Carpideira, Rainha dos Garis brilha na avenida

Fazer limpeza da pista vira orgulho

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Eles não pertencem a nenhuma escola de samba. Mesmo assim, depois de 14 desfiles, transformaram-se no casal mais conhecido e aplaudido do Sambódromo de São Paulo. O mestre-sala dos garis Julio Maria dos Santos, de 25 anos, e sua rainha Ita Rocha, de 56, surgiam na pista no final de cada desfile, mostrando mais samba, energia e animação que muito carnavalesco profissional. Percorriam a passarela de ponta-a-ponta, sempre seguidos de uma ala especial: um time de 90 garis de vassouras e lixeiras à mão que limpavam o chão para que a próxima escola entrasse sem problemas. Desde 2007, a hora da limpeza foi transformada num espetáculo à parte. "E a idéia surgiu para resolver um problema com os garis, que se sentiam constrangidos em varrer o chão da pista com o Sambódromo cheio", conta Ita. "Havia gari que não queria trabalhar no Sambódromo por causa disso. Acho que se sentiam humilhados. Hoje, acontece o contrário. Há quem não falte o ano inteiro para ser escalado nesses dias. Virou uma espécie de prêmio." É o caso do gari José Filismino da Silva, de 54. "Nessa época, trabalho e me divirto ao mesmo tempo." Ita foi a primeira a entrar no projeto. Baiana e com samba nas veias, ela foi encarregada de selecionar um gari que pudesse dar conta do recado. "Fui escolhido entre 90 homens", gaba-se Santos. Viúva há dez anos, ela trabalha de carpideira. E gosta do que faz. É uma profissão que vem de família. A avó ensinou para a mãe, que ensinou para Ita. "A carpideira é uma figura importante. Tem gente que morre sem deixar ninguém que chore por ela. Isso, sim, é triste. Por isso sou chamada. E choro muito", diz.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.