Casal Alvarenga depõe em Campinas

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

No primeiro depoimento à Justiça, nesta quarta-feira à tarde, Alexandre Alvarenga, acusado de tentativa de assassinato contra os dois filhos, afirmou que não se recorda de ter praticado o crime, apontou um histórico de problemas cerebrais em sua família e pediu ao seu advogado, Luiz Henrique Cirilo, para cuidar de sua mulher, Sara Maria Rosolen Alvarenga. ?Os policiais judiam, cuidado com a Sara?, disse baixinho ao advogado no final de seu depoimento, que durou cerca de 20 minutos. Sara depôs antes de Alvarenga e levou apenas 10 minutos para contar sua versão do caso. Ela também argumentou não se lembrar dos crimes, ocorridos em 2 de fevereiro. O casal chegou ao Fórum de Campinas pouco antes das 14 horas, horário previsto para início do interrogatório. Ela foi transferida junto com outra detenta, às 13h45, e ele com presos do Centro de Detenção Provisória de Hortolândia. Um aparato de 32 policiais foi destacado para cuidar principalmente da segurança do casal. A polícia temia agressão de populares. Pelo menos 200 pessoas aguardaram a chegada e saída de Sara e Alvarenga do lado de fora do Fórum, manifestaram-se com xingamentos e vaias. Os dois permaneceram em salas separadas no Fórum e não se falaram. A audiência teve início às 15h30, com uma hora e meia de atraso. Sara foi a primeira a depor, conforme ficou decidido em sorteio. Ela contou que o casal e os filhos haviam saído da casa da tia de Alvarenga, onde almoçaram, para dar um passeio. Relatou se lembrar da batida do automóvel, disse que estava no banco de trás e abraçou as crianças para protegê-las do impacto. Amigos da família contaram que a filha do casal, de seis anos, teria mostrado um desenho para o pai, o que o teria feito perder a direção do veículo. Sara não se referiu a isso no depoimento. Disse se recordar de Alvarenga gritando para ela sair do carro. Obedeceu e desceu de mão dada com a filha e com o menino de 1 ano no colo. Segundo depôs Sara, Alvarenga pediu que corresse e ela reclamou que o bebê estava pesado. Ele lhe tirou o menino dos braços e correu com o filho no colo, contou a mulher. Depois disso, ela disse se lembrar apenas de um tumulto em volta deles. Contou que só se deu conta do que tinha acontecido na prisão. ?Estava morta no hospital, sem sentimento?, disse. Sara disse que o marido ?sempre amou muito? os dois filhos. ?Não consigo aceitar ter acontecido isso com os meus filhos?, disse várias vezes. ?Por eu não me lembrar, sinto que não estava lá?, afirmou, referindo-se ao crime. Como Alvarenga, no depoimento posterior, Sara garantiu que nunca usou drogas, não bebe e não freqüenta nenhuma seita. Ela e o marido disseram que participaram de um grupo de orações católico carismático chamado Leão de Judá. Sara permaneceu controlada durante todo o depoimento, mas estava muito abatida. Descontrole Já Alvarenga, além de abatido, se descontrolou várias vezes durante seu depoimento e chorou bastante. Ele foi chamado para depor às 15h45, disse se lembrar de ter almoçado com a família e saído para um passeio. Afirmou que nada de anormal havia acontecido no dia do crime. O acusado negou ter acessado seitas religiosas na internet e afirmou não se lembrar do que disse quando atirou o filho em frente a um veículo em movimento. Testemunhas relataram que ele teria feito referências a satanás. A pedido de Cirilo, o juiz Maurício Guimarães questionou Alvarenga e Sara sobre problemas psiquiátricos na família dele. Sara disse ter sido informada por uma irmã, médica, de que a irmã do marido tem oligofrenia, retardo mental, e a mãe, má formação de vasos na cabeça. Alvarenga relatou que a mãe teve duas crises graves, quando ?filmes passaram na cabeça? dela e quase teve de se submeter a cirurgia; e a irmã é deficiente mental desde o nascimento. ?Ela já foi violenta, mas o médico deve ter acertado a medicação?, alegou. Ele não quis falar sobre a morte do pai, em um acidente de trabalho, ocorrida quando ele era criança. ?Preciso falar??, respondeu chorando ao ser questionado pelo juiz. O promotor Marcos Tadeu Rioli perguntou ao acusado se ele havia tido outros lapsos de memória, Alvarenga negou. O advogado de Sara, Pedro Renato Marcelino, quis saber dele como era a relação da mulher com os filhos. ?Que eu posso falar? Todo mundo já julgou a gente, não tem o que falar. Minha mulher não tomava nem remédio para dor de cabeça quando estava grávida?, disse Alvarenga. Os advogados e o promotor consideraram que os depoimentos não alteraram significativamente os rumos do processo. O juiz irá decidir se autoriza a realização do incidente de insanidade mental, um exame psiquiátrico detalhado, solicitado por Cirilo para Alvarenga um dia depois do crime. Caso isso ocorra, o processo permanecerá suspenso por 45 dias. Marcelino disse que também pedirá o exame para sua cliente. Se o juiz não autorizar o incidente de insanidade, no dia 26 de março está marcada a audiência de testemunhas de acusação, sete pessoas que presenciaram o crime. Depois de bater o carro e atirar o filho contra um carro em movimento, Alvarenga ainda bateu a cabeça da filha de seis anos várias vezes contra um árvore. Ele é acusado de tentativa de homicídio e Sara, de participação nos crimes. Desencontro Um psiquiatra contratado pela família do acusado, Tercio Tosta, sustentou após os depoimentos que a mãe de Alvarenga é epiléptica e ele demonstrava ter sofrido um surto psicótico epiléptico antes dos crimes. Tosta afirmou que diagnóstico psiquiátrico ?é subjetivo?. A afirmação foi contestada pelo psiquiatra do Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professor visitante da Unversity of Pittsburgh, onde fez pós-doutorado em Neuroimagem e Neuroquímica Cerebral, Acioly Luiz Tavares de Lacerda. Segundo ele, os diagnósticos obedecem a critérios operacionais rigorosos. Lacerda também contestou a teoria de Tosta. Disse acreditar que Alvarenga tenha tido um transtorno dissociativo, desencadeado por um evento estressante e que provoca a dissociação da razão, emoção e sentimento. ?O uso de droga prévia ou a abstinência dela predispõe à crise?, afirmou. O psiquiatra negou que a doença da irmã e da mãe possam ter interferido no quadro de Alvarenga. Mas afirmou que se o diagnóstico for mesmo transtorno dissociativo, o rapaz pode voltar a manifestá-lo e precisa de tratamento psiquiátrico. ?Esse quadro não é comum e não se manifestaria ao mesmo tempo no casal?, argumentou. Para o Lacerda, Sara pode ter se submetido ao marido por influência de drogas ou porque ele exercia uma influência significativa sobre ela.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.