Bornhausen diz que entrará com ação na Justiça contra Lula

"Não vamos deixar passar nada em branco", afirmou o presidente do PFL, sobre a presença de crianças atendidas por programas federais no palanque do petista

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Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), disse neste domingo que a coligação que apóia a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) ao Planalto vai entrar com ação na Justiça Eleitoral contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à reeleição, por conta do episódio na Cidade de Deus. No sábado, crianças beneficiárias de programas sociais do governo federal subiram ao palanque de Lula para dar depoimentos e pedir votos para a reeleição dele. "Não vamos deixar passar nada em branco", afirmou Bornhausen, para quem Lula "cometeu mais uma ilegalidade". De acordo com o pefelista, "Lula misturou a condição de presidente com a de postulante, o que tem feito de forma deslavada desde o início do semestre". Bornhausen também criticou os gastos com publicidade do governo federal: "Lula tem aproveitado sua função de presidente e usado recursos oficiais para sua reeleição." Numa das ações abertas pela coligação PFL-PSDB, Lula foi condenado a pagar R$ 900 mil, por ter feito campanha antecipada. O presidente recorreu da decisão. "É importante que a população saiba que Lula usa a Presidência de forma ilegal", disse Bornhausen. Entidade responsabiliza Secretaria da Juventude A Central Única das Favelas (Cufa), que organizou o evento, não se responsabilizou pela presença dos adolescentes, vindos de São Paulo, Belo Horizonte, e de diferentes regiões do Rio. "Não foi a Cufa quem os trouxe, mas o Secretário Nacional de Juventude do governo, Beto Cury. Nós só garantimos o espaço, como iremos garantir aos demais candidatos que aceitarem nosso convite", afirmou neste domingo ao Estado Celso Athayde, um dos coordenadores da entidade. Ele ressaltou que a Cufa é apartidária e que tenta apenas "mobilizar os desgraçados da periferia para se organizarem e se fazerem ouvir". O mesmo evento será, segundo Athayde, repetido no dia 23, quando o convidado será o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. Já a assessoria da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que os jovens que subiram ao palanque foram reunidos pela equipe de mobilização da campanha petista, e não pela Secretaria Nacional da Juventude. A assessoria também esclareceu que, da mesma forma, tanto o secretário nacional da Juventude, Beto Coury, como os oito ministros presentes ao evento no sábado, tiveram suas despesas pagas pela campanha petista. Segundo a assessoria petista, esta equipe de mobilização que convidou os jovens para subir ao palanque de Lula é coordenada por João Felício - presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e secretário sindical do PT - e todos os rapazes que prestaram depoimentos no evento têm ligação com o PT ou com as campanhas estaduais. Ela acrescentou ainda que a maioria deles já participou de outros tipos de evento. A Secretaria Geral da Presidência, órgão ao qual a Secretaria Nacional da Juventude está subordinada, também negou participação na organização do evento. De acordo com a assessoria da Secretaria, aquela foi "uma atividade de campanha" e, "atividade de campanha quem organiza e quem paga é a campanha". Da mesmo forma, explicou que os participantes do evento também "são convidados pela campanha". Depoimentos dos jovens Segundo o assessor de imprensa da campanha eleitoral de Lula, José Ramos, os jovens foram transportados com recursos do orçamento da Coordenação da Campanha do presidente. As crianças fotografadas com o presidente no palco vestindo camisetas do programa Segundo Tempo - voltado a alunos do ensino fundamental - estavam na platéia e foram autorizadas pelo próprio Lula a se aproximarem para a foto. Foram cinco depoimentos, inclusive de um representante indígena, participante do programa Pró-Índio. Todos falaram das iniciativas de inclusão social desenvolvidas pelo governo. "Se o Alckmin quiser trazer jovens participantes de programas desenvolvidos pelo governo paulista ou pelo prefeito do Rio, César Maia, seu aliado, vamos garantir a palavra. Iremos fazer da mesma forma como fizemos, inclusive com imagens do candidatos no palco e músicas da campanha, deixando a palavra livre até para criticar outros candidatos, como o Lula", disse Athayde. O encontro com os candidatos visa, segundo frisou, a encaminhar o documento com as 18 reivindicações reunidas por organizações ligadas aos jovens de comunidades carentes. Athayde, porém, sustenta que ninguém da Cufa, em especial seu parceiro de coordenação, o rapper MV Bill - que realizou com ele o documentário "Falcão, os meninos do tráfico" - pediu voto ou fez campanha pelo candidato. "O encontro tem todo um simbolismo. Queremos mostrar a capacidade das periferias se organizarem na busca de um canal permanente de diálogo", afirmou. Mas reconheceu que, por se tratarem de candidatos em campanha, não teve como evitar que virasse comício político. "No caso do presidente Lula ainda há o fato de ele ser ao mesmo tempo presidente e candidato. Não temos como impedir, embora nós da Cufa nem sequer declaramos nossos votos". Ele garantiu que o mesmo acontecerá com Cristovam Buarque (PDT) e Heloísa Helena (PSOL), se aceitarem o convite. "Ato de propaganda" Um dos advogados da campanha pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Márcio Luiz Silva disse neste domingo que não há ilegalidade no fato de crianças beneficiadas por programas federais terem subido no palanque para dar depoimentos e pedir votos para a reeleição. De acordo com o advogado, a campanha do principal adversário de Lula, o tucano Geraldo Alckmin, recorre costumeiramente ao mesmo expediente. "A propaganda do Alckmin não faz outra coisa", disse Silva, referindo-se à exibição, no horário eleitoral do tucano na televisão, de depoimentos de pessoas beneficiadas por programas promovidos pelo governo de São Paulo. "É um ato de propaganda." Especialistas em direito eleitoral avaliam que, de fato, é muito difícil Lula ser punido pelo episódio ocorrido na Cidade de Deus. Para que o presidente tivesse problemas com a Justiça Eleitoral, teria de ficar provado que um órgão do governo federal levou os jovens para o evento. Nesse caso, poderia ser aberta uma investigação por abuso de poder. (colaboraram Tânia Monteiro e Mariângela Gallucci) Matéria ampliada às 19h43

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