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Cabral faz mea culpa e diz que houve precipitação ao anunciar ''ministro''

Governador do Rio tenta consertar mal-estar provocado com cúpula do PMDB e equipe de transição de Dilma depois de ter afirmado que seu secretário, Sergio Côrtes, seria o novo ministro da Saúde; aliados da presidente eleita tentam minimizar ruídos

Por Ariel Palacios e Marina Guimarães
Atualização:

Após provocar uma rebelião entre os próprios correligionários e ser desautorizado pela equipe de transição da presidente eleita, Dilma Rousseff, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), declarou ontem que pedia "desculpas" por sua "precipitação" em anunciar o nome de seu secretário de Saúde, Sergio Luiz Côrtes, como o ministro da Saúde. "Foi uma deselegância minha", afirmou, em tom de mea culpa."A presidente me chamou para uma conversa na segunda-feira na Granja do Torto. Ali, ela demonstrou seu desejo de ter o secretário Côrtes, que é um técnico altamente qualificado, como ministro. Mas, dali a formalizar um convite, há uma diferença. Ela expressou o desejo de tê-lo, como uma expectativa, mas, na verdade, a precipitação foi minha, pois o Côrtes é o melhor técnico em saúde pública do Brasil", justificou o governador, que passou breves horas na Argentina para participar da inauguração de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) em Lomas de Zamora, na periferia de Buenos Aires, aos moldes do sistema aplicado no Rio de Janeiro. Cabral era o padrinho da indicação de Cortes para a Saúde - iniciativa que não foi aceita por seu partido e pelo vice de Dilma, o deputado Michel Temer, também presidente da sigla."Eu me entusiasmei e me precipitei. Mas quem decide quem será ministro da República é a presidente ou alguém que tenha a delegação dela para isso", acrescentou o governador.Questionado por jornalistas se "havia levado um puxão de orelhas" de Dilma, ele respondeu sorrindo: "Falei com ela três vezes ontem (quarta-feira). Somos bons amigos. Temos uma relação de profundo respeito". A equipe de transição age para minimizar os ruídos com o PMDB. A presidente eleita chegou a afirmar, em reunião com especialistas da saúde, que não havia definido o nome do futuro titular da pasta. Hoje, nomes de ministros acordados com o partido serão anunciados (leia matéria abaixo). Ontem, em Belo Horizonte, o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, - que deverá continuar no primeiro escalão do governo de Dilma Rousseff - afirmou que tanto Temer como a presidente eleita terão "sabedoria" para administrar o mal-estar gerado na formação da equipe ministerial. Ele adiantou que a composição do novo ministério será feita com "quadros da confiança da presidente eleita" e "com a composição partidária, para que o conjunto da coligação se sinta parte do governo".Chance. As chances de Côrtes ser nomeado ministro são mínimas hoje. Além do imbróglio no PMDB, que não o reconhece como uma indicação partidária, mas sim como uma escolha de Cabral e de Dilma, pesam ainda as denúncias contra sua gestão.Ainda assim, em entrevista após a inauguração da UPA argentina, o governador do Rio defendeu Côrtes e sua gestão como secretário de Saúde - ele está sendo investigado pelo Ministério Público do Rio por supostas irregularidades em contratos de terceirização do setor. "Qualquer administrador está sujeito a ter suas ações questionadas", justificou o governador Sérgio Cabral. As denúncias, prosseguiu, são parte de "interesses contrariados por uma secretaria extremamente aberta e transparente".Na avaliação do governador, graças a Côrtes o Ministério da Saúde tem, no Rio, uma presença física "muito superior à de qualquer outro Estado". As políticas públicas implementadas pelo secretário na área de saúde, acrescentou Sérgio Cabral, despertam muitas contrariedades e a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Assembleia Legislativa do Rio, assim como a nova investigação iniciada pelo Ministério Público, são normais na gestão pública. Cota fluminense. Em meio à confusão com o PMDB, o PT passou a reivindicar a pasta do Meio Ambiente para a atual secretária de Ambiente do Rio, Marilene Ramos, uma petista que também tem a simpatia do governador Sérgio Cabral. Os petistas são contra a permanência da atual ministra, Izabella Teixeira, uma técnica sem filiação partidária, que é apoiada pelo presidente Lula. A indicação de Marilene começou a ser trabalhada pelo deputado Luiz Sérgio (PT-RJ) sob o argumento de que a ala carioca do partido até agora não foi contemplada.O nome de Marilena foi levado ao presidente do PT, José Eduardo Dutra. Consultado, Cabral fez elogios à auxiliar, o que lhe deu mais força na corrida pelo ministério. / COLABORARAM MARCELO PORTELA, WILSON TOSTA e VERA ROSAPONTOS-CHAVETemporãoEm 2007, a proximidade com Lula garantiu a Sérgio Cabral a indicação de José Gomes Temporão como ministro da Saúde. A nomeação foi feita à revelia do comando do PMDB.CampanhaDurante a campanha presidencial, Cabral aumenta seu prestígio com Lula e Dilma ao garantir larga vantagem para a candidata sobre José Serra entre os eleitores do Rio de Janeiro.Complexo do AlemãoO governo do Rio colhe o sucesso com a opinião pública pela bem sucedida retomada do Complexo do Alemão. A operação, que reuniu militares e policiais, tirou do tráfico de drogas o controle da área.DerrotasCabral vaza antes da hora a indicação de Sérgio Côrtes para a Saúde e a nomeação é implodida pelo PMDB. No mesmo dia, é derrotado no Congresso na divisão dos royalties do pré-sal.

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