Casa de Detenção ficará aberta para visitação por 30 dias

Dos 170 mil presos que passaram pela Detenção em 46 anos, 1.300 foram assassinados

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Por Agencia Estado
Atualização:

Entrar na Casa de Detenção, andar pelos pátios, penetrar nas antigas igrejas, nas celas coletivas divididas por até 12 presos, subir e descer as escadarias de seus pavilhões. Durante um mês, será possível visitar o presídio do massacre dos 111 presos e da megarrebelião do Primeiro Comando da Capital (PCC). O governo promete abrir a Detenção à visitação pública do dia 20 até 20 de outubro, quando serão demolidos três de seus sete prédios, primeiro passo para a criação do Parque da Juventude, planejado para substituí-la. O secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, afirmou que as visitas, em grupo, terão guias da secretraria, que contarão a história do presídio aos visitantes. Após a demolição, começará a primeira fase das obras do parque, com a construção de dez quadras poliesportivas e uma pista de cooper numa área vizinha da Penitenciária Feminina, que continuará funcionando. Depois, será a vez da parte central do novo parque, que abrangerá a área da antiga Casa de Detenção 2, cuja construção nunca foi terminada, e os 50 mil m² de mata atlântica nativa que o terreno abriga. A última fase prevê a reforma dos antigos Pavilhões 2, 4, 5 e 7, que serão transformados em centros de tecnologia, de formação profissional, de cultura e de organizações não-governamentais. Parte da muralha será conservada para a prática de rapel. É nisso que o governo planeja transformar a Detenção. Leiloados - Inaugurada em 1956 pelo então governador Jânio Quadros, ela foi concebida para abrigar 3.250 presos à espera de julgamento. Na década passada, chegou a ter 8 mil detentos. "Quando comecei a trabalhar aqui, os presos tiravam o boné e colocavam as mãos para trás quando uma visita ou o diretor da prisão passava", disse José Francisco dos Santos, o Chiquinho da Detenção. Época em que os presos mais jovens eram leiloados como mercadorias nos pavilhões para servirem de "mulher" aos mais velhos. A prática durou até os anos 80, quando os presos passaram a receber suas mulheres nas visitas íntimas. Foi em 1982 que ocorreu a primeira grande rebelião na prisão, após uma tentativa de fuga frustrada. Daí em diante houve uma sucessão delas. A mais grave terminou com a tropa de choque da Polícia Militar invadindo o Pavilhão 9 e matando 111 presos, em 2 de outubro de 1992. Foi da Casa de Detenção que partiu a ordem, em fevereiro de 2001, para que 28 prisões do Estado se levantassem na megarrebelião contra a transferência dos líderes do PCC. Nas esquinas das galerias dos pavilhões, os presos montavam bancas onde vendiam de tudo. Faltava quase tudo, de material esportivo a condições de higiene. Sobravam drogas, brigas e mortes. Segundo estimativa da Secretaria da Administração Penitenciária, 1.300 presos foram assassinados na história da Detenção. Ao todo, 170 mil presos passaram pela Detenção em seus 46 anos. O último bonde, como são chamados os caminhões de transporte de presos, saiu hoje, marcando o fim do presídio. Vizinhos - A desativação deixou os vizinhos do presídio divididos. A transferência do Carandiru já levou consigo a maior parte dos clientes dos comerciantes da região: funcionários e parentes dos presos. "O movimento já caiu. Provavelmente o bar vai fechar", afirmou Ronildo Andrade de Jesus, que trabalha do Bar e Lanches Nova Cruzeiro do Sul. Para o frentista Nelson Moraes, o fim da Detenção vai ser maravilhoso. "O visual do bairro vai mudar." Um visual que para se tornar realidade custou R$ 100 milhões ao governo.

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