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Braço direito de Norambuena lutou na Colômbia

Por Agencia Estado
Atualização:

Antes de vir ao Brasil participar do seqüestro de Washington Olivetto, Alfredo Augusto Canales Moreno lutou no Chile, América Central e Colômbia. Ele era o representante do Movimento Esquerda Revolucionária (MIR) no grupo de seqüestradores que negociava com a família de Olivetto o resgate do publicitário. ?Estive cerca de dois anos na guerrilha colombiana?, afirmou em entrevista por escrito ao Estado. Ele negou, no entanto, a exemplo de Maurício Hernández Norambuena, que o Exército de Libertação Nacional (ELN) colombiano tenha participado do seqüestro e disse não manter contato com o ELN. Mas, além de Canales ter lutado na Colômbia, dois dos outros seis presos pelo seqüestro são colombianos: Marta Urrega, sua companheira, e Willian Gaona Becera. A seguir, a entrevista. Estado ? Quando o MIR decidiu participar do seqüestro de Olivetto? Por quê? Alfredo Augusto Canales Moreno ? Pelo que vejo, o senhor leu o processo. Há de saber que não tenho conhecimento da tomada de tal decisão dos detalhes da mesma Estado ? Quantos miristas tomaram parte no seqüestro? Canales ? Na etape em que eu participei, somente eu. Estado ? Qual era sua função no grupo? Canales ? Negociar Estado ? Por que o senhor esteve em Ilhabela com sua namorada? Quem pagou os gatos foi sua organização? Canales ? Muito mal-intencionada sua pergunta. Nesse lugar estivemos os seis que se encontram processados. também fomos a outros lugares. A razão foi sempre a mesma: dedicar-nos por completo à nossa responsabilidade, no caso de nós dois (ele e Maurício Norambuena). Nosso amigos, incluindo minha companheira, só nos acompanharam. Estado ? Por que nós devemos acreditar que o seqüestro teve motivação política? Canales ? Não me fica muito claro a quem se refere quando diz ?nós?. Quanto ao senhor, pode crer no que melhor se ajuste aos seus interesses. Duvido muito de suas motivações nessa entrevista e não creio que minhas palavras sejam capazes de mudar vossa opinião. Minha organização já tem 37 anos de vida. Neles demos significativos passos em direção à libertação do sul e também cometemos muitos erros que custaram derrotas e mortes de valiosos homens e mulheres. Sem dúvida, as motivações de todos os nossos atos sempre ficam claras e desse ponto de vista não merecem questionamento. Estado ? O senhor tem relação com algum grupo político brasileiro? Canales ? Não. Estado ? Algum brasileiro participou do seqüestro? Canales ? Tudo isso está no processo. Não. Na etapa que eu estive não participou nenhum brasileiro. Estado ? Qual foi a função dos colombianos no seqüestro? Canales ? Nenhuma. Estado ? Qual sua relação com os militantes do MIR preso no Brasil em 1989 pelo seqüestro de Abílio Diniz? Canales ? O MIR se dividiu faz mais de 15 anos. Não tive a oportunidade de conhecer esses companheiros e não tive nem tenho relação com eles. Estado ? Por que Olivetto foi o objetivo, a vítima escolhida? Canales ? Não sei, não tomei parte nessa decisão. Minha tarefa nção teria mudado com qualquer objetivo. Estado ? Como e quando o senhor começou sua atuação política? Canales ? Em 1985. Como muito adolescentes, em atividades antiditatoriais. Comecei como mensageiro do MIR, logo depois, como militante regular, participei de ações milicianas de denúncias e propaganda armada, etc. Alguns anos depois, tive a possibilidade de conhecer de mais perto a luta de libertação na América Central. Finalmente, participei do esforço de reconstrução de minha organização, dizimada e debandada pela repressão, dividida, desligitimada e em crise, o que levou vários outros anos. Estado ? Muito do MIR deixaram as armas. Por que os senhores seguiram nelas depois da redemocratização chilena? Canales ? Minha organização nasceu em 1965 ao lado de um