Casas populares construídas pela Prefeitura de SP têm problemas

Moradores realocados pelo Programa de Urbanização de Favelas reclamam de situação de áreas de lazer e de danos estruturais em prédios

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Por Camila Brunelli e Juliana Deodoro - O Estado de S. Paulo
Atualização:

SÃO PAULO - As moradias populares construídas pela Prefeitura estão longe de ser o que os ex-moradores de favelas e casas de aluguel sonhavam. Rachaduras nos prédios, azulejos dos banheiros e cozinhas trincados ou caindo, esgoto que deságua em córregos e áreas de lazer abandonadas são cenários das periferias de São Paulo.

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O Programa de Urbanização de Favelas é o tema da terceira reportagem mensal da série que o Estado publica sobre o plano de metas de Gilberto Kassab (PSD): a Agenda 2012. A meta 17 é "atender 85 mil novas famílias" no programa. Os moradores dizem estar satisfeitos de morar em residências com luz, água e esgoto encanados (embora em cinco das 15 comunidades visitadas os resíduos sejam despejados em córregos), mas reclamam do abandono depois da entrega das obras.

No conjunto do Jardim Olinda, em Campo Limpo, na zona sul, há lixo no córrego e as praças dos arredores estão tomadas de mato alto e entulho. O Jardim Irene 2, no Capão Redondo, está na mesma situação. O mato quase toma os aparelhos de ginástica e a maioria dos equipamentos está quebrada ou com peças faltando. Jurandir Ferreira, de 54 anos, contou que as paredes do apartamento estão com manchas que parecem de gordura. "Estranho, porque não é na cozinha, é na sala. Até atrás dos armários do quarto há manchas."

Na região do Dois de Maio, em São Mateus, na zona leste, a área de lazer também está cheia de mato alto. No Jardim Damasceno, na Brasilândia, zona norte, o córrego não foi canalizado e tem cheiro de esgoto.

Improviso. Em alguns bairros, a comunidade tomou a frente da manutenção das áreas de lazer. Quando a reportagem chegou ao Parque Fernanda I, no Capão Redondo, os moradores estavam limpando o local. Eles disseram que pessoas de fora frequentam a área à noite, usam drogas e quebram os equipamentos. "De noite isso é uma barulheira, ninguém consegue dormir, porque entra até moto. Queremos que seja fechado só para os moradores", disse o motorista Marcos Sales, de 36 anos.

Em outros locais, o problema é a estrutura do prédio. Na obra da Gleba A de Heliópolis, no Sacomã, na zona sul, há rachaduras nas paredes. Na comunidade do Vergueirinho, em São Mateus, na zona leste, há, além das rachaduras, infiltrações nas paredes, assim como no Jardim Celeste V, no Sacomã. Por lá, as bombas de água só funcionam manualmente. "Não consigo dormir, porque a qualquer hora, morador bate na minha porta falando que acabou a água", explica a subsíndica Sedileibe Penteado, de 49 anos. As paredes mofadas do apartamento prejudicam a saúde da bebê de Areta da Silva, de 23 anos. "Ela espirra muito."

No Dois de Maio, em São Mateus, os azulejos da cozinha e do banheiro estão ocos e alguns já caíram ou estão trincados. Depois que os azulejos do banheiro e da cozinha de sua casa no Inácio Monteiro, em Cidade Tiradentes, caíram, a auxiliar de serviços gerais Maria do Socorro Dias, de 35 anos, reclamou para a Prefeitura. Em três meses, o problema foi resolvido. "Colocaram o mesmo azulejo, mas o rejuntamento é bem melhor. Podiam ter feito assim da primeira vez."

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Apesar dos problemas, a maioria não sairia de casa. O pedreiro José Maria Paulino dos Santos, de 61 anos, está feliz com o apartamento no Dois de Maio. "Na minha antiga casa não conseguíamos dormir porque os ratos ficavam andando no teto."

Bom estado. Em algumas das comunidades, a Prefeitura havia realizado as obras prometidas e os arredores ainda estavam preservados, como no Jardim das Rosas, no Capão Redondo, e na Gleba N de Heliópolis, no Sacomã. Também o Recanto dos Humildes, em Perus, o Conjunto Habitacional City Jaraguá, em Pirituba, na zona norte, o Jardim Nazaré, no Itaim Paulista, e o Inácio Monteiro, em Cidade Tiradentes, ambos na zona leste, estavam em boas condições.

 

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