Brasil vai às urnas sob novo escândalo, diz NYT

Jornal norte-americano destaca que escândalos ameaçam eleição de Lula

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Por Agencia Estado
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O jornal New York Times traz uma chamada na página principal de seu site sobre as eleições no Brasil neste domingo. A reportagem, com o título de "Brasil vai às urnas sob a sombra de outro escândalo", é assinada pelo jornalista Larry Rohter. "Com outro escândalo de corrupção batendo à porta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, será perguntado aos brasileiros hoje se vale a pena um segundo turno", começa o texto. Rohter, que chama Lula de "sr. Da Silva", traça um breve perfil dos principais presidenciáveis e destaca os escândalos envolvendo pessoas próximas ao presidente e a possibilidade de segundo turno, depois da divulgação das pesquisas de sábado. Veja abaixo a íntegra da reportagem. "Ex-operário e líder sindicalista de 60 anos, sr. da Silva vem liderando as pesquisas e parece em posição segura para terminar em primeiro lugar por uma margem confortável no primeiro turno. O drama que cerca a votação de hoje advém da incerteza sobre se o presidente, mais vulnerável depois de uma surpresa de setembro envolvendo alguns de seus assistentes mais próximos, vai obter a maioria necessária para evitar um segundo turno. Em um distante segundo lugar nas pesquisas, está Geraldo Alckmin, do PSDB, um médico de 53 anos e governador do Estado mais importante do País, São Paulo. Os outros dois candidatos - ex-aliados do sr. Da Silva - estão hoje posicionados à sua esquerda: Heloísa Helena de Moraes, do Partido do Socialismo e da Liberdade, e Cristovam Buarque, do Partido Democrático Trabalhista. Uma série de pesquisas tem mostrado consistentemente que eles têm juntos cerca de 10% dos votos. Em coletiva de imprensa para correspondentes estrangeiros ocorrida na última terça-feira, Alckmin reconheceu sua posição desfavorável, mas argumentou que um segundo turno será inevitável por causa do crescente desgosto dos eleitores com o novo escândalo e com o que ele chamou de ´corrosão da credibilidade do presidente´. ´O segundo turno é uma nova eleição´, disse ele, na qual o alto ´índice de rejeição´ a Lula será um fator importante. ´No primeiro turno, eu voto em quem eu quero, enquanto no segundo turno eu voto contra aquele que eu não quero.´ Eleito há quatro anos sobre uma plataforma de governo limpa, sr. Da Silva em vez disso presidiu o país em meio a escândalos de corrupção, desde a compra de votos no Congresso até o superfaturamento de ambulâncias e de contratos com o Correio. Os escândalos provocaram a renúncia de seu chefe de gabinete, do ministro da Fazenda e do presidente, tesoureiro e secretário geral do Partido dos Trabalhadores. Ainda assim, até meados de setembro, sr. Da Silva parecia no caminho para uma vitória no primeiro turno. Mas representantes do Partido dos Trabalhadores, fundado pelo sr. da Silva em 1980 e ainda liderado por ele, foram flagrados tentando pagar US$ 792 mil em dinheiro por um dossiê que eles pensavam que iria incriminar o partido do sr. Alckmin em um escândalo de corrupção. Até agora, esse escândalo, no Ministério da Saúde, envolveu principalmente o partido do sr. Da Silva. Como resultado, o coordenador da campanha do sr. da Silva renunciou. Cerca de 126 milhões de pessoas estão registradas para votar, a quarta maior democracia do mundo. A votação é obrigatória para todos os cidadãos entre 18 e 70 anos, mas a desilusão e a raiva, especialmente entre os eleitores mais jovens e idealistas, com a corrupção levam a preocupações de que alguns irão votar em branco ou nulo, ou mesmo ficar em casa, à custa de uma pequena multa. Analistas políticos são unânimes em concordar que o sr. da Silva quer a todo custo evitar um segundo turno, que ocorreria em 29 de outubro. Todos os dias a imprensa brasileira fica cheia de novas reportagens que incriminam seus companheiros mais próximos e que permitem que seus concorrentes levantem dúvidas sobre o conhecimento e o envolvimento do presidente em um caso que o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Marco Aurélio de Mello, chama de ´pior do que o Watergate´. O sr. da Silva tem respondido, acusando simultaneamente a oposição de tentar atingi-lo por meios não democráticos e reconhecendo vagamente que alguns aos seu redor são responsáveis pelo que ele chama de um ato ´insano´ de ´barbaridade´. Em campanha esta semana, sr. Da Silva comparou-se até mesmo com Jesus Cristo, afirmando que ambos foram traídos por seus discípulos. O destaque da campanha seria o debate dos quatro (principais) candidatos na quinta-feira à noite. Horas antes, no entanto, sr. da Silva anunciou que não iria participar, reclamando em carta enviada aos organizadores que ´alguns adversários´ pretendiam transformar a discussão ´numa arena de insultos e agressões, em um jogo de cartas marcadas´ contra ele, o mandatário. Mas a ausência do sr. da Silva não evitou que seus rivais se dirigissem à cadeira vazia com seu nome. ´Se as acusações forem provadas, o senhor irá renunciar?´, perguntou sr. Buarque, o primeiro ministro da Educação do presidente. ´Seus eleitores estão votando em você ou em seu vice-presidente?´".

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