de doação". O advogado disse ainda que iria entrar na Justiça pedindo a revogação da prisão do seu cliente.

 

"Cortamos na própria carne"

 

O secretário estadual de Defesa Social, José Paulo Rubim, e o comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Neitônio Freitas, lamentaram o ocorrido e disseram que se tratava de "casos isolados".

 

Segundo o coronel Neitônio, o desvio do material que estava no depósito foi detectado por um major do Corpo de Bombeiros, na terça-feira da semana passada. Esse mesmo major, durante uma varredura no QG da corporação, sábado passado, teria encontrado donativos no armário de um soldado Dórea, que foi preso em flagrante.

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"Tivemos que cortar na própria carne", afirmou o comandante do Corpo de Bombeiros, que preside a Defesa Civil do Estado e é responsável por todas as doações enviadas ao Estado para os desabrigados das cheias, que deixaram pelo menos 19 cidades em situação de calamidade e emergência.

 

"Quando a notícia ganhou repercussão na mídia nacional, nós já tínhamos tomados as providências", afirmou Neitônio. Questionado por que os oficiais não estavam recolhidos à prisão, a exemplo do soldado, o comandante disse que os oficiais não foram presos em flagrante, Neitônio disse ainda que não se sentia traído, porque nenhum dos oficiais envolvidos era do seu comando direto. No entanto, o coronel Josivaldo foi visto na última segunda-feira, numa reunião no Palácio República dos Palmares, acompanhando o comandante.

 

Gastos R$ 75 milhões

 

Nessa reunião, o comandante do Corpo de Bombeiros apresentou uma prestação de contas dos R$ 75 milhões, que a Defesa Civil Estadual recebeu do governo federal para as ações emergenciais nas cidades atingidas pelas enchentes e em socorro às vítimas da tragédia.

 

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Ele prestou contas dos R$ 25 milhões, que chegaram na segunda semana após a tragédia, registrada entre 18 e 19 de junho. O comandante do Corpo de Bombeiros disse ainda que o governo do Estado recebeu depois mais R$ 50 milhões. "Desses recursos, R$ 10 milhões foram repassados aos municípios atingidos pelas enchentes e ele vão prestar contas à Defesa Civil, para que o Estado preste contas ao governo federal", afirmou Neitônio.

 

O comandante da Defesa Civil disse ainda que toda a prestação de contas está sendo acompanhada pelo Ministério Público Estadual, pelo Tribunal de Contas da União e pelo Tribunal de Contas do Estado, já que envolvem verbas federais administradas pelo Estado e pelas prefeituras dos municípios atingidos pelas enchentes.

 

Prejuízos de R$ 1 bilhão

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Os prejuízos calculados pela Defesa Civil Estadual chegam a R$ 1 bilhão. Os primeiros gastos foram com as ações de socorro às vítimas, desobstrução de ruas, recuperação de pontes, recolhimento dos escombros e a limpeza das cidades. Só com a recuperação das escolas públicas, o governo do Estado e as prefeituras dos municípios atingidos vão precisar de pelo menos R$ 170 milhões.

 

Os recursos serão solicitados ao Ministério da Educação, junto com um relatório sobre os estragos e um plano para reconstruir as 115 escolas públicas destruídas pelas cheias, deixando de sem aula cerca de 52,5 mil alunos. Dos R$ 170 milhões, cerca de R$ 35 milhões serão usados para recuperar e equipar suas escolas; e R$ 135,3 milhões serão destinados às prefeituras para reconstruir e equipar as escolas municipais.

 

De acordo com o relatório apresentado pelo secretário Rogério Teófilo, nos investimentos levantados pelo Estado estão gastos de R$ 20,4 milhões com a construção de 8 escolas, R$ 3,6 milhões com a reforma de 12 unidades de ensino e R$ 10,9 milhões com a aquisição de materiais didáticos e outros equipamentos.

 

A rede municipal de ensino deve investir R$ 106 milhões na construção de 58 escolas, R$ 14 milhões na reforma de 40 unidades de ensino e R$ 14,4 milhões em materiais, equipamentos e outros gastos.

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