Brasil perde cinco posições no ranking de desenvolvimento humano da ONU

Dados foram divulgados nesta terça-feira pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

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Por Carla Menezes , Mariana Hallal e Roberta Jansen
Atualização:

O Brasil caiu cinco posições no ranking de desenvolvimento humano das Nações Unidas, o IDH, que avalia os países de acordo com indicadores de saúde, escolaridade e renda da população. Embora o índice do País tenha passado de 0,762, em 2018, para 0,765 no ano passado, sua posição na lista recuou da 79ª para a 84ª no mesmo período.

Uma evolução mais favorável do IDH de outros países, um crescimento ínfimo dos indicadores de saúde e renda e a estagnação da educação foram as principais causas do resultado. O ritmo está derrubando o País no ranking global de forma continuada.

Orçamento do Ministério da Educaçãopara o ensino básico no Brasil em 2020 foi o mais baixo da década Foto: Werther Santana| Estadão

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O aumento do IDH brasileiro de 0,003 é classificado pelos pesquisadores do PNUD como um “crescimento lento”. No ranking de 189 países, o Brasil está bem atrás de outros países da América Latina, como Chile (43º), Argentina (46º), Uruguai (55º), Peru (79º) e Colômbia (82º). Mesmo assim, ele continua no grupo de países considerado “de alto desenvolvimento”.

“O resultado é ruim”, avalia o economista Daniel Duque, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “Não estamos conseguindo melhorar as condições de vida da população. Até temos alguns avanços, mas eles são muito tímidos e são mais lentos do que os avanços dos demais países em situação próxima da gente. Isso faz com que o Brasil esteja mais estagnado.”

Em 2019, a expectativa de vida no Brasil era de 75,9 anos, ligeiramente maior que a registrada um ano antes, 75,7. Em 2015, o índice era de 75 anos. Já a renda per capita anual saiu de US$ 14.182 em 2018 para US$ 14.263 no ano seguinte. Em 2015, o valor era de US$ 14.775.O desempenho do País na educação foi ainda pior. A expectativa de anos na escola (medida a partir das matrículas) está parada em 15,4 anos desde 2016. A média de anos de estudo de toda a população, por sua vez, passou de7,8 em 2018 para 8 anos em 2019.

“O Brasil sempre mostra algum avanço na saúde e a renda tem uma certa recuperação”, avalia Duque. “Mas na educação o País tem mais dificuldade de avançar.”

O Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU apresenta o IDH de 189 países. O índice varia de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1 for o número, melhor a classificação do país no ranking. A Noruega encabeça a lista, com 0,957, seguida por Irlanda, Suíça e Hong Kong. O último lugar da lista é ocupado pelo Níger (0,394).

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Quando a desigualdade econômica entra no cálculo do índice, no entanto, a queda do Brasil no ranking é ainda maior. O País perde nada menos que 20 posições. O IDH cai de 0,765 para 0,570 - uma redução de 25%. Isso acontece porque a concentração de renda no Brasil é uma das mais altas do mundo. A parcela dos 10% mais ricos da população têm 42% da renda total. O índice ajustado para a desigualdade é calculado para 150 países.

“Essa é uma fotografia muito ruim, mas já muito conhecida do Brasil, não acho que tenha sido uma surpresa”, afirmou o economista Marcelo Neri, do FGV social. “Até houve uma variação positiva, mas dado o tamanho do nosso problema não é animador.”

O Pnud também calculou um Índice de Desigualdade de Gênero (IDG), no qual o Brasil tampouco se sai bem. O País perdeu seis posições e fica na 95ª posição entre 162 nações.

Embora as mulheres tenham uma expectativa de vida maior (79,6 anos contra 72,2 dos homens) e passem mais tempo na escola do que os homens (8,2 anos contra 7,7 anos), a renda delas ainda é muito menor. As mulheres brasileiras recebem o equivalente a 58% da renda dos homens. A participação política das brasileiras também é muito baixa: elas ocupam apenas 15% dos assentos no Parlamento.

