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Cães aposentados da Polícia Militar ganham novos lares em Pernambuco

Campanha de adoção é sucesso no Instagram e candidato a dono tem de comprovar que cuidará bem do animal

Por Jessica Brasil Skroch
Atualização:

Gaia, uma pastor-belga-malinois, teve uma vida inteira dedicada ao trabalho para a Companhia Independente de Polícia com Cães (CIPCães) da Polícia Militar de Pernambuco. Por oito anos, a cadela teve uma rotina com múltiplas funções: atuou nas diversas modalidades de faro, na patrulha e como guarda de proteção. Hoje, Gaia vive uma aposentadoria tranquila graças à campanha de adoção "Adote um herói", criada pela corporação policial onde vivia e trabalhava. 

Os cães da CIPCães do Estado já eram comumente adotados quando chegavam por volta dos oito anos, idade em que começam a parar de servir à sociedade. Porém, grande parte dos policiais e adestradores das equipes de Pernambuco já tinham algum cão em casa, e os animais policiais aposentados começaram a ficar sem um novo lar, permanecendo em suas unidades de trabalho até o fim da vida. "Imagine você se aposentar e ter que viver no seu ambiente de trabalho?", indaga o major André Pantaleão, comandante da CIPCães. A solução, então, foi criar uma campanha de adoção aberta a toda a comunidade, divulgada no final de novembro deste ano pelo Instagram da companhia: @cipcaes.pmpe.

Otto, cão aposentado da polícia, participa da campanha de adoção Foto: CIPCAES

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Até agora, quatro cães já estão em seus novos lares e outros 11 estão em processo de entrega aos donos. Tratam-se de animais que trabalharam desde pequenos junto à segurança pública nas atividades de faro de entorpecentes, explosivos, celulares, armas, na patrulha e como guardas de proteção.

Mesmo antes do lançamento da iniciativa, já existiam candidatos que buscavam adotar um cão policial. Depois da publicação nas redes sociais, o número de pretendentes só aumentou. Atualmente, são em torno de seis a dez proponentes para cada cão, explica o major Pantaleão.

Um dos primeiros da fila foi Pablo Brasileiro, personal trainer, que já estava buscando um cão mais maduro para acompanhar a Preta, sua cadela de cinco anos. Em conversa com um de seus alunos, que faz parte da PM de Pernambuco, ele ficou sabendo da nova possibilidade e logo se candidatou. 

O processo para adoção é bem criterioso. Brasileiro precisou comparecer presencialmente na unidade duas vezes, preencher o requerimento de doação, realizar uma entrevista, além de assinar um termo de responsabilidade pela posse do animal, de forma a se comprometer com os cuidados adequados em relação a abrigo, alimentação, medicamentos e visitas constantes ao veterinário. Por conta da idade, o cão não pode ser usado em nenhuma atividade laboral, para procriação ou em competições. O proponente ainda deve dispor de espaço limpo, seco e suficiente para atividades lúdicas com o cão a ser adotado. 

Os requisitos não param por aí. Além de apresentar diversos documentos, o futuro dono também precisa aceitar visitas não agendadas da equipe multidisciplinar do CIPCães, que verificam a situação do animal. O major Pantaleão explica que, caso seja verificada alguma irregularidade, o cão será retirado do local e retornará para a companhia ou para entrar num novo processo de adoção. "Achei fantástico. É uma preocupação importante para evitar alguém mal intencionado, principalmente porque são cães de raça e poderiam ser usados para procriar", opina Brasileiro. 

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O personal trainer não só cumpriu todos os requisitos, como teve uma conexão especial com Gaia. "Eu fui lá conhecer os cães e logo eu bati o olho em Gaia. Fiquei e passeei com ela. Fiz outra visita, para ter certeza de que a cadelinha teve uma boa adaptação comigo. Ela é muito tranquila", lembra Brasileiro. Hoje, Gaia convive muito bem com todas as pessoas que frequentam a casa do dono, inclusive com crianças. A Preta, sua outra cadela, também gosta da nova integrante da casa: "Quando elas se juntam é um bagunça, tiram tudo do lugar", conta. 

Pablo Brasileiro com a nova integrante da casa, Gaia. O personal trainer foi um dos primeiros a ser aprovado no processo de adoção de cães aposentados da CIPCães de Pernambuco Foto: ARQUIVO PESSOAL

Diferente do que muitos podem pensar, os cães policiais que estão para adoção são dóceis, alerta Pantaleão. "São animais que têm condições de conviver com novas pessoas e outros animais", informa. Porém, existem cães que não podem participar do processo de adoção, como aqueles com dificuldades de socialização. Nesses casos, os animais permanecem com a companhia.

O major avalia como muito positiva a oportunidade de adotar um "herói" que trabalhou para a sociedade, mas confessa que a partida é um momento triste. "Toda despedida é dolorosa. Passamos muito tempo com esses animais, ficamos saudosos, mas sabemos que com a nova família eles terão a mesma atenção que aqui." 

Como cuidar de cães idosos

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Os cães idosos são os que têm maior dificuldade de encontrar adotantes. Porém, assim como Brasileiro, há pessoas que preferem adotar um animal mais maduro. Um dos pontos positivos é que, segundo Enore Massoni, presidente da Associação Brasileira de Geriatria Veterinária, eles já estão com a personalidade formada, então não haverá surpresas de um animal que pode se tornar agressivo de uma hora para a outra. "De uma maneira geral, quando são adotados, são aqueles que mais demonstram gratidão e são carinhosos", afirma.

Para as pessoas que pretendem adotar um cão idoso, é importante procurar saber a sua história, pelo o que ele já passou, se possui traumas ou doenças, explica Massoni. Além disso, uma série de cuidados especiais são necessários para garantir a qualidade de vida nessa fase. 

O veterinário explica que cães idosos tendem a perder massa muscular e a acumular gordura, o que faz com que seja necessária uma restrição de carboidratos e um aumento de proteína, com alimentos de qualidade e boa digestibilidade. Outro ponto colocado pelo especialista é a importância da realização de atividades físicas, o que também exercita o sistema cognitivo, prevenindo ou aliviando os sintomas do Alzheimer canino. Porém, Massoni ressalta que é preciso respeitar os períodos de descanso.

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Animais idosos ainda possuem a mobilidade reduzida. "É muito importante facilitar a mobilidade, utilizar tapetes antiderrapantes, instalar rampas em escadas, elevar comedouros e bebedouros", sugere o veterinário.

Nos dias mais frios ou mais quentes, os cães idosos também precisam de uma atenção especial. O veterinário coloca que nessa fase eles perdem parte da sua capacidade de termorregulação, ou seja, ficam mais susceptíveis a hipotermia ou hipertermia. 

Assim como os humanos, animais mais maduros estão mais suscetíveis a diversas doenças. Por isso, visitas ao veterinário devem ser mais frequentes. "O ideal é a utilização de programas de saúde com visitas estipuladas de acordo com a gravidade de cada caso. Em idosos saudáveis, o recomendado são visitas, no mínimo, semestrais", indica Massoni. 

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