Campanha expõe isolamento

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Por Redação
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Nas ruas de Belém, maior metrópole da Amazônia, onde tem 47% de rejeição, segundo o Ibope, a governadora do Pará e candidata à reeleição, Ana Júlia Carepa, montou um esquema para fazer campanha sem passar constrangimentos. O guia da governadora para sair às ruas de Belém sem a companhia de Lula prioriza bairros com obras em andamento, compensa a perda de entusiasmo de militantes com a contratação de cabos eleitorais que recebem R$ 50 por semana e conta com a blindagem de uma vasta equipe de marqueteiros que impede abordagens de jornalistas. Tarde de mormaço no bairro do Tapanã, periferia de Belém. A agenda de Ana Júlia prevê uma caminhada às 15 horas, horário de expediente dela no governo do Estado. A tática da "escapadinha" nem sempre funciona com eficiência. Ela faltou ao compromisso no bairro. Uma multidão de cabos eleitorais, no entanto, percorreu a rua escolhida para a caminhada, sem calçamento, onde na véspera uma patrola passou, acabando com os buracos. "A Ana Júlia e sua turma só entram em rua que estão mexendo", diz a comerciante Marlete da Conceição do Nascimento, 30 anos, eleitora de Dilma Rousseff. A estratégia da patrola não disfarça a precariedade das condições da rua. Nas duas margens, línguas pretas de esgoto refletem os raios do sol abrasador. Em Tapanã, há um problema maior: o desemprego. Ana Júlia também tem feito campanha dentro de fábricas. Na manhã de quinta-feira, ela tomou café com os funcionários da Tramontina, no distrito industrial de Icoaraci. Foi com muito custo que os diretores da empresa conseguiram convencer os funcionários a ouvir a governadora. Depois de um discurso em que repetia o nome de Lula a cada frase, ela abriu para perguntas. Uma funcionária, de nome Cássia, perguntou por que ela não instala uma universidade federal na região. "Quem constrói universidade federal é o governo federal, meu amor", disse, ríspida. "Mas poderia fazer", rebateu a funcionária. Mais calma, a governadora surpreendeu: "A Cássia acabou de garantir um núcleo da Universidade Estadual do Pará em Icoaraci." Logo depois, um diretor da empresa comentou com a governadora, numa conversa reservada, que a funcionária tinha colocado ela em saia-justa. "Mas você viu que eu, oh...", respondeu Ana Júlia.

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