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Caixas-pretas do Boeing da Gol estão danificadas", segundo Anac

Agência anunciou também a criação da comissão de investigação do acidente

Por Agencia Estado
Atualização:

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) informou nesta terça-feira, 2, que as duas caixas-pretas do Boeing 737-800 da Gol que caiu na floresta amazônica na última sexta-feira, estão "bastante danificadas". Ainda de acordo com a nota divulgada pela Agência, " foi encontrada apenas uma parte do registrador de voz, faltando a unidade de armazenamento de dados. Esta unidade é essencial para a análise, e continuam as buscas por ela, na Serra do Cachimbo (MT)." A Anac também informou que formalizada a criação da comissão de investigação do acidente e que as duas caixas-pretas já foram entregues aos seus integrantes. A comissão é formada por seis membros fixos. Os seis são representantes do Comando da Aeronáutica, da Anac, dos fabricantes das aeronaves e dos motores, de entidades de classe e peritos internacionais. A comissão, presidida pelo coronel da Aeronáutica Rufino da Silva Ferreira, terá 40 dias para apresentar seu relatório sobre o acidente e suas causas - período que pode ser ampliado, se necessário. Altitude errada De acordo com as investigações, o jato Legacy estava na altitude errada quando bateu no Boeing 737-800 da Gol na sexta-feira. Isso porque o piloto Joseph Lepore e o co-piloto Jean Paul Palladino, que comandavam o Legacy, disseram à polícia de Mato Grosso que tinham autorização da torre de Brasília para efetuar o plano de vôo a 37 mil pés (11 mil metros) de São José dos Campos (SP) até Manaus, onde fariam escala antes de seguir para os Estados Unidos. O problema é que o jato devia mudar para 36 mil pés ao passar por Brasília. O choque das aeronaves derrubou o Boeing e causou o pior acidente da história do País, com 155 mortos. A razão pela qual o Legacy não podia estar a 37 mil pés é a organização do espaço aéreo brasileiro. Dependendo do sentido em que trafega o avião, ele deve usar níveis de altitude pares ou ímpares. No caso do jato, vendido pela Embraer para a empresa americana ExcelAire, a viagem até Brasília era feita em uma altitude ímpar (37 mil). Entretanto, ao passar pela capital, essa direção mudou. Assim, a aeronave devia seguir por uma altitude par (36 mil). O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos da Silva Bueno, afirmou na segunda-feira, 2, que nenhum dos dois aviões envolvidos no acidente havia solicitado ou recebido autorização para mudar a altura do vôo. ´Alguém deve ter saído do plano (original) de vôo´, disse o brigadeiro. Silva confirmou que o plano do avião da Gol previa vôo a 37 mil pés, e o do Legacy, a 36 mil pés. Bueno disse que não sabia em qual altura ocorreu o acidente, tampouco qual avião se desviou do curso. ´Esse é o dado principal da investigação.´ Suspeita-se, na Aeronáutica, que o choque ocorreu a 37 mil pés. Antes da declaração do comandante da Força Aérea, oficiais da Aeronáutica ouvidos pelo Estado já haviam confirmado que não houve autorização para que o Legacy fizesse toda a viagem a 37 mil pés. Eles afirmam que é impossível que isso tenha ocorrido, pois seria como autorizar alguém a trafegar na contramão. Segundo os oficiais, o Legacy foi alertado pelos controladores de vôo do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta-1), com sede em Brasília, de que estava na rota errada, mas não respondeu. Enquanto isso, o Boeing da Gol era controlado pelos operadores do Cindacta-4, com sede em Manaus. Sistema anticolisão No momento da colisão, o Boeing estava a cerca de 200 quilômetros do trecho onde passaria a ser monitorado pelo Cindacta-1. Só a partir desse ponto é que os controladores dos Cindactas se comunicariam para que um entregasse o vôo ao outro. O mesmo ocorria com o Legacy. Ambas as aeronaves estavam na área de interseção dos dois centros, mas não haviam chegado ao momento de troca. A grande dúvida entre oficiais é saber por que o sistema anticolisão, o TCAS, não funcionou. Os dois aviões tinham esse sistema, que acusa a aproximação de outra aeronave. Ele é acoplado ao transponder, que emite sinais para que os radares controlem a posição de cada avião, identificando-os no espaço aéreo. À polícia, os pilotos afirmaram que o equipamento anticolisão da aeronave estava ligado e não emitiu nenhum alerta sobre a aproximação do Boeing. ´Os pilotos alegaram que seguiram a rota do plano de vôo e não viram o avião da Gol. Só após pousarem na Base Aérea do Cachimbo é que ficaram sabendo do desaparecimento do Boeing.´

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