Carga de urânio preocupa ambientalistas de Salvador

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Por Agencia Estado
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Um carregamento de 96 toneladas de concentrado de urânio, conhecido também como "yellow-cake" que deve ficar alguns dias, no Porto de Salvador, preocupa portuários e grupos ecológicos da capital baiana . A carga não foi embarcada na data prevista num cargueiro de bandeira alemã e terá de ficar armazenada no cais pelo menos até a terça-feira. Extraído pela Indústria Nuclear Brasileira (INB) no município de Caetité, a 756 quilômetros de Salvador, onde opera a única mina de urânio do Brasil, o carregamento deveria seguir ontem para o Canadá onde passaria por processo de enriquecimento e retornaria ao Brasil para ser utilizado como combustível das usinas nucleares Angra I e II, no Rio de Janeiro. No entanto, um desentendimento entre a operadora marítima, contratada para realizar o transporte e a companhia dona do cargueiro alemão Conte Málaga impediu o embarque. Como seria mais trabalhoso e arriscado retornar com o concentrado de urânio para Caetité, para esperar um novo cargueiro, a INB com a autorização da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) decidiu manter a carga no porto. Ela está acondicionada em tonéis lacrados de 200 litros em sete contêineres nas carrocerias das sete carretas que fizeram o transporte entre Caetité e Salvador. Segundo os técnicos responsáveis pelo transporte e guarda do material, como o urânio encontra-se em estado bruto, apresenta baixo índice de radiação. Oito funcionários do INB vigiam o carregamento 24 horas por dia. As carretas encontravam-se até a tarde de hoje no pátio de embarque do porto, próximas ao prédio da administração da Companhia Docas da Bahia (Codeba), mas seriam levadas para uma área mais reservada por medida de segurança. Preocupados, representantes do Ministério Público Federal e organizações não -governamentais (ongs) ecológicas como o Grupo Ambientalista da Bahia (Gamba) passaram a manhã de hoje no porto, procurando informações sobre eventuais riscos para a população de Salvador. "É muito preocupante pois apesar da carga aparentemente ter baixo índice de radiotividade a gente nunca fica tranqüilo quando se trata de um material como o urânio", disse Renato Cunha, presidente do Gamba. Ele conversou com vários portuários e descobriu que eles não estão preparados para manipular esse tipo de carga. "O porto também não tem nenhum plano de emergência para o caso de um acidente, como prevê o Cnen, o que torna a situação mais intranquilizadora", reclamou. O Gamba sempre foi contra a exploração da jazida de urânio em Caetité e o uso da energia nuclear. "Nós estamos no na contra-mão da história nesse campo", disse.

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