Brasileiros detidos no aeroporto de Madri relatam maus-tratos

Ao menos 5 pessoas, incluindo uma criança, de um grupo de 20 brasileiros, reclamam do atendimento espanhol

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Por Efe
Atualização:

Pelo menos cinco brasileiros que foram detidos no último domingo pelas autoridades de imigração do aeroporto de Barajas, em Madri, relataram com exclusividade à TVEFE que estão sofrendo maus-tratos. Eles faziam parte de um grupo de 20 brasileiros que foram impedidos de entrar na Espanha. Entre as cinco pessoas que ainda permanecem no aeroporto há uma criança de apenas 9 anos. Veja também: Compositor Guinga acusa polícia espanhola de agressão Brasileiros acusados de falsificação são presos na Espanha Brasileiros são os estrangeiros mais barrados em Madri Este é o caso da universitária baiana Kauyna do Carmo Oliveira, de 21 anos, que está detida em uma sala do aeroporto e que reclama do tratamento recebido e da falta de informações. "Passei por Madri só para fazer uma conexão, meu destino final era a Itália, onde mora minha mãe. Os policiais disseram que minha carta convite não tinha o selo oficial e que, por isto, não era válida para entrar no país", declarou Kauyna por telefone. "Foi muita humilhação. É muito triste saber que não vou poder ver minha mãe. Eles nos tratam muito mal, são grossos e gritam conosco", afirma. A estudante baiana Dayse Santana, de 20 anos, também está retida no aeroporto de Madri. Ela conta que está sem escovar os dentes e sem trocar de roupa desde domingo, pois as autoridades espanholas retiveram suas malas, seu celular e sua máquina fotográfica. "Durante o interrogatório eles perguntavam as coisas no maior cinismo e não nos deixavam responder. No primeiro dia eu só chorava e eles gritavam. Como eu não entendo espanhol ficava ainda mais nervosa", declarou Dayse à emissora. Dayse contou que ia passar duas semanas com suas irmãs que moram na Espanha, mas foi impedida de entrar no país porque, segundo as autoridades do aeroporto, ela não tinha uma carta convite, um dos documentos exigidos. Segundo informações dos próprios turistas, os cinco brasileiros ainda retidos em Barajas seriam mandados de volta ao Brasil ainda nesta terça. Já a polícia espanhola informou à TVEFE que eles não foram autorizados a entrar na Espanha porque não apresentaram todos os documentos exigidos pela lei. Os policiais não especificaram que documentos seriam estes. Por e-mail, o Consulado do Brasil em Madri esclareceu que não tem como reverter qualquer decisão de recusa de admissão na Espanha, pois é "de competência exclusiva das autoridades locais de imigração". O Consulado brasileiro também afirmou que a Espanha, como fronteira externa do Espaço Schengen, deve cumprir as normas da Comissão Europeia (CE) ao decidir permitir ou não a entrada de estrangeiros. Para evitar novos episódios como este o site do Consulado brasileiro em Madri disponibiliza um link no qual especifica a documentação necessária para entrar na Espanha como turista. Em 2008, os brasileiros lideraram a relação de estrangeiros barrados pelas autoridades da Espanha em sua chegada ao país pelo aeroporto de Barajas, em Madri. Segundo informações oficiais, 2.500 brasileiros foram impedidos de entrar no país pela capital espanhola durante o ano passado, menos que os 2.764 barrados em 2007. Histórico Não é a primeira vez que brasileiros se queixam de maus tratos de policiais no Aeroporto de Barajas. Há duas semanas, o compositor Guinga, de 60 anos, acusou a polícia espanhola de agredi-lo no aeroporto, após ele tentar reclmar do sumiço de seus pertences. Segundo o músico, um agente lhe deu um soco na boca que resultou na perca de dois dentes e uma infecção bucal. No início do ano passado, pouco antes das eleições presidenciais espanholas, também houve uma onda de deportações de brasileiros que fez o Ministério das Relações Exteriores (MRE) adotar o princípio da reciprocidade diplomática. Um grupo de cerca de 30 pessoas, entre elas os estudantes Pedro Luiz Lima, de 25 anos, e Patrícia Rangel, de 23, que seguiam para congressos em outras cidades europeias, foi retido e deportado. O auge das deportações - cerca de 20 por dia - ocorreu em janeiro e fevereiro de 2008. Atualmente a média é de 3 a 4 brasileiros barrados por dia, nível que é considerado "tolerável" pelo governo brasileiro.

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