Casa do Periquito vira sítio arqueológico

Feita em taipa de pilão no século 19 e hoje em ruínas, imóvel deve revelar detalhes sobre colonização alemã em SP

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Por Lais Cattassini e JORNAL DA TARDE
Atualização:

Construída no fim do século 19, uma casa de taipa de pilão, agora em ruínas, será objeto de estudo arqueológico da Secretaria Municipal da Cultura, em parceria com a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo. O espaço é conhecido como Casa do Periquito e estava de pé até a década de 1980. A invasão das plantas e a ação das chuvas destruiu a estrutura. Somente em 2003 a Secretaria do Verde, que se preparava para criar a Área de Proteção Ambiental (APA) Bororé-Colônia, tomou conhecimento do lugar e deu início à preservação do espaço. Em 2004, a casa foi tombada pelo patrimônio histórico. Árvores que ameaçavam destruir ainda mais a estrutura foram retiradas do entorno da edificação e uma tenda para proteger as paredes, feitas principalmente de barro, foi colocada no local. Para impedir que as ruínas sejam ainda mais deterioradas, procurou-se a Secretaria de Cultura para realizar um estudo arqueológico e transformar a casa em um espaço para a comunidade, possivelmente um museu da imigração alemã. Existem apenas 11 casas de taipa de pilão no município de São Paulo. "São achados importantes, cada vez mais raros", explica a arqueóloga Lúcia Juliani. Segundo ela, acreditava-se que todas as casas do tipo já haviam sido encontradas na década de 1950. "Para as comemorações do quarto centenário da cidade, investiram bastante para recuperar o passado de São Paulo." A descoberta da Casa do Periquito foi uma surpresa para a arqueóloga, mas já era bastante conhecida pela comunidade. "Um primo meu indicou a casa para os pesquisadores da APA. Na região, que eu saiba, é a única construção da época", comenta Celso Glasser Bueno. Foi seu tataravô João Frederico Glasser o construtor da propriedade, que por muito tempo acabou habitada por sua família. "Pelo que meu avô conta, fizeram essa casa em 1870 e a família, que era muito grande, morou na residência. Quando eu era criança ainda, brincava dentro da casa." RESTAURO A parceria entre as secretarias dará início à pesquisa e escavação arqueológica. Terminado o estudo, que segundo Lúcia deve durar cerca de um mês, começará o processo de restauro. Caberá ao arquiteto contratado determinar se toda a área será reconstruída ou se as ruínas ficarão expostas. "Sabendo como a casa era antigamente, podemos reconstruir o que ruiu sem danificar o patrimônio", explica a arqueóloga. A região onde se encontra a Casa do Periquito, em Parelheiros, extremo sul de São Paulo, é rural. Os habitantes - a maioria descendente de alemães - sustentam-se com a exploração da terra e lutam pela preservação do local com a proteção da APA. A criação de um museu para resgatar a história da imigração alemã é, portanto, a ideia mais aceita pelos integrantes do conselho da associação. "A colônia aqui é a mais antiga do Brasil. O restauro da casa e a recuperação dessa história também serão feitos com a educação das crianças e dos moradores da região", conta o gestor da Área de Preservação Ambiental local, Luiz Sertório Teixeira. A participação dos moradores no processo de pesquisa arqueológica e criação de um centro para resgatar a memória da região deverá promover a cultura e garantir a valorização e preservação da casa. "Como é uma zona rural, os moradores se sentem excluídos. É importante o envolvimento do público para a educação patrimonial e o cuidado com a estrutura", declara Lúcia. COMO É A TÉCNICA Raridade: Restam apenas 11 casas de taipa de pilão no Estado. A técnica de origem portuguesa consiste em prensar barro entre placas de madeira e costumava ser usada em propriedades rurais. Mais resistente do que construções de tijolo, as casas tinham arquitetura simples, com plantas quadradas. Os locais mais comuns de construção ficavam próximos a rios. Por cima da madeira, era realizado um revestimento de argamassa de barro e caco de telha. As paredes costumavam ser largas, com cerca de um metro.

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