Casa das Rosas reabre hoje com rave cultural

Local terá 17 atividades gratuitas, além da inauguração de biblioteca com acervo de Haroldo de Campos

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Por Humberto Maia Junior
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Hoje à tarde, Frederico Barbosa, de 46 anos, vai cumprir uma promessa feita involuntariamente em 1993. Diretor do Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, na Casa das Rosas, ele inaugura a biblioteca com o acervo pessoal de 20 mil livros do poeta concretista no casarão da Avenida Paulista. Qualquer pessoa poderá consultar gratuitamente obras de Joyce, Goethe, Maiakovski e Ezra Pound com anotações feitas por Haroldo. Há 14 anos, Barbosa publicou um livro de poesia na coleção Signos, editada por Haroldo. Realizou um sonho. Admirava o poeta concretista desde a infância - guarda até hoje uma foto dos dois juntos, tirada quando tinha 10 anos. Na dedicatória, escreveu: "Para Haroldo e Carmen (mulher de Haroldo), na certeza de que, como impossível dedicatória, fica a dedicação de toda minha vida." Para comemorar, haverá uma rave cultural. Das 14 às 7 horas de amanhã, 17 atividades culturais - entre peças, musicais e recitais. A atividade termina com café da manhã - tudo gratuito. "A idéia é passar a noite com arte e fazer um contraponto com a imagem que se tem de uma rave, algo desregrado." A Casa das Rosas será reaberta com novo sistema elétrico, hidráulico, rampa e elevador e sistema de iluminação da fachada - projeto de Rafael Serradura. "É um presente para São Paulo." Para inaugurar a biblioteca, foram necessários quase três anos para catalogar as obras. Quase todas com anotações feitas por Haroldo, que também era tradutor. Algumas são curiosas, como as notas nas páginas de O Tupi e o Alaúde, de Gilda de Mello Souza, em que ela faz uma crítica negativa a um dos livros de Haroldo, Morfologia do Macunaíma. "Cada uma das páginas tem o equivalente em anotações ao conteúdo da própria página", explica Barbosa. Num trecho, Haroldo classifica como "inocente" a leitura de Gilda da obra de Mário de Andrade. Segundo Barbosa, as universidades americanas de Princeton e Yale quiseram comprar a biblioteca do poeta concretista. Mas a família do autor preferiu doá-la ao governo estadual - um presente para Barbosa, que considera o trabalho na Casa das Rosas como uma missão. Ele lembra que, quando assumiu o cargo, em 2004, não havia funcionários na casa. Teve de contar com voluntários, até que alguns fossem contratados. Hoje, são 15 funcionários. "Cansei de limpar os banheiros nos fins de semana", recorda. Recuperada, a casa chega a oferecer 20 cursos por mês - de poesia, literatura, cinema, entre outros assuntos. Cada um recebe uma média de 50 alunos, que pagam normalmente R$ 10 de taxa de inscrição. "Acredito que estou cumprindo o que eu tinha escrito", diz Barbosa, às vésperas da inauguração. "Acho que o Haroldo ficaria satisfeito."

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