processo de lutar e conquistas populares. O MIR não tomou vida como uma reposta armada à ditadura. Nós dizemos que faz mais de 500 anos que os nossos povos originários são obrigados a carregar nos ombros o pesado fardo de um império voraz. Por gerações resistimos á insaciável glutoneria dos poderosos. (... segue-se um relato sobre intervenções americanas na política latinoamericana, de Cuba a Colômbia) Nós, senhor, não aceitamos a vida que nos impuseram, não acreditamos na versão que nos entregam da história e da realidade. Estamos completamente rebelados, incrédulos, antagônicos, radicalmente subversivos, com e sem armas. Não desprezamos nenhuma forma de resistência digna. Não somos a vanguarda, nem a retaguarda nem tampouco nos arrogamos representantes do povo empobrecido e marginalizado. Somos uma expressão desses marginal, porém digno setor imensamente majoritário da população. Estado ? Miguel Villabela era o codinome de um de seus companheiros na operação. Esse nome foi uma homenagem a Miguel Henríquez e Artur Villabela, dirigentes do MIR mortos durante a ditadura de Augusto Pinochet? Canales ? Assim é. Miguel Villabela é uma pequena e simples homenagem a dois dos nosso líderes assassinados. O que não é certo é a participação de Miguel na operação. Estado ? O senhor fez treinamento em Cuba? Canales ? Nunca estive em Cuba Estado ? O senhor esteve na Colômbia? Mantém relações com o Exército de Libertação Nacional, segundo maior grupo da guerrilha colombiana? Canales ? Estive cerca de dois anos na guerrilha colombiana e não mantenho contato com eles. Estado ? O ELN financiou a operação? Canales ? A operação foi financiada por nós. Estado ? A polícia encontrou nos computadores dos senhores um documento da guerrilha do ELN. Como os senhores o obtiveram? Canales ? Haviam vários documentos e de muitas organizações. Não me recordo desse documento de foma específica, porém se mostraram ele ao senhor, sem dúvida estava lá. Lamentavelmente devo reconhecer que o obtivemos de uma forma bem menos conspirativa do que o senhor quer demonstrar... mais... lúdica se o quiser: via internet. Estado ? Quem fez as normas para o cativeiro de Olivetto? Por que eram tão rígidas? Para o promotor os senhores o torturaram. O que o senhor pensa dessa acusação? Canales ? Nãos ei quem fez as normas, nem se eles existem, ainda que saiba que a imprensa mostrou uma série de papéis e também, com muito pouca imaginação e muita especulação, ensinou a todo o mundo com fazer uma operação como a nossa. Com respeito à acusação que o senhor menciona, não tenho dúvidas que o distinto senhor que as faz não logra imaginar, nem em sonhos, o que seja a tortura. Estado ? familiares dos senhores disseram à imprensa que a polícia brasileira os torturou. É verdade? Canales ? Não sei se é verdade que nossos familiares tenham dito isso. Em meu caso, desde os 16 anos denuncio torturas (em Chile) diante diferentes tribunais em um trâmite lento, improdutivo e, sobretudo, muito pouco seguro. A tortura é o pão de cada em toda América Latina e se adotou como sistema de obter informações, verdadeiras ou falsas. Esse não é o problema, nem tem importância, o certo é que ela está assimilada culturalmente e isso será muito difícil de superar, lamentavelmente. Não é menos certo que fomos torturados... recordo um momento em que me levaram a uma sala em que cerca de oito policiais de Amparo praticavam esse edificante capítulo de suas histórias profissionais em um de nós. Minha memória conserva gravada em fogo essa imagem. Esse não é um bom tema, não quero falar mais sobre isso e passar por vítima. Não é mais que a constatação de uma realidade. Estado ? O que o senhor pretende fazer quando sair da prisão? Canales ? (Ele não respondeu esse pergunta, apenas anotou ao lado da folha com as perguntas: ?tonteria?).

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