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Brasileira acusada de forjar ataque é julgada na Suíça

Em fevereiro, Paula Oliveira disse ter abortado após agressão de neonazistas; depois, admitiu a armação à polícia

Por Jamil Chade e de O Estado de S. Paulo
Atualização:

A brasileira Paula Oliveira está sendo julgada nesta quarta-feira, 16, em Zurique, dez meses depois de ter criado uma polêmica em torno de um suposto ataque que teria sofrido. Ela, que até esta quarta-feira tem seu passaporte retido pela Justiça, está respondendo no Tribunal de Zurique pelo crime de "induzir a justiça ao erro". Segundo o Estado apurou, a brasileira pode ser condenada a pagar uma multa de R$ 10 mil pela armação. No escritório de seu advogado, a ordem era a de sequer confirmar que o julgamento ocorreria, um comportamento bem diferente da publicidade que a família buscou obter nos dias em que o suposto ataque ocorreu. 

 

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O julgamento começou as 8 horas da manhã do horário local (5 da manhã do horário de Brasília) e deve durar toda a quarta-feira. 

 

A Procuradoria de Zurique, que por sete meses investigou o caso, não pediu que a brasileira seja presa por considerar que uma pena financeira já seria suficiente. Ainda assim, os suíços decidiram aliviar a situação da brasileira. O pedido é para que ela pague os R$ 10 mil apenas se cometer uma nova infração. 

 

A única certeza é que, se condenada, a brasileira terá de pagar de forma simbólica os gastos do processo, de cerca de R$ 2 mil. Ontem, a assessoria de imprensa do Tribunal de Zurique confirmou a maior sala da corte foi reservada para o evento diante do interesse da imprensa local.  

 

Em fevereiro, a brasileira chamou a polícia e afirmou que havia sofrido um ataque na periferia de Zurique. Ela dizia estar grávida e ter sido agredida por neonazistas. Em seu primeiro depoimento, Paula diz ter sofrido um aborto de gêmeos e o caso mobilizou a diplomacia brasileira. O governo chegou a preparar uma ação na ONU, alegando um ataque xenófobo, e um verdadeiro circo político foi montado para atender a brasilera. 

 

Até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a fazer declarações, apontando para a "incrível violência contra uma mulher brasileira no exterior". Outros ministros lembraram o Holocausto. O pai da brasileira, Paulo Oliveira, era assessor de um parlamentar. 

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Agora, a ordem é sigilo total diante da acusação de armação. Para a polícia, Paula confessou nos dias seguintes ao ataque que tudo não passava de uma armação. Um laudo médico feito pela Universidade de Zurique provou que ela não estava grávida. Seu pai, Paulo Oliveira, continuou mantendo por semanas a tese de que não duvidaria da palavra de sua filha. Um processo foi aberto contra a brasileira e ela foi formalmente acusada. Caberá a um juiz do Tribunal de Zurique decidir a pena e se Paula sofria de distúrbios mentais. A procuradoria sequer citou o fator psiquiátrico na denúncia.

 

Roger Muller, advogado de Paula, vem mantendo a tese de distúrbios mentais e a brasileira chegou a ser internada em uma clínica psiquiátrica em Zurique. Mas o que conta para a Justiça era o estado mental de Paula no momento do ataque forjado.

 

Muller, porém, não falou com a imprensa desde sua acusação formal e faz mistério até se sua cliente será julgada ou não. O Estado apurou que ele levará hoje ao tribunal novas provas sobre a brasileira. "Paula não reconhece a acusação formulada pela Procuradoria Superior do Ministério Público do Cantão de Zurique", afirmou, há dois meses em seu último comunicado. Em consequência disso, enquanto ela não tiver sido declarada culpada por sentença transitada em julgamento, o advogado insiste na inocência de sua cliente. 

 

Muller tentou garantir que a confissão à polícia não tinha valor e, portanto, apenas o que ela dissesse perante a Justiça é que seria considerado. O Ministério Público de Zurique admitiu que a versão contada à polícia não seria suficiente para que o caso fosse fechado e ela condenada. Mas a Justiça garante que irá considerar também o que foi dito e assinado perante a polícia.

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