PUBLICIDADE

Casarões de São Luís correm risco de desabamento

Tombado pela Unesco, maior conjunto de imóveis coloniais da América Latina sofre com falta de recursos

Por Ricardo Brandt
Atualização:

O Centro Histórico de São Luís (MA), maior conjunto de casarões coloniais dos séculos 18 e 19 da América Latina, sofre com o abandono e a falta de recursos para sua preservação. Tombado pela Unesco há 10 anos como Patrimônio da Humanidade, 10% dos casarões estão esquecidos e em condições estruturais precárias. São grandes sobrados feitos em proporções superlativas e carregados de marcas da rica história de formação da capital maranhense - iniciada por franceses, colonizada e erguida por portugueses e invadida por holandeses. O apontamento é de um levantamento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que listou 133 imóveis tombados nessas condições e 35 com riscos de desabamento ou já em ruínas. Como não fazem parte das listas de imóveis recuperados que viraram ponto de visitação, como o Convento das Mercês, um dos marcos da fundação, muitas dessas construções ficaram relegadas à própria sorte, à espera de uma fatalidade para que, assim, a Justiça obrigue o Iphan a recuperá-las. Apesar de tombados, muitos desses casarões podem vir abaixo antes mesmo que um estudo detalhado aponte quem foram as primeiras famílias que os habitaram ou se foram pontos de referência do antigo centro. O casarão de número 476, na Rua do Giz - uma das três vias principais que constituem o traçado urbano do centro antigo da cidade -, é o melhor exemplo do problema. Sua monumental fachada, símbolo da riqueza de outra época, se esconde atrás da estrutura de madeira cruzada que a mantém em pé, evitando que o que sobrou desabe sobre a casa da dona Raimunda Bastos Reis, de 62 anos (veja na próxima página). ALTO CUSTO A maioria desses imóveis é particular. Os donos relutam em executar as obras, devido ao elevado custo de restauração, que deve seguir critérios rígidos de preservação. "O problema, em São Luís, é que tudo é gigantesco. São edificações de mais de mil metros quadrados, de um período de muita riqueza", explica a superintendente do Iphan no Maranhão, Kátia Santos Bogéa. Os azulejos portugueses estão por todos os cantos, as paredes têm mais de 60 centímetros de espessura, os adornos são excessivos. "A decadência econômica fez com que outras pessoas fossem se apoderando desses casarões, e elas não tinham mais condições financeiras de mantê-los", conclui Kátia. O problema financeiro, no entanto, nem sempre é o determinante para o abandono dos casarões. Um exemplo disso é o "Casarão Amarelo", como é conhecido, da esquina das ruas do Giz com a Humberto de Campos. O imóvel, que acaba de ser vendido, pertencia à abastada família Murad, do marido da ex-governadora Roseana Sarney, Jorge Murad. O prédio está abandonado há anos e, como outros, ainda precisa passar por um processo de estudo detalhado de sua origem e história. O próprio senador José Sarney (PMDB-AP) é proprietário de um imóvel entre a Rua da Palma e a Rua da Saúde que desabou depois que ele comprou. Por força da Justiça, ele foi parcialmente recuperado pelo Iphan, que gastou R$ 84 mil. Na esquina da Rua Palma com o Beco da Pacotilha, um sobrado do ex-prefeito Mauro Fecury também está abandonado. Falta de resguardo legal não é. O Centro Histórico de São Luís já passou por três processos de tombamento. O do governo do Estado, que abrange uma área de 5.300 imóveis, o da União, em uma área de cerca de 1.100 casarões, e o da Unesco, que engloba 1.400 prédios.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.