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Carioca amplia folia com ''''rodízio de blocos''''

Jovens trocam dicas pelo celular para pular de um desfile para outro

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Por Redação
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A estudante Natália Loureiro, de 22 anos, e amigas formam um bloco dentro de blocos. De Mulher Maravilha ou de noivas, saíram no Carmelitas e se programam para o Céu na Terra, Boitatá e Empolga às 9. De bloco em bloco, o carnaval de Aline Mac Cord, de 32 anos, começou há 20 dias. Além de ser organizadora do Boi Tolo, um dos poucos "não-profissionais" do Rio, ela já participou do desfile do Suvaco de Cristo e de outros, nos últimos fins de semana, e tem longo roteiro a cumprir. "Este ano estou selecionando. Só vou nos que saem pela manhã, onde a muvuca é menor", diz Aline, que toca tamborim na bateria do Boi Tolo. O comportamento é cada vez mais comum. "Celular é necessário. Quando está acabando um bloco, a gente liga para os amigos para ver onde está mais legal", afirma. Para o compositor Mauro Diniz, campeão do Festival Nacional de Marchinhas deste ano, tem a ver com o caráter democrático do carnaval de rua. "Antes da retomada dos blocos, o carnaval era só Sambódromo. Quem não podia desfilar, não brincava. A tônica da festa havia sido abandonada, que é a diversão, a galhofa com o governo. Com os blocos, voltou o espírito carioca. Os ?blocos de sujos? estão abertos a todos, não é preciso pagar abadá", afirma Diniz, um dos diretores do novato Bloco dos Cachaças. E a galhofa já está presente nos nomes: Rola Preguiçosa, É Mole Mais É Meu, Vem Ni Mim Que Sou Facinha, Chupa Mas Não Baba e A Rocha - há novidades, como o Me Beija Que Eu Sou Cineasta, que vende pulseirinhas azuis, que identificam quem quer beijar só homem; vermelhas, para quem beija só mulheres; verdes, para quem beija ambos; e pretas, as mais vendidas, para quem beija "qualquer coisa que respira". Mas os mais famosos criaram estratégias para evitar multidões. Não divulgam horário ou fazem coincidir seus desfiles com outros mais procurados. É o caso do Céu na Terra, animado por orquestra com 50 músicos, que desfila por Santa Teresa na manhã de sábado, mesmo horário do Bola Preta, o mais antigo da cidade, que completa 90 anos e reuniu 200 mil foliões no centro, em 2007. "Não temos patrocínio nem cordões de isolamento. Para pagar as contas, vendemos nossos CDs durante o desfile", diz Wesley Brust, um dos produtores da Orquestra Céu na Terra. A bateria do Carmelitas, que também desfila em Santa Teresa, ontem começou às 16 horas, quando a previsão era o fim da tarde. Mesmo assim, reuniu mais de 3 mil pessoas. "O cartunista Loredano um dia disse: ?O Carmelitas era o bloco em que eu encontrava os amigos. Agora, é onde eu perco?. Santa Teresa não comporta 20 mil pessoas", conta Alvanízio Damasceno, o Xazinho, um dos organizadores. Esse esconde-esconde levou à criação do Boi Tolo. Em 2006, 400 foliões chegaram à Praça XV e descobriram que o Boitatá não sairia. Uma gaiata escreveu "Boi Tolo" numa cartolina, prendeu num tridente, e estava criado o bloco. É dos poucos sem patrocínio. As camisetas são pintadas a mão, uma a uma. Não tem carro de som. "Quem quiser, traz seu instrumento e toca. Nossa única promessa é que, mesmo que chova ou tenha final de Copa do Mundo, a gente desfila", diz Aline Mac Cord. PROFISSIONALIZAÇÃO Para Rita Fernandes, presidente da Sebastiana, organização que reúne os blocos mais tradicionais da cidade, a profissionalização se impôs. "Houve uma explosão de público a partir de 2005. Os problemas apareceram: multidões, segurança, trânsito, carro de som que não atende mais a tanta gente. Tivemos de nos unir para nos ajudar", explica. Os blocos ligados à Sebastiana, este ano, tiveram patrocínio da Ambev. O Azeitona sem Caroço, que sai no Leblon, vende camisetas pagas por uma rede de bares. "É para pagar os músicos, segurança", diz José Otávio Ferreira, o Azeitona.

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