Capão é o novo ''Morumbi Sul'' em SP

Mercado imobiliário busca agora filões inexplorados na periferia

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Por Bruno Paes Manso e Diego Zanchetta
Atualização:

O mercado imobiliário em São Paulo começa a buscar novos filões inexplorados da cidade: as periferias. Dados da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp) confirmam a nova tendência no mercado paulistano de buscar terrenos mais baratos em áreas distantes e de criar empreendimentos de médio padrão. No primeiro bimestre deste ano, o setor imobiliário foi puxado por lançamentos de unidades de dois dormitórios. Foram 24 no total, enquanto no ano passado haviam sido 15. Dezenove desses lançamentos ocorreram na zona leste de São Paulo - 12 na Penha, 3 em Arthur Alvim e 4 em São Miguel Paulista. "A falta de estoque e de terrenos baratos nas regiões centrais e a demanda popular são alguns dos fatores", explica o presidente da Embraesp, Luiz Paulo Pompeia. Empresas como a Cyrela, associadas a lançamentos de alto padrão (1 apartamento por andar e quatro dormitórios), criaram segmentos voltados para o mercado popular, caso do Living, com apartamentos de dois dormitórios. "Em época de crise, esse é um tipo de produto com maior velocidade de venda no mercado. Existe uma demanda real por habitação no Brasil, o que deve atrair em breve investimentos externos", diz o presidente do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo (Secovi), João Crestana. O ano não começou tão mal. Dados da empresa apontam 43 lançamentos imobiliários em janeiro e fevereiro de 2009, número que iguala o total registrado no mesmo período do ano passado na Grande São Paulo. O primeiro bimestre de 2007 permanece imbatível, com 65 lançamentos. MUDANÇA DE PERFIL No noticiário policial dos anos 1990, o Capão Redondo virou símbolo da violência. Em 1999, atingiu a média de 116,23 homicídios por 100 mil habitantes. Lojas de eletrodomésticos não faziam entregas na região e era comum jovens moradores mentirem o endereço no currículo. Uma década se passou, os homicídios despencaram, o metrô chegou e o Capão Redondo virou "Morumbi Sul" nos folders imobiliários e no novo comércio da região. "Morumbi é o maior bairro do mundo.Vemos muitos bairros nas redondezas receber esse nome", diz o economista-chefe do Secovi, Celso Petrucci. Em parte do Capão, Morumbi Sul já é usado pelas empreiteiras, que não param de erguer prédios ao longo da Estrada de Itapecerica, e ganhou a simpatia da população, cansada do velho estigma do bairro. "Morumbi Sul" já virou nome de farmácia, de restaurante por quilo, de faculdade, de escola. Segundo corretores de imóveis, a vantagem da região são os condomínios de R$ 300 em apartamentos de três dormitórios vendidos por menos de R$ 200 mil. A palavra Capão Redondo é proibida nos estandes das construtoras. "Se há dez anos alguém falasse que aqui teria shopping, faculdade, cinema e condomínio fechado com piscina, com certeza seria chamado de louco", diz a enfermeira Solange Costa, de 36 anos, nascida e criada no Capão. Ela conta que gostaria de poder aproveitar o bairro como a filha de 14 anos faz hoje. "Eu nunca podia sair à noite. Tinha chacina toda hora e tive muitos amigos que morreram. Imagine que um dia eu ia pensar que minha filha poderia ir ao cinema e pegar metrô no Capão? Tem até gente do Morumbi que veio morar no meu condomínio", conta Solange, que trocou a casa dos pais em uma ocupação da região por um apartamento de três dormitórios. De acordo com a Embraesp, nos últimos cinco anos foram lançados 25 empreendimentos residenciais no distrito do Campo Limpo - que engloba Capão Redondo, Jardim Ângela e Jardim São Luís. Foram também vendidos pela Prefeitura 15 mil metros quadrados de estoques residenciais, quase esgotando o total de outorga onerosa negociado para o Capão. Corretor da Gafisa, Silvano Lima afirma que a chegada do metrô, em outubro de 2002, mudou a região. Ele diz que famílias do Morumbi estão indo para o bairro vizinho mais pobre. "Uma gama de investimentos veio com o metrô. E o apartamento de 90 m² no Morumbi tem condomínio de R$ 600. Aqui no Morumbi Sul, sai por R$ 300 e tem a estação ao lado. As pessoas querem mais espaço e metrô, nem que isso custe uma mudança para um bairro menos nobre", defende o corretor. No guia de ruas de São Paulo, o que ele chama de "Morumbi Sul" é a Vila Prel, uma das dezenas de favelas da área que começaram a dividir a paisagem com torres de 18 andares.

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