''Cada um faz a sua moda. As pessoas devem ter orgulho do que são''

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Por Valéria França
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Caminhoneira, Valdete Matos, de 31 anos, representa uma classe que está sendo homenageada nessa São Paulo Fashion Week. A cenógrafa Daniela Thomas forrou as paredes do segundo andar da Bienal com frases da traseira de caminhões. "Essa ironia que faz parte da nossa cultura e a brasilidade é o mote da edição", explica Paulo Borges, diretor do evento. Valdete foi conferir de perto a homenagem. Logo na entrada, ela deu de cara com a hostess, uma Carmen Miranda estilizada. "Aqui só tem roupa para artista", disse a caminhoneira. De rímel, batom, unha francesinha e brincos de borboleta, ela transporta combustível na Grande São Paulo todos os dias. Valdete está sempre de uniforme, calça cinza e blusa vermelha. Para descarregar, usa boné e capacete. Na Bienal, ela apareceu com o look que usa para trabalhar. Mas avisa: "Eu adoro moda." Valdete sabe tudo que pode e não pode usar. Viu uma mulher com um vestido longo de babados e comentou: "Essa saia engorda muito, e a mulher já é gordinha." Depois, criticou outra convidada que passou de bolsa amarela e lenço colorido no pescoço. "Para que tanta cor? O melhor é usar coisas que não chamem atenção. Veja aquela menina de frente única preta. Está elegante e discreta." Três modelos, homens, pararam atrás de Valdete. Usavam calça skinny e lenço palestino no pescoço. Ela adorou. Mas emendou: "Não deixaria meu marido usar isso, não. Só compro para ele calça e camiseta." Valdete mora hoje com o terceiro marido e tem dois filhos, Daniel, de 10 anos, e Yasmim, de 5. Apesar das críticas, ela gostou de ver tanta gente vestida de jeitos tão peculiares. "Cada um faz a sua moda. As pessoas devem ter orgulho do que são e do que fazem. Quando dirigia o caminhão de lixo, adorava sair com meu uniforme. Nunca troquei de roupa para ir para casa."

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