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“O rendimento das mulheres ainda é muito abaixo do dos homens”, constata Neri. “A situação deve piorar por conta da pandemia, em que elas foram mais afetadas e tiveram uma queda maior de renda e trabalho por conta de sua função dupla no mercado de trabalho e no trabalho domiciliar mais pesado.”

Em média, em todo o mundo, as mulheres recebem 56,57% da renda dos homens. Mesmo nos países com altíssimo IDH, como a Noruega, há diferenças significativas de renda (as mulheres recebem 79% da renda dos homens).

O relatório deste ano inclui um novo indicador, o Índice de Desenvolvimento Humano Ajustado às Pressões Planetárias (PHDI), que é um número ajustado do IDH de acordo com o nível de emissões de dióxido de carbono e de pegada de material per capita (volume de recursos naturais usados pela população). De acordo com a ONU, o índice deve servir como incentivo para a transformação. O PHDI do Brasil é de 0.710, ocupando a 74ª posição no ranking mundial. 

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Segundo o documento, a Amazônia corre o risco de se transformar de floresta tropical em uma savana com o aumento da devastação causada principalmente por incêndios e mudanças de uso das terras. "Em 2018 e 2019, a Bolívia e o Brasil vivenciaram grandes perdas florestais - a Bolívia devido a incêndios e à agricultura em larga escala e o Brasil principalmente pela exploração madeireira e desmatamento para outro uso das terras". 

Um dos trechos do relatório destaca a importância da conscientização da sociedade para a preservação do meio ambiente. Mesmo com 78% das pessoas em todo o mundo concordando que sustentabilidade é importante, as ações concretas para proteger recursos naturais ainda são escassas.

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Para a ONU, existem "incentivos que trabalham de forma subconsciente contra os valores das pessoas", como empresas que criam a percepção de novas necessidades sociais com investimentos de bilhões de dólares em marketing para supostos novos produtos "essenciais".No Brasil, o valor investido em marketing por apenas duas empresas - não citadas nominalmente no documento -, de US$ 1.48 bilhão, é quase oito vezes maior que o orçamento integral do Ministério do Meio Ambiente (US$0.19 bilhão).

O relatório reúne dados de 2019. Ou seja, não leva ainda em conta os impactos da pandemia de covid-19. O Pnud já sinalizou no entanto que o IDH médio do mundo (atualmente em 0,737) deve ter uma queda em 2020 por conta da doença. Isso nunca aconteceu desde que o relatório foi criado, em 1990. A queda do índice global está estimada em 0,020.

Segundo o Pnud, o novo coronavírus exacerbou as desigualdades existentes em todos os países. Pelas contas da ONU, a covid pode ter empurrado cerca de 100 milhões de pessoas para a extrema pobreza este ano, o pior revés de uma geração.

 

Ranking do 10 melhores colocados:

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  1. Chile - 0.851 (43º no mundo)
  2. Argentina - 0.845 (46º no mundo)
  3. Uruguai - 0.817 (55º no mundo) 
  4. Peru - 0.777 (79º no mundo)
  5. Colômbia - 0.767 (83º no mundo)
  6. Brasil - 0.765 (84º no mundo)
  7. Equador - 0.759 (86º no mundo)
  8. Paraguai - 0.728 (103º no mundo)
  9. Bolívia - 0.718 (107º no mundo)
  10. Venezuela - 0.711 (113º no mundo)

Ranking Mundial

  1. 1Noruega (0.957)
  2. Irlanda (0.955)
  3. Suíça (0.955)
  4. Hong Kong (0.949)
  5. Islândia (0.949)
  6. Alemanha (0.947)
  7. Suécia (0.945)
  8. Austrália (0.944)
  9. Holanda (0.944)
  10. Dinamarca (0.940)

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