O uso do cinto de segurança, que parecia incorporado ao dia-a-dia dos motoristas e "co-pilotos" da nova geração, começou a "descer a ladeira", alerta uma pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em levantamento feito com 1.034 estudantes de faculdades públicas e privadas de São Paulo e Rio, os autores diagnosticaram que, em 2006, 93% dos que se sentavam no banco do carona usavam a proteção. Já na enquete deste ano o índice caiu para 85%. "Como o uso do cinto pelo motorista se manteve estável nos dois estudos (na marca dos 95%), acredito que na situação para os caronas há maior desleixo, já que o carro é de outra pessoa", afirma Sérgio Franco, médico ortopedista e autor do estudo apresentado há alguns dias em congresso promovido pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT). Números da Companhia de Engenharia e Tráfego (CET) confirmam que é crescente a infração cometida por paulistanos por falta do cinto de segurança. Entre 2006 e 2007, o número de multas do tipo cresceu 9%, saindo de 110.315 para 120.058 - uma média de 13 por hora (números de 2008 ainda não foram tabulados). No mesmo período, a frota de automóveis na capital cresceu 5,8%, em menor proporção que o aumento de infrações, informam os números do Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Apesar de a CET não ter balanço separado de quantas infrações foram em decorrência do não-uso do cinto por motoristas ou passageiros, o levantamento confirma que os caronas são mais displicentes: 94% dos condutores usam o cinto, ante 90% dos que se sentam ao seu lado. Sérgio Berti, diretor da ONG Direção Segura, explica a queda da utilização do cinto por parte dos universitários: "O uso foi um hábito adquirido. São raros os que têm o entendimento do risco que é não colocar o cinto de segurança. E quando falta conscientização, a chance de displicência é maior." DISTRAÇÃO Horácio Augusto Figueira, consultor de trânsito, analisou o comportamento de 628 carros, que circulavam por todas as áreas da capital. Uma das constatações é que as infrações ocorrem com mais freqüência quando o número de passageiros dentro do veículo é maior. No caso do cinto de segurança, por exemplo, enquanto a média de não-uso foi de 14%, quando havia mais de duas pessoas a porcentagem subia para 18%. "Uma das hipóteses é de que as pessoas conversam e acabam cometendo infrações", avalia Figueira. Foi o que ocorreu com o estudante de Direito José Sanches Neto, 21 anos, em julho, quando foi multado em R$ R$ 127,69 e cinco pontos na carteira porque o carona não usava cinto. Pelo horário, o jovem acredita que foi quando ele voltava do jogo de futebol. "Quase não acreditei. Pior que, nesse dia, levei tanta gente no carro que nem imagino quem foi."